Religião, fé e magia se juntam pra criar uma história rica e interessante mas sem deixar de trabalhar de forma profunda os personagens...
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O
gênero de fantasia consegue criar mundos onde tudo poder ser possível e o inimaginável
se torna tão real quanto eu ou você. É um estilo que, por sua natureza, não se
prende aos limites da física/química/biologia, onde o que determina o limiar do
impossível é a cabeça do autor. Desde os primeiros relatos mitológicos, este gênero conseguiu criar verdadeiros ícones da
cultura pop que atravessaram anos e estão, volta e meia, na lista dos mais
vendidos. É o caso de Senhor dos Anéis e Harry Potter, só pra citar alguns. Nos últimos
anos fomos invadidos por uma leva imensa de livros de fantasia e, no Brasil,
que apesar do pouco hábito de leitura de seus cidadãos, também embarcou nesta
leva trazendo muito material de excelência. Mas, dentro deste oceano de livros
de Fantasia, como escolher aquele que irá te abrir novos horizontes ao invés de
se decepcionar com uma leitura pobre em sem sentido? Ó, meus irmãos, perguntem às suas esposas, hahahaa. Foi isto que fiz e, apesar de torcer o nariz no início, também me
rendi aos encantos de O Medalhão de Ísis.
Como
disse pra vocês no parágrafo anterior, de começo, torci o nariz para o livro
pois, pela sinopse, pensei que o livro
seria somente: uma menina que descobre que tem um papel importante no destino
da humanidade + um cara que no principio ela não gosta + posteriormente eles
se apaixonam + tem de se separar por motivos diversos + conseguem se reconciliar
e salvar a humanidade = UMA GRANDE DE UMA MERDA.
Porém,
conforme fui me debruçando sobre as páginas, fui percebendo que o livro não é SÓ
ISSO – na verdade, fica bem longe disso. O que a autora C. S. Camargo – que é
brasileira – criou, é um livro que explora de forma rica a cultura, a fé e a mitologia do Oriente Médio do séc. IV não se esquecendo de criar personagens com profundidade em uma
história com uma dose assertiva de suspense, aventura e magia.
O
livro começa com os preparativos para o casamento da princesa Ahlam, do reino de Nifah, com o príncipe Marzuq, de um reino vizinho. O casamento visa acalmar os ânimos
entro os dois reinos que vivem em um quase conflito. Juntamente a isso, um
terceiro reino, Hasfah, também está interessado nesta união uma vez que o rei de
Nifah, irá presentear sua filha com um medalhão, Ankh - que tem poderes mágicos - que há tempos o rei de Hasfah está buscando. Após a invasão da
cerimônia de noivado pelo povo de Hasfah, um de seus melhores soldados, Faris Zahir,
acaba capturando a princesa e ambos acabam embarcando em uma aventura
emocionante onde o que está em jogo é o destino da raça humana perpetrada pelo deus Seth contra seus parceiros divinos Ísis e Osíris.
O inicio do livro é meio chatinho. A relação de
Ahlam com Faris é recheada de clichês e soa até meio ingênua. Porém, conforme as
páginas vão passando há um aprofundamento na relação entre eles. Juntamente
com as questões místicas que vão sendo desveladas no decorrer da narrativa, a
interação entre eles vai ganhando camadas de complexidade tornado um início que era de
ruim a razoável, em uma história que faz jus ao tamanho da história do Egito.
Por
falar em Egito, é interessante as informações que a autora vai soltando sobre
os costumes, geografia e historia desta nação milenar. Aqui, foi feito um
trabalho de pesquisa bacana casando de forma orgânica com o misticismo
presente: a aparição do deus Hórus, do deus jacaré Sekbah e tantos outras
nuances mitológicas – como um dos personagens mais legais, o gênio –
mostram que tudo está a serviço da narrativa, não havendo espaço para histórias
paralelas que não levam a canto algum. Desde que li a saga A Crônica dos
Kane, de Rick Riodan, que eu não lia uma história tão bacana tendo como pano de
fundo o Egito e os deuses lutando entre si, com a ajuda dos humanos, para
manter o equilíbrio dos planos terreno e
cósmico.
E,
ficando ainda no misticismo, em determinado momento, há uma cena que Ahlam, o gênio e Faris precisam passar por
um desafio para juntar uma das peças que compões o medalhão que me lembrou muito
aquela cena da de Harry Potter em que os participantes jogam um xadrez mágico
onde o que está em jogo é a vida deles. Achei uma referencia muito interessante
a uma das maiores histórias de fantasia da atualidade.
Estou
falando aqui sobre todos os pontos assertivos do livro mas ainda não falei do
casal principal: Ahlam e Faris. A relação entre ambos, que vai crescendo e ganhando
robustez no decorrer da narrativa, é elevada a um outro patamar quando os
mistérios e poderes do medalhão vão sendo descobertos pela dupla e, por
conseguinte, por nós também. E quando descobrimos de forma parcial o porque deles dois estarem envolvidos nesta trama magniloquente, vemos como não temos pontas soltas e escolhas ao acaso. E, aqui, a autora faz uma leitura precisa da jornada
do herói – veja figura abaixo – e é bom quando vemos que mesmo num país onde a
leitura não é o forte da nação, uma autora consegue trazer esses temas de
forma tão certinha.
O
Medalhão de Isís é um livro que vai evoluindo no decorrer das páginas, consegue
trazer o misticismo de forma a enriquecer a narrativa mas sempre tendo como
ponto forte a relação entre os personagens que te impelem a continuar devorando
página por página na busca de saber até onde esses mistérios vão te
levar. Além disso tudo, é escrito por uma autora brasileira (C.S. Camargo,
guarde este nome): precisa de um motivo melhor pra ler?!
Nota: ★★★★★
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O Medalhão de Ísis ( Brasil, 2014)
Páginas: 242
Autor: C. S. Camargo
Editora: Arwen
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