Histórias
de casas mal-assombradas não são novidade na literatura. Hell House usa deste
tema muito enraizado na cultura popular pra destilar o horror de forma ímpar. Desde o
início é notável a áurea de mistério que habita aquele imóvel. Junte-se
a isso um enredo que mescla o sobrenatural com o cientifico lembrando, em
alguns momentos, o debate interno do Padre Merrin e sua busca por saber se a
menina está possuída ou não e o uso de Aleister Crowley, um dos nomes mais
importantes dentro do misticismo dos últimos tempos para usar como base para
compor um vilão extremamente poderoso, doentio e sedento por sangue. O resultado só poderia ser ótimo.
SINOPSE
Por
mais de vinte anos a Mansão Belasco permaneceu vazia. Tida como o 'Monte
Everest' das casas mal-assombradas, essa construção de aspecto imponente e
sinistro testemunhou cenas inconcebíveis de horror e depravação. No passado,
duas expedições com o propósito de investigar os segredos que a casa encerrava
terminaram em assassinato, suicídio e loucura para seus integrantes. Agora, uma
nova investigação tem lugar, levando quatro estranhos ao local interditado,
determinados a esquadrinhar a Mansão Belasco em busca de respostas definitivas
sobre a vida após a morte. Cada um dos membros da nova equipe tem suas próprias
razões para enfrentar os tormentos e tentações indescritíveis da mansão; mas,
será que alguém consegue sobreviver ao mal que espreita na casa?
RESENHANDO
Hell House é um
livro que sabe aproveitar ao máximo aquilo que se propôs a fazer e não é sempre
que isso acontece na literatura. Por vezes, vemos como alguns autores concebem
alguma ideia (ou se apropriam de uma) genial mas acabam fracassando na
concepção tornado algo que tinha tudo pra ser fantástico em apenas mais uma história
chata. Na literatura de terror, então, isso acaba ocorrendo aos montes. Não é o
caso em questão. Apesar de ser um tema muito abordado nas histórias de terror,
a casa mal assombrada de Richard Matheson surge como uma referência para os fãs
do gênero provando que mesmo uma ideia banal e corriqueira, quando contada da forma
correta, se torna algo fantástico.
Um ricaço a beira
da morte decide montar uma equipe para uma expedição a uma casa assombrada, tida como o local mais mal assombrado da Terra que pertenceu ao enigmático Emeric Belasco, afim
de descobrir se há vida após a morte. Outras duas expedições já haviam sido
realizadas no local e ambas fracassaram. O grupo que aceita o desafio com
interesses múltiplos que somavam-se a uma bolada em dinheiro ao fim do
experimento, era composto por um parapsicólogo, dr. Lionel Barret que acreditava ser capaz de
responder todos os eventos ditos sobrenaturais a luz da razão; sua esposa, Edith que
além de acompanhar o marido vive a realidade de um casamento limitado; a
médium Florence Tanner que vê em todos os cantos a presença do sobrenatural; e por fim, o único sobrevivente das outras
duas expedições a mansão: Benjamin Fischer, um médium que
irá testar seus limites pra tentar desvendar os mistérios da casa.
Matherson, não
tirou Emeric Belasco do nada. Ele usou como pano de fundo um dos místicos mais
proeminentes, famosos e temidos do século XX: Aleister Crowley, que se autodenominava a Besta. Famoso na
Europa, Crowley foi alguém que influenciou muitas formas de arte, desde a música, cinema e literatura. Tinha como principio
a frase “faz o que tu queres há de ser o todo
da Lei”. Seus rituais religiosos envoltos em orgias sexuais pra alcançar o contato com o divino serviu
para o autor dar uns toques de calor na narrativa tendo influência decisiva nos
desdobramentos da história.
O gênero de terror serviu
como pano de fundo para muitos eventos que assombraram por muito tempo a
população do globo. O medo da radiação (por meio das bombas atômicas) e suas mutações nos deram monstros
gigantes como Godzila; a AIDS nos brindou com filmes de jovens que saem pra
acampar e desfrutar a vida de sexo e alegria mas que no fim, descobrem através de
uma serra elétrica ou de um mascarado com faca que a vida sem responsabilidade é
perigosa. Hell House nos faz pensar sobre a natureza da realidade das coisas. Qual
o ponto que define o que é real ou não? E, sabendo o que é real, como nos
relacionamos com ele? Além disso, tem um ponto muito forte que serve muito bem
para ilustrar uma faceta do momento que vivemos hoje: a era das certezas. Apesar de escrito em 1971, o livro evoca um
assunto que vemos hoje inundando os
debates em redes sociais: são grupos que detém a verdade que de forma alguma
estão abertos a um verdadeiro debate dispostos a realmente ouvir o outro e
abandonar uma ideia que não condiz com a realidade. Dessa forma, acabam se
fechando em uma carapaça de certezas que não deixa espaço pra dúvidas onde quem
sai perdendo somos todos nós ante a falta de cooperação mútua que leva o
progresso.
Quando o doutor acredita
que desvendou todos os mistérios da mansão através de sua nova invenção, ou
quando a médium crê que o contato direto com a entidade que habita o local é a
chave para desvendar o mistério, ambos se fecham em suas certezas e deixam de
ver o todo. Fischer e Edith que são os únicos com dúvidas a respeito dos eventos na Mansão, é que conseguem chegar ao ponto de convergência entre as ideias e vêm nisso
um vislumbre de como saírem dali vivos. É uma mensagem de que, por vezes, os
dois lados possuem um pouco de razão e é na união entre as ideias que se
encontra verdade das coisas.
Personagens em escritos e bem aproveitados jogados num enredo bem construído que que te provoca a ver a face do mal em cada canto, Hell House é um alento de preciosidade num tema tão batido e mal aproveitado na literatura.
Boa leitura.
Personagens em escritos e bem aproveitados jogados num enredo bem construído que que te provoca a ver a face do mal em cada canto, Hell House é um alento de preciosidade num tema tão batido e mal aproveitado na literatura.
Boa leitura.
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