O Estuprador, o Ônibus e a Lei...


Diego Ferreira de Novais estava caminhando tranquilo. Talvez tenha comido ovos mexidos nos desjejum, ou um pão com queijo e doce de leite. Ou, ainda, nem tenha comido nada. O fato é que na manhã do dia 29/08 ele estava plácido e tranquilo como uma criança que dorme sob os olhares vigilantes e amorosos dos pais. Pendendo em seu costado mais de uma dúzia de acusações que variam entre o nada constrangedor ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR e o totalmente livre de violência ESTUPRO...

Mas isso não é problema para Diego Ferreira de Novais: mesmo com esta ficha criminal maior que a distância entre a Lua e a Terra, ele anda livre e sorridente pelas ruas de São Paulo. Apesar de, possivelmente, muitas das mulheres as quais foram VÍTIMAS do INOFENSIVO CIDADÃO DE BEM, terem medo até de abrir os olhos, ele não tem do que se preocupar. Já sabe que o roteiro da sua vida criminal foi vazado muito antes do roteiro da sétima temporada de Game of Thrones, e respira de forma meditativa pois sabe que seus atos são punidos com a total impunidade...

Por volta do Treze horas, Diego Ferreira de Novais está com a expectativa lá em cima. Não sabemos se ele escolhe a vítima de forma repentina ou se é algo programado. O fato é que daqui a pouco mais uma mulher deste nosso Brasil entrará para as estatísticas...

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Cíntia Souza está sentada no banco de ônibus. Talvez se ache com sorte. Tendo em vista a superlotação dos coletivos nas grandes capitais, encontrar um lugar pra sentar é quase como ganhar na Mega Sena. Distraída, ela mexe em seu celular, mal repara que próximo à ela há um homem em pé próximo à ela. Apesar de haver outros bancos vazios, o rapaz de camiseta verde permanece de pé. Entre uma visualização e outra no celular, ela sente que alguma coisa viscosa atingiu seu pescoço. Ela olha e vê um homem, nosso INOFENSIVO Diego Ferreira de Novais, ainda com o pênis na mão se masturbando, olhando com total indiferença e satisfação para Cíntia Souza  que após um período de breve suspensão da realidade, se dá conta que o que acaba de molhar seu pescoço é o sêmen de Diego Ferreira de Novais...

Cíntia Souza grita, todos se desesperam.  Cobrador e motorista se dão conta do ocorrido. Param o ônibus, fecham as portas para que o meliante não fuja – se bem que sem  motivo, pois nosso personagem não tem nada a temer...

Diego Ferreira de Novais, após a emoção de mais um crime cometido, está tranquilo. Já sabe  o final do roteiro e, melhor ainda: sabe que seu roteiro não foi escrito por M Night Shyamalan e não há uma reviravolta final. Os autores de seu script são a justiça brasileira que tem sempre um jeito todo especial de mostrar que aqui, meu chapa, as coisas vibram numa frequência estranha...

Preso, Diego foi solto no dia seguinte pelo juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto, acatando recomendação do Ministério Público de São Paulo. O juiz destaca: que não houve constrangimento, tampouco violência ou grave ameaça, pois a vítima estava sentada em um banco de ônibus surpreendida pela ejaculação do indiciado”...

Bom, talvez, entendeu o juiz, que se Cíntia estivesse de pé, aí sim, poderia configurar alguma coisa de maior gravidade. Mas, sentada, não houve nada que pudesse representar ameaça a esta histérica jovem...

O fato é que a justiça no Brasil faz teeeeeeeeeemmmmmmmpo que não age de acordo com os anseios da comunidade antenada com os dias atuais. Há um desprezo pelo que ocorre com nós mortais uma vez que os autores das leis e seus aplicadores parecem, e possivelmente vivem, em uma realidade paralela a nossa. Não me surpreenderia se ora ou outra, alguém ser absolvido de estupro porque o acusado revogou seu direito a prima noche. Vai saber...

Quanto a nós, que assistimos a tudo isso, transborda a indignação, o sentimento de impunidade. E relatos como o de Cíntia: “a minha cabeça está confusa, não tenho tido paz, dormir, comer está tudo ruim. Quando durmo sonho com algo parecido. E parece que estou cansada o tempo todo.”, parece ser o que sobra para as vítimas...

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No livro Missoula: O Estupro e o sistema judicial em uma cidade universitária, de Jon Krakauer, (resenha aqui), vemos como é difícil para uma vítima de estupro conseguir levar um caso ao tribunal e como a sociedade, por vezes às relega o papel de vilãs. No caso de Cíntia, ainda há o fato de ela, quem sabe, cruzar com nosso inofensivo colega. Tomara suas orações estejam em dia e que o senhor Jesus a proteja já que nossas leis nossos não vêm em figuras como Diego algo que represente perigo...

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Diego Ferreira de Novais, deve estar agora assistindo à um bom filme, comendo pipoca. Quem sabe usando seus processos como rascunho ou fazendo aviãozinho. Talvez fique um tempo na encolha só esperando a poeira baixar pra atacar novamente pois este sim, pode confiar cegamente na justiça brasileira...


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