Ano de Lançamento: 1973 - 1985
Editora: Conrad
Nota: 5/5*
"... 'Agora eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos'¹. Acho que todos nós pensamos isso, de uma maneira ou de outra"
"... 'Agora eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos'¹. Acho que todos nós pensamos isso, de uma maneira ou de outra"
Robert Openheimer
Hoje, dia 06/08/2015 é uma data histórica. Infelizmente por motivos ruins. Há exatos 70 anos, o homem viu um tipo diferente de arma ser usada. Algo que, imaginavam, seria devastador, mas não sabiam o quanto. A arma já havia sito testada, porém, não em uma cidade. Hiroshima (Japão) foi a cidade escolhida.
De início, os habitantes de Hiroshima acreditavam terem sorte pois, a aeronáutica dos Aliados pouco havia atacado a cidade com suas bombas incendiárias – que literalmente infernizaram Tóquio. A cidade estava sendo poupada para que, os americanos, pudessem dimensionar o estrago causado pela Litle Boy (nome dado a bomba atômica em questão) e para isso, precisavam de uma cidade que estive praticamente ilesa.
O Inferno teve inicio às 08:15hr do dia O6/08/1945. Dentre as milhares de vitimas, Keji Nakasawa, uma criança de 6 anos, era um dos habitantes. Depois de anos revivendo, sonhando e lembrando os horrores do que foram aqueles dias, Nakasawa criou uma obra prima.
O Mangá com viés autobiográfico, mostra a vida de Gen (alter ego de Nakasawa) e sua família nos períodos da Segunda Grande Guerra que antecederam o lançamento da Litle Boy até o rendimento de um devastado Japão. Se tivesse que classificar a obra diria que ela é forte, triste, surreal e dolorida.
O volume um, Uma História de Hiroshima, começa mostrando um Japão faminto, pobre, sendo liquidificado pela Guerra. O pai de Gen, contrário a Guerra, acaba tendo problemas com o governo por se posicionar contra. Pois, segundo os Japoneses, o Imperador do Japão era uma espécie de deus na Terra e, sendo ele uma divindade, logo o Japão sairia daquela situação ruim e venceria os demônios americanos.
Desde o inicio vemos a coragem do pai de Gen e todos os valores que ele tenta passar para os filhos. Os traços simples e, muitas vezes, engraçado de Nakasawa serve, talvez, pra contrabalançar toda a carga que trás a história. O autor não poupa o leitor de nada. Em momento algum vemos cenas fortes sendo tratadas de forma metafórica ou indireta. Tudo é mostrado de forma bem clara. Assuntos como fome, suicídio, dor, preconceito e morte são mostrados de um jeito que o leitor não apenas “veja” o que aconteceu mas que sinta tudo aquilo que autor passou.
O que já era triste, consegue piorar. Em O dia Seguinte (volume dois da série) vemos como ficou Hiroshima logo após a bomba. Mais uma vez o autor escancara todo o horror daquela cena surreal. Apesar dos traços leves do autor, aquilo tudo, pra mim, parecia mais uma cena de terror de uma filme sobre zumbi. É difícil conceber que algo que faça aquilo poderia ser usado para fins bélicos. Nakasawa, usando de suas memórias, segundo especialistas em radiação, fez o relato mais fiel dentro da ficção (ficção?) do que acontece após uma explosão nuclear. Eram corpos derretendo, a pele “descolando do corpo”, pessoas morrendo de sede, outras feridas sendo devoradas vivas pelas moscas. Neste ponto específico, fiquei feliz com os traços simples usados pelo autor.
No terceiro volume, A Vida Após a Bomba, a situação de Gen e o que sobrou de sua família fica ainda pior. A luta pra driblar a fome, a sede e a derrota moral ficam mais intensas e difíceis. Seria pouco dizer que dali em diante o que ficou em voga foi a vida pela sobrevivência. Além de que, ninguém sabia que arma era aquela e as implicações que a radiação acarretava. Além da fome, aqueles que sobreviveram a bomba, tem que lutar pra superar o preconceito e o asco daqueles que não foram afetados pela radiação. Até a solidariedade era difícil uma vez que todos estavam precisando de alguma coisa.
No quarto e último volume da série, O Recomeço, as coisas ainda não estão boas para Gen que tende lidar com a perda, a incerteza de futuro e as cicatrizes causadas pela bomba. Mas, é neste ponto que vemos que, apesar de tudo, a esperança consegue pairar sobre aquele cenário caótico e infernal. Mesmo após todo aquele inferno, ainda é possível se reerguer e sonhar que as coisas vão melhorar. Que alguma coisa positiva, como solidariedade e compaixão podem ser usadas pra tornar as coisas melhores ou, ao menos, mais palatáveis.
Gen – Pés Descalços, é daquelas histórias que deveria ser lida por todos aqueles homo sapiens (principalmente nossos governantes) que respiram. Não há como ler as mais de mil páginas e passar incólume. Apesar de relatar um episódio do passado, ela tem implicações atemporais. Não à toa, é usado em muitas escolas americanas. A crítica implícita na obra não se restringe apenas a insanidade do uso de artefatos nucleares para fins bélicos mas, também, critica o Imperador japonês na época, Hihorito, que sendo tratado como um deus, continuou uma guerra há muito sem sentindo fazendo com que, a exemplo de todos os conflitos armados, as pessoas que menos tem a ganhar com a guerra, sejam as que realmente sofram: o povo.
O relato de Keiji Nakasawa, apesar de triste e chocante, não é carregado de rancor mas sim, como um relato de que o que aconteceu em Hiroshima (e Nagasaki), deve ser evitado a todo custo.
Por mais que a história afirme que os Aliados saíram vitoriosos, após ler Gen, é difícil acreditar que alguém realmente saiu vitorioso. Não no sentido moral e ético.
¹Fala de Vishnu, divindade Hindu, presente no livro Bhagavad-Gita.
No quarto e último volume da série, O Recomeço, as coisas ainda não estão boas para Gen que tende lidar com a perda, a incerteza de futuro e as cicatrizes causadas pela bomba. Mas, é neste ponto que vemos que, apesar de tudo, a esperança consegue pairar sobre aquele cenário caótico e infernal. Mesmo após todo aquele inferno, ainda é possível se reerguer e sonhar que as coisas vão melhorar. Que alguma coisa positiva, como solidariedade e compaixão podem ser usadas pra tornar as coisas melhores ou, ao menos, mais palatáveis.
Gen – Pés Descalços, é daquelas histórias que deveria ser lida por todos aqueles homo sapiens (principalmente nossos governantes) que respiram. Não há como ler as mais de mil páginas e passar incólume. Apesar de relatar um episódio do passado, ela tem implicações atemporais. Não à toa, é usado em muitas escolas americanas. A crítica implícita na obra não se restringe apenas a insanidade do uso de artefatos nucleares para fins bélicos mas, também, critica o Imperador japonês na época, Hihorito, que sendo tratado como um deus, continuou uma guerra há muito sem sentindo fazendo com que, a exemplo de todos os conflitos armados, as pessoas que menos tem a ganhar com a guerra, sejam as que realmente sofram: o povo.
O relato de Keiji Nakasawa, apesar de triste e chocante, não é carregado de rancor mas sim, como um relato de que o que aconteceu em Hiroshima (e Nagasaki), deve ser evitado a todo custo.
Por mais que a história afirme que os Aliados saíram vitoriosos, após ler Gen, é difícil acreditar que alguém realmente saiu vitorioso. Não no sentido moral e ético.
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¹Fala de Vishnu, divindade Hindu, presente no livro Bhagavad-Gita.
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