Muito
do que se discute hoje em ciência é a implicação da consciência. Muitos debates
sobre a questão do aborto – além de pressupostos religiosos – é o embate em
saber se crianças que ainda não nasceram tem consciência ou não. Muitos olham
para o futuro da Inteligência Artificial com um certo receio: e se as máquinas,
tomando consciência do seu poder, resolvessem dominar a Terra acabando com os
humanos? Esses dois exemplos servem para
ilustrar o quão forte é o impacto da noção de consciência tanto em nós humanos
e, num futuro talvez não muito distante, nas máquinas.
Escrito
em 1968, “Androides sonham com ovelhas elétricas?”, é uma ficção científica escrita por um dos gênios da área, Philip K. Dick. É o livro que serviu de
base para um dos maiores cults do cinema
de ficção cinetífica: “Blade Runner: o caçador de
Andróides”, dirigido por Ridley
Scott. Apesar de ambas apresentarem o mesmo escopo, em alguns pontos elas
são bem distintas. Ainda assim, conseguem trazer à tona questões filosóficas e
ideológicas que, em nenhum outro tempo da história, foi tão necessária quanto
agora.
O
livro se passa numa São Francisco futurística desolada. Uma terceira
guerra mundial com artefatos atômicos
eclodiu tornando a biodiversidade quase inexistente. Neste cenário que Rick Deckar, um caçador de androides acaba entrando em uma missão para eliminar - o termo usado é aposentar - seis exemplares de um modelo altamente desenvolvido de robos, o Nexus-6.
Antes de qualquer coisa é importante salientar o momento histórico em que o livro foi escrito. Aquela década, 1960, ficou marcada pelo forte antagonismo entre EUA e URRS: a corrida armamentista que teve seu ápice na crise dos mísseis de Cuba, que em 1962 quase culminou com uma Terceira Guerra Mundial, e a corrida espacial com os americanos conseguindo pisar no solo lunar no final daquela década. Esses dois fatores estão muito presentes na obra.
Como toda boa ficção científica, o cenário é muito bem construído. O autor vislumbrou como seria um mundo devastado pela guerra nuclear e isso reflete na biodiversidade escassa, uma atmosfera poluída, pessoas geneticamente prejudicadas pela radiação. Eram todos temores que assombrava a população da época e o autor soube usar muito bem retratando não só como ficou o espaço físico, mas como isso repercutiu em nossa mente.
Mesclado a este temor do hecatombe nuclear, há um vislumbre das possibilidades da corrida espacial. Como a Terra se tornou quase inabitável, parte da população que não foi afetada pela radiação, acabou indo morar em algum ponto do espaço, pois aqui, o que muitos imaginavam possível tornou-se realidade: morar em algum outro lugar que não o planeta Terra.
Todo este cenário do a obra, mesclado a um avanço tecnológico forte, gerou uma espécie de um culto tecnoreligioso onde um ser, Mercer (notou o nome?), é levado a incutir em si aquilo que seria o maior dom do ser humano: a empatia. Inclusive, é um teste de empatia que serve para descobrir se um indivíduo é um robô ou não.
O que surpreende muito na narrativa, para quem viu o filme são os personagens. Apesar de os androides serem uma ameaça, ficam longe de serem tão assustadores quanto os de Ridley Scott. Tanto que a luta final entre Rick Deckar e Roy Batty, que é um dos pontos altos do longa eternizado pelo monólogo do replicante Roy:
não existem nos livros. Na verdade, este duelo final é resolvido de forma bem rápida.
Até a questão que tanto debate gerou no longa, se Deckar era ou não um androide, no livro não tem muito espaço, ficando apenas em algumas páginas para logo ser resolvido. Agora, o que tanto o longa quanto o livro abordam de forma pontual é o papel da consciência e se isso seria ou não suficiente pra afirmar se algo é ou não humano e isso faz com que o título do livro faça todo sentido - por isso usei o primeiro título do livro e não o que ficou homônimo ao do filme.
Como todo ser consciente de sua existência e que tem seus anseios, somo tomados pelos mais diversos desejos e só o pressuposto de que existimos e pensamos na nossa existência como algo real é que faz com que tenhamos esses sonhos e anseios. Deckar sonha em ter um cabra de verdade - a que ele possui é uma bela imitação feita de metal. Ao aceitar o desafio de eliminar os Nexus-6, ele pretende comprar uma ovelha com o prêmio. Indo por essa premissa de anseios de uma mente que sabe que existe, é que é pergunta fica no ar: androides sonham com ovelhas elétrica? E se a resposta for sim, então, os androides eram seres vivos que apesar de uma constituição física distinta da do homem, também mereciam seu lugar na ordem do dia?
Em muitos casos, a realidade já concretizou o que muitos teóricos destilavam em suas histórias. Hoje, mais do que nunca, a ideia de que máquinas possam vir a ter consciência não é mera especulação. Para muitos pesquisadores é só questão de tempo. Como nos relacionaríamos com esse seres? Seremos escravos ou senhores ou, viveremos em pé de igualdade numa sociedade harmônica?
