[RESENHA] A Nona Configuração, de William Peter Blatty

Ano de lançamento: 1978
Editora: Agir - Casa dos Livros
Páginas: 160
Nota: 3,5/5





"Talvez todo o mal seja uma frustração, uma separação 

de onde deveríamos estar. [...] Talvez a culpa

  seja só a dor da separaçãoaquela... aquela solidão 

 em relação a Deus. Somos peixes fora d'àgua, Fell;

talvez seja por isso que homens ficam loucos"


Alguns autores acabam ficando marcados por sucessos de algumas (ou uma) obra. Por mais que obras subsequentes tenham um bom enredo e bom desenvolvimento, sempre há a expectativa de encontrar na obra em questão um resquício de sua grande obra prima. Em "A Nona Configuração", William Peter Blatty, consegue entregar um trabalho bom com um final surpreendente mas, talvez o afã de encontrar algo com a mesma áurea de seu grande best seller, O Exorcista , tenha atrapalhado a experiência.

Machado de Assis já nos brindou com seu clássico "O Alienista",  nos mostrando a trajetória de Simão Bacamarte que no fim, percebe que o "louco" talvez seja ele (não é só isso que fala o livro mas, fica pra uma próxima). Mais recentemente, Dennis Lehale em "Paciente 67,  nos mostra uma dupla de detetives que vai até uma clinica psiquiátrica investigar o desaparecimento de um interno (talvez você conheça esta história através da adaptação cinematográfica A Ilha do Medo - estrelada por Leonardo DiCaprio), e que tem um final surpreendente.  

A psicologia e  psiquiatria geraram boas histórias na literatura como as duas citadas acima e tantas outras mais. Usando desse tema, a psiquiatria investigativa, que o autor nos apresenta A Nona Configuração. No livro, vemos o coronel psiquiatra, Hudson Kane, que vai até uma clinica para analisar casos de pacientes que tem muita coisa em comum. Com uma exceção, os internos são todos ex-soldados condecorados das forças armadas americanas e que, de uma hora para outra, apresentaram algum distúrbio psiquiátrico, tendo o principal sintoma algum tipo de obsessão. O alto comando das forças armadas acredita que os soldados estão fingindo este estado para não voltarem para o front. É para descobrir se estão doentes ou simulando que Kane vai até a clinica.

A maioria dos personagens é bem desenvolvida. Apesar de poucas páginas, Blatty consegue mostrar a maioria das insanidades dos personagens e suas aflições. De leitura fácil, o livro consegue manter um clima de expectativa no leitor que quer saber o que realmente está acontecendo. Um dos internos da clinica sobressai-se sobre os outros. Anteriormente eu disse que havia apenas uma exceção quanto ao perfil do internos? Então, esta exceção é o astronauta Cutshaw que abortou uma missão até lua de forma abrupta e desde então foi parar na clinica. É através dos diálogos dele e de Kane que a maioria da história decorre. Alguns pontos de debate entre os dois referindo-se a natureza da vida eterna e de Deus são bem interessantes. E é em uma situação envolvendo estes personagens que toda catarse da narrativa ocorre.

Aí, você lê uma resenha onde não há um aspecto negativo mas o cara que escreve dá nota 3,5! Que merda é essa? Calma, meu jovem. Explico. Como citei no primeiro parágrafo, a expectativa em volta do livro era imensa. Blatty é o autor de um dos livros que eu mais gosto, que mais me assustou e que serviu de base para o um dos maiores - se não o maior - filme de terror: O Exorcista . É impossível não ler qualquer outra coisa do autor e desejar que a leitura se aproxime de sua magnus obra. Mesmo depois de perceber que as temática eram relativamente diferentes, meu cérebro não parava de querer algo como O Exorcista. Provavelmente, se não tivesse lido O Exorcista, minha experiência com A Nona Configuração teria sido bem melhor. Por vezes, a expectativa excessiva acaba atrapalhando. 

Mesmos assim, é um livro que vale a penas ser lido. Principalmente pelo sua parte final. Não entrarei em detalhes para não estragar a leitura, mas garanto que vale à pena.

Boa leitura.   


EmoticonEmoticon