[RESENHA] A LISTA NEGRA, de JENNIFER BROWN

Ano de lançamento: 2012
Editora: Gutenberg
Páginas: 272
Nota: 5/5


“O tempo nunca acaba [...].

Como sempre há tempo para a dor,

Também sempre há tempo para cura.

É claro que há” (pág. 176)


Este é um livro, triste, angustiante, claustrpfóbico e extremamente importante tendo em vista muitos acontecimentos que, com certa frequência, vemos nos noticiários: bullyng e tragédias escolares. E, como em quase todos os casos, a mais coisa entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.

O mote do livro é o seguinte: Valerie Leftman (Val), uma menina que, por ser diferente, sofre bullyng na escola onde cursa o ensino médio. Acaba se tornando namorada de Nick Nevil, estudante da mesma escola que também sofre bullyng dos colegas (colegas?). Um dia, Nick encontra um caderno onde Val anota os nomes das pessoas que fizeram algum mal pra ela, A Lista Negra. Com base nesta lista, mas não ficando somente nela, Nick irá cometer uma chacina na escola, alvejará por acidente Val e cometerá suicídio. Daí pra frente, Val terá de encarar tudo e todos, pois, segundo o julgo da maioria das pessoas da cidade, ela foi corresponsável pela chacina. 

Como você pôde observar, eu já adiantei o que acontece, haja vista que a chacina ocorre no início do livro. Mas, o que vem depois? 

Escrito de forma perfeita, alternando a narrativa entre passado e futuro, A Lista Negra, é daqueles livros que conseguem te perseguir dias e dias após a leitura. São várias nuances e seu cérebro irá analisar uma a uma na tentativa de encontrar quais os vilões e quais são os mocinhos. 

E, como em toda relação humana, as coisas são mais complicadas do que parecem. Quando você se apega a algum personagem crendo que não fizera nada de errado pra despertar  a ira de alguém, Jenifer Brown trata logo de lhe arrancar da zona de conforto e te impulsiona por caminhos tortuosos tratando de assinalar que as coisas não são bem assim. 

Enquanto Val se recupera do tiro que levou, aguarda ansiosa e relutante a volta pra escola. Os personagens da chacina tentam ainda entender o que ocorreu. Muitos acabam surpreendendo com mudanças de atitude. Para o bem ou para o mal.

Já outros, como de praxe, escolhem o caminho mais simples: procuram culpados e exigem justiça mas, esquecem que a mesma justiça que clamam, não esteve presente para Nick que tratou de fazê-la por si mesmo.

O pai de Val trata de encontrar um culpado  – melhor, uma culpada – e deposita na filha, outra vitima da situação, toda a frustração que já vinha de antes da tragédia. Por outro lado, a mãe de Val, apesar das trapalhadas e equívocos que comete pelo caminho, tenta, a seu jeito, proteger a filha e continuar a vida. Enquanto seu irmão menor sempre solícito e compreensível, acaba se esgotando do turbilhão que tornou sua vida e ressente-se da falta de atenção.

Na escola, as coisas são complicadas. Apesar de muitos enxergarem que a vida de Nick não era fácil, nada justifica o que ele fez, ainda assim, será que é só ele o vilão? Val, a autora da lista, também será? E, os outros, que paulatinamente humilhavam e torturavam Nick e Val, também são?

Quanto a Val, durante todo o livro, um sentimento de tristeza incutiu-me em relação a ela. Acompanhando os flashblacks da narrativa, observamos que enquanto todos a tratavam como lixo, Nick a tratava como alguém especial. Era nele que Val encontrava forças pra seguir adiante e sabia que podia contar com ele. Tudo podia ir mal, mas ela sabia que em Nick, toda a frustração e raiva, seriam sanadas. Entretanto, em alguns segundos de um dia normal, tudo mudou e enquanto todos, mais uma vez, castigavam o póstumo Nick, Val tenta, reorganizar sua vida e pô-la nos eixos e entender o que sente pelo Nick. Ódio pelo Nick do revólver, ou amor pelo Nick que lia Sheakspeare e estava sempre presente. E nessa querela sentimental, Val se consome. As marcas de Nick, não se resumem aos tiros que ceifaram vidas, mas também, as palavras e carinho que ninguém estava disposto a dar a ela. A exceção dele.

Como afirmei no inicio da resenha, é um livro intenso, triste, claustrofóbico, atual. Fiquei abalado imaginando-me no lugar de cada personagem tentando saber o que faria. Se estaria na lista negra; se escreveria a lista negra; se culparia Val; se conseguiria tocar a vida e, sendo sim, como... 

É uma leitura que nos faz refletir sobre nossas atitudes  e o quanto elas podem refletir na vida dos outros. O quanto algo, pra nós, insignificante, pode ser o céu ou o inferno pra alguém na outra margem. Como as coisas sempre tem dois lados. Que o bullyng é um problema sério onde, nas maioria dos casos quem sofre de tal ato acaba sofrendo sozinho. Mas, às vezes, a maré muda e o revide, como sempre, é muito maior. Que mostra como as relações humanas são complicadas onde nem sempre um charuto é só um charuto. Que  coisas ruins podem de uma forma estranha, adicionar valores positivos pra alguém mas, que essas mesmas coisas ruins, podem ocasionar uma navalha nas veias de outro. 

Um livro que, acima de tudo, traz esperança. Esperança que podemos e devemos ser melhores. Não apenas para os outros, mas principalmente pra nós mesmos. Só com uma mudança positiva de atitude, seremos bons o suficiente pra apreciar o que há de bom na vida sem nos importarmos se nosso nome consta ou não em alguma lista negra.

Livro mais que recomendado. Que fez jus ao alarde a sua volta e que deveria ser lido por todos.


“Sabemos que podemos mudar  realidade. É difícil, e a maioria das pessoas nem tenta fazer isso, mas é possível. Você pode mudar a realidade do ódio ao se abrir pra uma amiga. Ao salvar uma inimiga. (...) Contudo, é preciso ter vontade de ouvir e de aprender para mudar a realidade. Principalmente ouvir. Ouvir de verdade.” 

Boa leitura.


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