Quando
a senhora minha esposa mostrou-me o livro que havia comprado, pensei que se
tratava de algo como Sabrina
por conta da capa que lembrava muito este tipo de livro de banca. Mas,
minha senhora (SEMPRE ELA), me explicou que não! Que na verdade, tratava-se de um
suspense psicológico de um cara que ama uma mulher e acaba sequestrando-a. Interessei-me
e fagocitei o livro. Ainda que em determinado momento o livro perca um pouco
de seu ritmo, a história de um sujeito desajustado que orquestra um plano
maluco pra conquistar uma mulher é deverás interessante, cheio de surpresas e
angustiante...
O
romance narra à história de Frederick
Clegg, um funcionário público que coleciona borboletas e, subitamente, se
torna dono de uma fortuna. Ele então passa a ter uma ambição: sequestrar a bela
Miranda, seu amor platônico...
Quando
você chega ao tão esperado FIM deste livro, o sentimento que prevalece é o de
tristeza mesclado a uma sensação de solidão e abandono. O trabalho realizado
pela escrita de Fowles em seu romance de estreia é arrebatador....
Narrado
em primeira pessoa – primeiro pela ótica de Frederick, depois pela de Miranda –
o livro consegue trazer um clima de imersão que este tipo de narrativa precisa
para te manter ávido, linha após linha, para saber o desenrolar da história. E,
sendo em primeira pessoa, é possível se aproximar dos pensamentos dos
personagens e ter um retrato real do que se passa em suas mentes. E há muita
coisa aí...
Frederick,
logo no inicio você já desconfia que não “bate” muito bem da cabeça. Obcecado
por borboletas mas que não consegue manter uma relação amigável com nenhum ser
humano. É um ser isolado que se sente menosprezado por seus pares e que também
os menospreza. Menos uma pessoa: Miranda. Esta personalidade claudicante e
insegura acredita ter a chave para que ela o ame, porém, é um jeito totalmente maluco que ilustra o tipo de personalidade de Frederick...
Já
Miranda, uma jovem de espirito livre, é uma amante das artes e que vê nesta
seara a chance de galgar seu lugar ao sol, vive de amores aqui e acolá, e
quando vê sua vida reduzida as paredes de seu cárcere, percebe que terá de usar
de toda sua astúcia para sair desta encrenca...
Ler
as páginas de O Colecionador é adentrar um mundo onde o normal não é visto pela
mesma ótica que pessoas comuns. Não que não tenhamos nossos pensamentos malucos
ou inexpressáveis, porém, Frederick é um sujeito ímpar. Suas escolhas são
pautadas em um raciocínio que levam a conclusões absurdas mas que na mente dele
(e graças a imersão da escrita de Fowles, da nossa também) tem "lá" sua lógica...
Sua
paixão por borboletas é um reflexo do que o mesmo acaba fazendo com Miranda:
amante desses insetos, é impossível para ele simplesmente observá-los em seu esplendor
livre na natureza. Ele precisa delas só pra ele para absorver e observar toda a
beleza intrínseca a elas. Mesmo que pra isso precise aprisiona-las ou mata-las...
Livros
assim, que levam as mentes humanas ao limite da loucura e do absurdo, são um
deleite para qualquer amante das letras e que procuram nesse oceano de livros
aquele que consiga nos tirar do conforto habitual e nos obriga a olhar para as
pessoas que nos cercam com um certo receio por imaginar que por mais comuns que
possam parecer, são capazes das maiores insanidades que a mente pode gerar.
Mesmo apresentando-se plácido e belo como uma borboleta...
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O Colecionador ( The Colector, Inglaterra, 1963)
Páginas: 257
Editora: Record
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