Editora: Intrínseca
Páginas: 208
Nota: 5/5
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"As memórias da infância às vezes são
encobertas e escurecidas pelo que vem depois,
como brinquedos antigos no fundo do armário [...],
mas nunca se perdem por completo"
Pra quem gosta de uma boa fantasia, é comum encontrar livros que apresentam mitologias semelhantes, o que não é nenhum espanto, haja vista a quantidade de livros sobre o assunto que já foram escritos. Neil Gaiman consegue a cada nova empreitada, usar de toda sua mente prodigiosa pra construir mitologias ímpares e, não bastasse isso, consegue ir além de criar algo novo: ele consegue sair do caminho fácil de aproveitar mitologias que ele mesmo criou em livros anteriores e apresentar algo completamente distinto dentro de sua própria bibliografia.
Em "O Oceano no Fim do Caminho", Gaiman nos apresenta um homem (que em momento algum tem seu nome mencionado) que retorna a sua terra natal para um velório. Passa pela sua antiga casa e segue mais adiante onde começa a lembrar de um passado que jazia esquecido na memória e que, talvez, possa ter sido uma dádiva tê-lo esquecido.
Toda a tragédia começou na vida do nosso personagem sem nome quando este tinha sete anos. Um homem, vindo da Africa do Sul, se hospeda na casa dele e de sua família. Posteriormente, esse inquilino acaba cometendo suicídio. Isto liberou um mal que desencadeou um turbilhão de acontecimentos que iriam mudar a vida do nosso jovem personagem sem nome.
Nosso menino de sete anos, que sentia-se meio solitário e gostava de livros, acaba ficando chocado com a cena do homem que se matou no banco de trás de seu carro. É neste momento que nosso personagem conhece três mulheres singulares moradoras das fazendas Hempstock: a menina Lettie e a jovem e a velha senhora Hempstock. São essas três personagens que darão guarida ao nosso personagem.
A forma como o mal vai se instalando, através da nova empregada na casa que nosso menino de sete anos, é muito bem construído. Gaiman consegue criar uma atmosfera de opressão mesclada com a inocência natural da infância. Juntando traições e enganação, o mundo de nosso menino de sete anos, e de toda sua família, começa a descarrilhar por trilhos totalmente tortuosos. Mas nosso personagem encontra ajuda, refúgio e acima de tudo amizade, nas moradoras da fazenda Hempstock. Principalmente na figura da menina Lettie.
A mitologia presente na obra é esplendida. Gaiman já nos encantou com seus Perpétuos e com sua menina que gostava de explorar. Mas o misticismo de Gaiman parece conseguir se reinventar a cada obra dando a impressão que há uma fonte inesgotável de criatividade. Seus personagens conseguem ser ao mesmo tempo temidos e adorados. Pra quem vê na similaridade de idade de nosso protagonista sem nome e Coraline (do livro Coraline), uma possível semelhança na história, está plenamente equivocado. Aqui, somos apresentados a conceitos novos e tão bons quanto os anteriores. Além disso, o sentimento de opressão e angústia nesta obra, te acompanham por toda a narrativa, um pouco diferente do ar esperanço de "Coraline".
No final do livro, apesar de todo teor fantástico, místico e mítico de "O Oceano no Fim do Caminho", serem ótimos, eles servem mais como pano de fundo pra nos falar sobre inocência perdida, traição, amizade e que, às vezes, esquecer um passado que foi de veras perturbador, pode ser uma dádiva - mas, lembre-se, o Ká é uma roda.
Boa leitura.
2 COMENTÁRIOS
Dos livros que li do autor até agora, este é meu preferido. A escrita do Neil Gaiman é magnífica !
E aí Murilei. Até agora li três obras de Gaiman e este também é meu favorito.
Abraços.
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