O RIO, A BARRAGEM E A LAMA




A barragem mal feita 
Trouxe tristeza e destruição.
A dor da vida na água que agora agoniza,
Ironiza a ideia de construção.

A pesca que agora nos resta
É o marrom da lama 
Que tingiu o colchão sobre a cama
Com a cor que agora nos remete a Mariana.

Não foi só o pescador que perdeu:
foi o peixe, a alga, você, eu.
Todos somos afetados 
Pelo metal pesado que contaminou o Alfeu.

A água nos olhos, cai no chão.
É por nós e pela natureza,
Que na dureza da devassidão, 
Molha a esperança num banho de tristeza.

A catástrofe ambiental 
não afetou só o suposto bicho racional:
O peixe morreu sufocado,
O gado morreu afogado,
A coruja teve o ovo arrastado,
O cão que teve dono refugiado
Fica assustado e ataca quando é resgatado...  

A vida que agora não há
Será um lembrete da tragédia datada
Que na parede precária 
Premiou o rio com o descaso que mata.

O Rio que era doce, adoeceu,
Respira por aparelhos.
Enquanto alguns com lama nos joelhos
Tentam ajudar os que a mineradora largou ao desespero.

Será esta nossa sina:
Ver sempre alguma chacina 
Que não poupa homem, mulher, menina.

Enquanto os quem tem poder
Não cansam de fod...
Com quem só queria um cantinho
Pra morar, viver e morrer.

Quanto a nós, nos resta a prece
Que aquece, reconforta o coração que arrefece
Enquanto espera que a lama desce
Pra ter um pouquinho de benesse 
Nesta vida que padece.

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obs.: extraído do diário "Memórias e Lapsos: apontamentos para autobiografia de um maluco"- Ricardo Bernardo.


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