[RESENHA] Cujo, de Stephen King

Longe de ser o melhor trabalho de King, “Cujo” consegue mostrar que nossas escolhas, pequenas ou grandes, geram consequências inimagináveis, além de ser uma ótima oportunidade de ver o universo compartilhado do autor.


foto: The Tony Lucas Blog

Nota: ★★★★


Não sendo nenhuma novidade para quem acompanha este espaço, sou fã inveterado de Stephen King. Seus livros, além do terror como algo intrínseco, a maioria deles possui uma visão intensa da mente humana. É como se uma janela se abrisse e tivéssemos acesso aos pensamentos de alguém. Talvez, este seja o principal motivo do sucesso do autor: a capacidade de nos vermos, ao menos um pouco em cada personagem. Sua escrita detalhista faz a narrativa seguir de um ponto de calmaria para um ponto onde o terror, que vinha sendo sussurrado, nos cerque numa atmosfera sufocante e avassaladora. E isso é o que mais chama atenção nesta obra.

Cujo (Cujo – 1981), foi o sétimo livro publicado por Stephen King. Passado na fictícia cidade de Castle Rock, palco de tantas outras obras de King, o livro tem como tema central o cão da raça São Bernardo, Cujo, que após contrair raiva acaba causando um tormento que marcará a cidade. Mas, claro, sendo King o autor, o livro não fixa somente nisso.

De início, acompanhamos Vic e Donna Trenton.  Ele, um publicitário que juntamente com seu sócio, Roger Breakstone, enfrentam um problema referente a um de seus clientes que pode decretar o fim da agência; ela, mediante a infelicidade por ter se mudado de Nova York, engata um romance extraconjugal e acha que está no momento de selar esta parte obscura de sua vida. Junto a tudo isso, temos o filho do casal, Tad que passa a ter pesadelos com um monstro do armário.

Acompanhar a vida do casal é uma tarefa fascinante. Desde Vic com seus problemas no serviço e suspeitando da fidelidade da esposa a Donna que vê na “escapada” uma forma de não enlouquecer, mas que sabe que não pode continuar assim, porém, teme romper com Steve, o "pé de lã". Acompanhar os personagens com esse mundo interior perturbado é incrível. A escrita do autor consegue transmitir todo este drama que te incomoda ao mesmo tempo que faz você torcer por um desfecho positivo na vida do casal. Até este ponto, os “os monstros” da narrativa são as pessoas e seus problemas. E quando Vic precisa viajar pra resolver o problema da firma, ele já tem conhecimento da infidelidade da esposa. E isso será um fator importante no destino dela e, principalmente do filho.

Em muitas obras de King, um acontecimento repercute de forma inesperada resultando num desfecho por vezes triste na vida dos personagens. Aqui, enquanto Vic reflete sobre a conduta da esposa e o que será do casamento, um milhão de coisas passam por sua cabeça que fazem ele exitar na ligação e isso, gera um montante de terror na vida de Donna e Tad. Este terror tem nome: Cujo. O cão São Bernardo que sempre fora dão dócil, teve a infelicidade de contrair raiva e só pensa em matar. 

O drama vivido por Donna e Tad no fim da narrativa são de dar nó no estomago. É pra você fechar o livro e sentir um vazio completo apenas pelo desespero do que acabara de ler. King não poupa o leitor escolhendo o caminho fácil do final feliz. Nada disso. Aqui, o final é de tirar o sono e te fazer odiar e amar o autor na mesma medida pois gostaria de um outro final mas sabe que se assim fosse, o livro não teria o mesmo impacto que teve. King sabe o que faz.

Como de praxe nas obras de King, muitos personagens já são conhecidos de outras obras. Isso traz aquela sensação de familiaridade com a história e ainda enche os olhos dos fãs. Além disso, outro personagem presente na obra foi o alcoolismo. King relata na ótima quase biografia, Sob à Escrita, que enquanto escrevia Cujo, estava na sua mais profunda entrega ao vício e que pouca coisa recorda-se da concepção da obra.

Marcado por um final angustiante, Cujo é um livro que faz o leitor entrar na mente dos personagens e vê que assim como atitudes grandes tem suas implicações, as pequenas também tem e o acumulo delas pode gerar um futuro que ninguém imagina. A não ser que você seja Stephen King.

Boa Leitura

Cujo (Cujo – 1981)
Páginas: 376
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Comprar: Amazon
  

5 COMENTÁRIOS

Gostei deste livro. Um clímax tenso e angustiante !!

Sim. Tah longe de ser o melhor livro do King mas é bem legal.

Tem muitos livros melhores que este do King mesmo, mas até as obras medianas dele são superiores a muitos dos melhores livros de autores famosos !!

Oi, Ricardo! Ahhhhh aquele final... Deu vontade de jogar o livro fora kkkk Não sabia isso dos personagens conhecidos. Nesse é o Dodd, certo? Ele é originalmente de que livro?

Abraço

https://tonylucasblog.blogspot.com.br/

E aí Tony. Então, Dodd é um personagem bem inescrupuloso do livro "A Zona Morta". Diga-se de passagem, um dos melhores livros de King.

Abraços.


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