“Quando eu comecei, eu era apenas um vendedor ambulante, atravessando a face cega de uma terra distante. Em movimento, sempre em movimento. Sempre foi ... e no final eu sempre ofereci armas. E eles sempre os pegariam. Claro que eu tinha ido embora antes que eles percebessem o que haviam comprado.” (Lelang Gaut)
Stephen King foi (É!!!) um autor de bastante sucesso aqui no Brasil. A maioria dos seus
livros acaba tendo sua versão brasileira pouco depois de publicado em sua língua original.
Entretanto, algumas editoras que detinham os direitos das obras do
autor por aqui, tiveram problemas – em alguns casos sendo até vendidas – e muito
material do autor acabou por ter somente uma edição o que torna tais livros difíceis
de encontrar. Quando se encontra em sebos ou nas mãos de colecionadores, o preço
acaba sendo um pouco salgado – a tal da
lei de oferta e procura. É o caso do livro Trocas Macabras...
Publicado
pela editora Francisco Alves que fechou um pouco depois, o livro não teve
outras reimpressões sendo muito difícil achá-lo hoje em dia. Caso tenha
curiosidade, procure no Mercado Livre ou no Estante Virtual que verá como as
ofertas são poucas e os preços elevados, se
bem que é fácil de encontra-lo pra baixar na internet...
“Tocas
Macabras” é um livro que mais uma vez usa a cidade de Castle Rock como cenário. Na história,
acompanhamos a vida da pacata cidade do Maine e adentramos nos hábitos simples de seus moradores. Tudo muda quando um homem,
Leland Gaunt, decide se instalar na cidade e abrir uma loja, Coisas
Necessárias. O que a loja vende: aquilo que você mais quer ou precisa. O preço:
um valor irrisório em dinheiro e pregar uma peça em alguém da cidade. Parece inofensivo,
mas conforme o tempo vai passando e as peças se mostram nada tranquilas, a cidade começa a enlouquecer e passamos a
acompanhar a vida do xerife Alan Pangborn e sua namorada, Polly, na tentativa
de entender o que está acontecendo com a cidade que a está deixando louca e, quem sabe, impedir a tragédia que se avizinha...
Trocas
Macabras é daqueles livros de King com diversos personagens. O autor sabe
trabalhar enredos assim. Muitas de suas melhores histórias tem este aspecto grandiloquente.
É o caso de "A Dança de Morte" e "It, a Coisa". E, assim como nos exemplos citados,
a imersão na vida dos personagens é tão intensa que temos a impressão de que a
qualquer momento os personagens saíram das páginas dos livros e sentarão ao
nosso lado na poltrona para um prosa...
O
lado sobrenatural também está presente aqui. Leland Gaunt, apesar de parecer um
ser humano comum à primeira vista, tem seus segredos e é através dele que as
profundezes do irreal é explorado. Porém,
o que sobressai na obra não é a maldade advindo do Maligno, mas aquela maldade
presente na nossa faceta oculta mantida escondida dos olhos dos outros. E é
esse ponto que Leland explora tornando possível suas artimanhas e armadilhas. Outro ponto bem explorado pelo autor é o efeito de nossas escolhas. Toda vez que optamos por algo, deixamos outras escolhas de lado e isso nos leva a determinado ponto. O autor usa isso pra mostrar que em momentos de extrema pressão, até as pessoas mais tranquilas podem escolher caminhos ruins. É o que ocorre, por exemplo com Polly ou com Sean. Além, claro, de levantar a pergunta: qual o preço que estamos dispostos a pagar por aquilo que mais queremos?
Apesar
de muito bem escrito, há momentos em que a leitura fica cansativa. São detalhes
e detalhes que não levam a ponto algum. E mesmo alguns detalhes que tem o seu porque,
tornam-se enfadonhos devido ao excesso de descrição do autor. Porém, o enredo é
estruturado de tal forma que mesmo com esses percalços, a avidez de chegar até
o fim é maior que o cansaço e tu segues em frente e o final, as últimas 100
páginas são devoradas na velocidade da luz. Mas, (MAASSSSSSS) o final do livro
não é dos melhores. Não o desfecho em si. Achei bem satisfatório mas creio que faltou
umas páginas a mais pra mostrar como ficou o que sobrou e os que sobraram da cidade...
Toda
vez que faço um resenha de algum livro de Stephen King, cito que o autor costuma
usar personagens de outras histórias em vários de seus livros. Aqui não foi
diferente. É o caso de xerife Alan Pangborn presente na obra “A Metade Negra” e
da própria Castle Rock. A cidade já foi palco de histórias icônicas do autor: “A
Zona Morta”, “Cujo” – inclusive, há menções sobre os eventos de Cujo em Trocas Macabras
– e o conto “O Corpo” da coletânea “As Quatro Estações” – conto que foi
adaptado de forma brilhante para o cinema com o nome de "Conta Comigo" – são exemplos
dessa reciclagem de ideias que o autor adora fazer e nós, como fãs, adoramos
notar. Aliás, aproveitando essas facetas da cidade que o srteaming HULU fez uma série chamada Castle Rock que usa da cidade e de vários personagens de King. Parece ser bem promissora...
Apesar
de não constar no rol de melhores
obras do autor, Castle Rock é um livro interessantíssimo sendo um verdadeiro estudo
da psique humana. Mais que isso, é um relato que mostra que apesar de toda
nossa civilidade, tem momentos que somos verdadeiros Bestas soltas afim de saciar a fome. Independente de qualquer preço...
Obs.: há um filme de 1993 adaptado da
obra com direção de Fraser Clarke Herston. Não assisti. Caso tenham visto, me
digam se é bom...
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Trocas Macabras ( Needful Things, EUA, 1991)
Páginas: 558
Editora: Francisco Alves
Comprar: Estante Virtual e Mercado Livre
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