[RESENHA] Manson, A Biografia, de Jeff Guinn

Ano de lançamento: 2014
Editora: DarkSide
Páginas: 520
Nota: 5/5
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"Vinde então, e argui-me, diz o senhor:

ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata,

eles se tornarão brancos como a neve; 

[...] Mas se recusardes, e fordes rebeldes,

sereis devorados à espada; porque a boca d Senhor o disse"
(Isaías, Cap. 1, Vers. 18-20)


As pessoas nascem más ou, a sociedade é que vai moldando o caráter do ser humano? Ou, talvez não exista mal ou bem absoluto e tudo seria, parafraseando Paulo Coelho, "faces opostas da mesma moeda"?  Para muitos psicólogos há um conjunto de fatores internos e externos ao individuo que determinaram como será sua personalidade. Porém, para outros tantos, exitem alguns que nascem predestinado a serem o que são. Na ótima "Manson, A Biografia", Jeff Guinn consegue, através de extensa pesquisa, mostrar que Charles Milles Manson se enquadra em ambos.

Antes dos assassinatos que ficaram conhecidos como massacre Tate-LaBianca, Mason havia passado por uma infância difícil. Sua mãe, Kathlle Maddox desvencilhou-se da "amarras" religiosas que a mãe lhe impusera e viveu uma vida cheia de álcool e sexo. Pensando ter encontrado o homem certo, engravida de Charles, porém o pai sumiu. Charles passa a ser criado por uma mãe ausente  o que talvez refletiu-se em sua personalidade sombria e calculista. Passa a cometer vários delitos e acaba por viver grande parte de sua vida jovem em centros de reabilitação para menores. Quando adulto, cumpre uma pensa maior,   e no momento de sair da cadeia, Manson se recusa a sair uma vez que passou a maior parte da vida na cadeia e tem medo do que encontrará lá fora. Logo esse medo passa e Manson está pronto para os lado de fora das grades. Sonhando em ser um Rock-Star, Manson queria à todo custo ser famoso e não pouparia esforços para isso. 

Ícone da cultura pop, Charles Manson é daquelas figuras que despertam repulsa, nojo, raiva e paixão. Um ser carismático que conseguia como poucos cativar pessoas. Usou de seu "dom" para manipular pessoas visando único e exclusivamente seu bem pessoal. Jeff Guinn trás à tona nuances da personalidade de Manson bem como sua relação com seu seguidores, denominados Família Manson.

Composta basicamente por mulheres - mas não somente, o baterista dos The Beach Boys, Dennis Wilson foi um deles - a Família Manson tinham na figura de seu guru não apenas uma libertação e ressonância espiritual. Encontraram também alguém que entendia seu anseios e dúvidas apresentando sempre a resposta correta. Claro, como toda fé cega, seus seguidores não enxergavam o lado racista (que ele fazia questão de esconder), psicopata, aprendiz de cafetão, vigarista e megalomaníaco. A ideia de uma vida desapegada proposta por Manson que conflitava com seus planos de ser um famoso roqueiro, não era um paradoxo para seus seguidores. Manson sabia o que fazia. 

Aproveitando da fragilidade de seus membros - via de regra eram jovens que fugiram de casa por não suportarem os pais, assim como ele, Manson soube tecer em volta de si uma áurea mágica que para seus seguidores mais fiéis, ele era a reencarnação de Jesus Cristo. Não havia ninguém mais importante que seus seguidores, além claro, dele mesmo. Sendo assim, só restava uma adoração absurda ao guru: todos faziam o que ele mandava. Comiam como ele mandava, drogavam-se quando ele mandava, vestiam-se como ele mandava, transavam com quem ele mandava - inclusive o sexo era algo a ser praticado sempre que Manson ordenasse e com quem ordenasse - e posteriormente mataram quem ele mandava.

Juntando passagens cristãs - principalmente o Apocalipse - ao best seller de Dale Carnegie, "Como fazer amigos e influenciar pessoas", Cientologia e, nada mais nada menos que os Beatles, Manson professava a vinda do fim dos tempos tendo início em um confronto racial entre negros e brancos deflagrada pelos primeiros. Os EUA viviam um clima de tensão racial onde os negros faziam manifestações - alguma violentas - na ânsia de alcançarem uma sociedade mais igualitária. Manson não via isso com bom olhos e creia que eles começariam um Armagedon.  Tal evento foi denominado por Manson de Helter Skelter. Sim, sim, aquela música dos Garotos de Liverpool que para muitos foi o principio do heavy metal, soou como um presságio para Manson. E após esse conflito, a família, que estaria refugiada em um túnel no deserto, voltaria a sociedade a reinaram sobre todos.        

Jeff Guinn não foca sua pesquisa apenas em Manson e seus seguidores. Ele faz um retrato impressionante da América dos anos 60. O sonho Hippie de paz e amor, os confrontos raciais que varriam o país, o assassinato de Kennedy, tudo isso polulando por uma juventude que despertava da apatia regando seus sonhos a muito Rock, sexo e drogas. Tudo serve pra mostrar o contexto histórico e político complexo e rico que vivia-se naquela época.

Como os eventos previstos por ele não aconteciam, Manson decidiu que cabia a ele e sua família o dever de iniciar Helter Skelter. Nos dias nove e dez de agosto de 1969, Manson ordena que seus seguidores cometam duas chacinas que ficaram conhecidos como Caso Tate-LaBianca. Os crimes chocaram pelo requinte de crueldade e por ter entre as vítimas Sharon Tate. Atriz que despontava em Hollywood, esposa do diretor Roman Polanski que não se encontrava no local.   A atriz estava grávida de oito meses e que tornou tudo mais surreal.  

Manson, A Biografia, não é só a história de um psicopata, mas também de parte da história dos Estados Unidos e de como nos comportamos ante aqueles que julgamos serem os detentores da verdade: anulamos nosso senso crítico e deixamos que outros nos digam o que é o certo e o errado. Se as palavras vieram de alguém com ligações divinas, maior o grau de comprometimento de nossa parte.    

Manson, o garoto que sonhava em ser famoso e de crescimento difícil é um retrato do sonho americano que não deu certo. Mas as barreiras impostas à ele nunca foram o suficiente já que ele era o escolhido. Nada poderia barra-lo. Ser popular através da música não foi possível, sendo assim, ele escolheu outra forma de mostrar ao mundo que sua vida não passaria em branco. Mesmo que precisasse marcar seu nome na história com sangue.

Boa leitura.


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