[RESENHA] O Colecionador, de John Fowles


Quando a senhora minha esposa mostrou-me o livro que havia comprado, pensei que se tratava de algo como Sabrina por conta da capa que lembrava muito este tipo de livro de banca. Mas, minha senhora (SEMPRE ELA), me explicou que não! Que na verdade, tratava-se de um suspense psicológico de um cara que ama uma mulher e acaba sequestrando-a. Interessei-me e fagocitei o livro. Ainda que em determinado momento o livro perca um pouco de seu ritmo, a história de um sujeito desajustado que orquestra um plano maluco pra conquistar uma mulher é deverás interessante, cheio de surpresas e angustiante...

O romance narra à história de Frederick Clegg, um funcionário público que coleciona borboletas e, subitamente, se torna dono de uma fortuna. Ele então passa a ter uma ambição: sequestrar a bela Miranda, seu amor platônico...

Quando você chega ao tão esperado FIM deste livro, o sentimento que prevalece é o de tristeza mesclado a uma sensação de solidão e abandono. O trabalho realizado pela escrita de Fowles em seu romance de estreia é arrebatador....

Narrado em primeira pessoa – primeiro pela ótica de Frederick, depois pela de Miranda – o livro consegue trazer um clima de imersão que este tipo de narrativa precisa para te manter ávido, linha após linha, para saber o desenrolar da história. E, sendo em primeira pessoa, é possível se aproximar dos pensamentos dos personagens e ter um retrato real do que se passa em suas mentes. E há muita coisa aí...

Frederick, logo no inicio você já desconfia que não “bate” muito bem da cabeça. Obcecado por borboletas mas que não consegue manter uma relação amigável com nenhum ser humano. É um ser isolado que se sente menosprezado por seus pares e que também os menospreza. Menos uma pessoa: Miranda. Esta personalidade claudicante e insegura acredita ter a chave para que ela o ame, porém, é um jeito totalmente maluco que ilustra o tipo de personalidade de Frederick...

Já Miranda, uma jovem de espirito livre, é uma amante das artes e que vê nesta seara a chance de galgar seu lugar ao sol, vive de amores aqui e acolá, e quando vê sua vida reduzida as paredes de seu cárcere, percebe que terá de usar de toda sua astúcia para sair desta encrenca...

Ler as páginas de O Colecionador é adentrar um mundo onde o normal não é visto pela mesma ótica que pessoas comuns. Não que não tenhamos nossos pensamentos malucos ou inexpressáveis, porém, Frederick é um sujeito ímpar. Suas escolhas são pautadas em um raciocínio que levam a conclusões absurdas mas que na mente dele (e graças a imersão da escrita de Fowles, da nossa também) tem "lá" sua lógica...

Sua paixão por borboletas é um reflexo do que o mesmo acaba fazendo com Miranda: amante desses insetos, é impossível para ele simplesmente observá-los em seu esplendor livre na natureza. Ele precisa delas só pra ele para absorver e observar toda a beleza intrínseca a elas. Mesmo que pra isso precise aprisiona-las ou mata-las...

Livros assim, que levam as mentes humanas ao limite da loucura e do absurdo, são um deleite para qualquer amante das letras e que procuram nesse oceano de livros aquele que consiga nos tirar do conforto habitual e nos obriga a olhar para as pessoas que nos cercam com um certo receio por imaginar que por mais comuns que possam parecer, são capazes das maiores insanidades que a mente pode gerar. Mesmo apresentando-se plácido e belo como uma borboleta...

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O Colecionador ( The Colector, Inglaterra, 1963)
Páginas: 257
Autor:  John Fowles
Editora: Record
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