Acho que um dos sonhos que mais ocupa espaço na mente de nós, homo sapiens, é a vontade de ser aceito. Fazer parte de um grupo, pertencer a algo - ou alguém - que seja um reduto de felicidade, compreensão e aceitação. Dizem por aí que o grande mal do mundo é a solidão. Sentir-se sozinho é uma das sensações mais angustiantes e nocivas que uma pessoa pode sentir. Como disse John Donne, "nenhum homem é uma ilha". Somos seres sociais e precisamos da companhia do outro. De preferência, que a nossa companhia não seja algo de situação, algo que se acontecer ótimo, porém, caso não ocorra, tubo bem. Queremos que nossa ausência seja sentida. Que o hiato entre um encontro e outro não passe despercebido.
Aí, eu pergunto: o que nos torna especiais? O que faz com nossa presença, seja querida, desejada, e até necessitada?
Somos seres muito complexos, difíceis e complicados. Onde encontrar, dentro deste ser imperfeito, o motivo da alegria para o outro. Aquela alegria genuína, visceral? Apaixonante?
Em diversas situações, colocamos nossas opiniões, vontades, ego e um monte de outras coisas à frente da gentileza. Mesmo sabendo que não aceitaríamos isso do outro. Metemos os pés pelas mãos e não vemos que do outro lado, tem alguém que também sente e sofre.
Na outra ponta, na intenção de agradar o outro, acabamos criando situações que, ao invés de serem agradáveis, acabam sendo sufocantes. Claustrofóbicas. Algo que era pra ser bom acaba tornando-se insalubre. O velho jargão de Shakespeare em sua peça Hamlet: "a virtude se converte em vício, quando mal aplicada".
Dentro destas relações complexas, ser algo especial pra alguém não é das tarefas mais fáceis. Além de ser alguém legal e divertido, é preciso suprimir um pouco nossas vontades em prol de uma amizade - ou qualquer outra relação afetiva - que perdure e vá, paulatinamente, tornando-se uma ligação mais profunda. Uma relação de pessoas que sente profundamente a saudade do outro e, acima de tudo, vê na relação existente, algo próximo da chama divina. Sim, sim, é difícil. Principalmente em tempos de "ativismo" virtual, onde tudo é motivo pra discussão que, algumas vezes, culminam com ofensas pessoais.
Mas ser gentil, ao invés de estar certo, pode ser um passo no objetivo de ser especial. Muitas de nossas discussões são sobre coisas bobas, que não teriam nem porque causar tanto atrito.
Pode ser que mesmo fazendo tudo certo, nunca tenhamos nosso amor, carinho e compreensão recompensadas ou, reconhecidas. Mas, olhar pra trás e perceber que fez mais do que poderia pra ser especial pra alguém é gratificante. E acima de tudo, mostra que o nosso eu, antes de ser reconhecido por alguém como especial, foi reconhecido como especial por nós mesmos.
Paz e Luz.
Paz e Luz.
Ricardo Bernardo
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