Como toda boa ficção científica, "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas", é daqueles livros que extrapolam a questão da realidade existente e nos impelem a pensar além mas sem esquecer que no final somos apenas humanos.
Boa leitura.
Antes de qualquer coisa é importante salientar o momento histórico em que o livro foi escrito. Aquela década, 1960, ficou marcada pelo forte antagonismo entre EUA e URRS: a corrida armamentista que teve seu ápice na crise dos mísseis de Cuba, que em 1962 quase culminou com uma Terceira Guerra Mundial, e a corrida espacial com os americanos conseguindo pisar no solo lunar no final daquela década. Esses dois fatores estão muito presentes na obra.
Como toda boa ficção científica, o cenário é muito bem construído. O autor vislumbrou como seria um mundo devastado pela guerra nuclear e isso reflete na biodiversidade escassa, uma atmosfera poluída, pessoas geneticamente prejudicadas pela radiação. Eram todos temores que assombrava a população da época e o autor soube usar muito bem retratando não só como ficou o espaço físico, mas como isso repercutiu em nossa mente.
Mesclado a este temor do hecatombe nuclear, há um vislumbre das possibilidades da corrida espacial. Como a Terra se tornou quase inabitável, parte da população que não foi afetada pela radiação, acabou indo morar em algum ponto do espaço, pois aqui, o que muitos imaginavam possível tornou-se realidade: morar em algum outro lugar que não o planeta Terra.
Todo este cenário do a obra, mesclado a um avanço tecnológico forte, gerou uma espécie de um culto tecnoreligioso onde um ser, Mercer (notou o nome?), é levado a incutir em si aquilo que seria o maior dom do ser humano: a empatia. Inclusive, é um teste de empatia que serve para descobrir se um indivíduo é um robô ou não.
O que surpreende muito na narrativa, para quem viu o filme são os personagens. Apesar de os androides serem uma ameaça, ficam longe de serem tão assustadores quanto os de Ridley Scott. Tanto que a luta final entre Rick Deckar e Roy Batty, que é um dos pontos altos do longa eternizado pelo monólogo do replicante Roy:
"Eu
vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de
Órion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão próximos ao Portão de Tannhäuser.
Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva",
não existem nos livros. Na verdade, este duelo final é resolvido de forma bem rápida.
Até a questão que tanto debate gerou no longa, se Deckar era ou não um androide, no livro não tem muito espaço, ficando apenas em algumas páginas para logo ser resolvido. Agora, o que tanto o longa quanto o livro abordam de forma pontual é o papel da consciência e se isso seria ou não suficiente pra afirmar se algo é ou não humano e isso faz com que o título do livro faça todo sentido - por isso usei o primeiro título do livro e não o que ficou homônimo ao do filme.
Como todo ser consciente de sua existência e que tem seus anseios, somo tomados pelos mais diversos desejos e só o pressuposto de que existimos e pensamos na nossa existência como algo real é que faz com que tenhamos esses sonhos e anseios. Deckar sonha em ter um cabra de verdade - a que ele possui é uma bela imitação feita de metal. Ao aceitar o desafio de eliminar os Nexus-6, ele pretende comprar uma ovelha com o prêmio. Indo por essa premissa de anseios de uma mente que sabe que existe, é que é pergunta fica no ar: androides sonham com ovelhas elétrica? E se a resposta for sim, então, os androides eram seres vivos que apesar de uma constituição física distinta da do homem, também mereciam seu lugar na ordem do dia?
Em muitos casos, a realidade já concretizou o que muitos teóricos destilavam em suas histórias. Hoje, mais do que nunca, a ideia de que máquinas possam vir a ter consciência não é mera especulação. Para muitos pesquisadores é só questão de tempo. Como nos relacionaríamos com esse seres? Seremos escravos ou senhores ou, viveremos em pé de igualdade numa sociedade harmônica?
Como toda boa ficção científica, "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas", é daqueles livros que extrapolam a questão da realidade existente e nos impelem a pensar além mas sem esquecer que no final somos apenas humanos.
Boa leitura.
Nota:★★★★★
Livro: Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?
2 COMENTÁRIOS
Excelente dica! Eu vou ler esse livro. O filme Blade Runner é um dos mais interessantes do gênero que eu já vi. Mais que filme de ação, esse é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. Vale muito à pena. No ano passado eu também vi a sequela de Blade Runner filme, acho que se você gosta da história, definitivamente vai gostar este. Se alguém ainda não viu, eu recomendo amplamente. É uma historia cheia de incríveis personagens e cenas excelentes.
Olá Andrea.
Blade Runner figura entre as melhores ficções já feitas e a sequência, Blade Runner 2049 conseguiu manter o alto nível sendo, pra mim, o melhor filme de 2017...
Abraços!!!
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