[RESENHA] A Origem do Estado Islâmico, de PATRICK COCKBURN

Ano de lançamento: 2015
Editora: Autonomia Literária
Páginas: 208
Nota: 5/5




"Matai-os onde quer que os encontreis

e expulsai-os de onde vos expulsaram, porque

a perseguição é mais grave que o homicídio. E combatei

até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Alá"
(Trecho do Corão)


Logo após a morte do terrorista mais famoso dos últimos tempos em 2012, Osama Bin Laden, uma falsa ideia de que o terrorismo enfraquecia pairou sobre a cabeça de muitas pessoas que horrorizam-se com o atentado às torres gêmeas (World Trade Center) em setembro de 2001. O que poucos imaginavam é que os esforços para neutralizar e destruir a maior rede terrorista de então, Al Qaeda, seriam as sementes que germinaram algo muito maior e sombrio do que a organização do saudita: o O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS). A rede criada pelo iraquiano Abu Bakr al-Baghdadi deu uma mostra ao ocidente, através do ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, daquilo que vêm fazendo no oriente médio com muita destreza. Seu lema de morte à todos aqueles que não compartilham de seus valores, até mesmo outros muçulmanos de vertentes distintas, já mostrou que não há fronteiras para a vilania de seus membros. Entender como funciona e foi criada esta organização é essencial para neutralizar (TENTAR) a rede terrorista. E Patrick Cockburn fez muito bem.


Para quem carrega dentro de si um pouco de senso ético e moral, excluir alguém por conta deste ser apenas diferente, já é algo idiota. Quem dirá matar alguém! Ao longo da história, não foram poucas as ideologias que munidas de uma filosofia sectária, usaram de suas ideias de um bem maior como justificativa para muitas atrocidades: Nazismo, Stalinismo, Cruzadas são exemplos de ideais que acabaram por culminar com a morte de milhares de pessoas sob o pretexto de instaurar uma paz e ordem duradoura. Nas últimas décadas, vemos como o Islã vem fomentando o terror aos não adeptos de sua fé numa busca absurda de agradar os desígnios divinos. No mais recente capítulo disto, temos a criação do Estado Islâmico do Iraque e do Levante. O mais interessante, porém, é notar dois pontos:

          PRIMEIRO: pouco sabemos ou nos importamos com o que o ISIS ou qualquer outro grupo terrorista faz, a não ser que este resolva dar mostra de sua força em alguma cidade “ocidental”.

      SEGUNDO: apesar de muitos não admitirem, as diversas intervenções militares realizadas no oriente médio (com o EUA normalmente a frente da colisão) realizadas de forma equívoca, sempre culminaram com a formação de um poder mais forte e mais temível que chega hoje, pra nós, na figura do Califado.

Patrick Cockburn, um experiente jornalista de guerra, nos leva, através de suas páginas, ao que foi a origem do ISIS que, nos tempos de uma Al-Qaeda forte, era conhecido como Al-Qaeda Iraquiana. De fácil entendimento e compreensão, o autor não faz nenhuma questão de ser imparcial. Ele deixa bem claro seu ponto de vista não deixando de mostrar que parte do que ocorre no oriente médio, é fruto de uma política internacional americana burra que, da forma que vem atuando, pode estar, mais uma vez criando algo ainda pior.

Segundo o autor, a tática de manter relações com países que financiam de forma direta e indireta o terrorismo – como Qatar e Arábia Saudita – sempre será um empecilho para que a paz na região e por conseguinte no mundo ocorram. Esses dois países, fazem o que o EUA fez na época da ocupação Soviética no Afeganistão: fornecem dinheiro e subsídios para que um grupo armado derrube este ou aquele regime que por algum motivo não os agrada. Na época do Afeganistão, tal estratégia resultou em Osama Bin Laden. Hoje, na tentativa de forçar uma democracia na região, todos esses países acabam cometendo o mesmo erro. No afã de derrubar o ditador Bashar al-Assad, entregaram verbas e armas para grupos considerados moderado. Tais recursos caíram facilmente nas mãos do ISIS que, com isso, conseguiu tomar parte do território Sírio e Iraquiano.

Não bastando isso, a política americana no Iraque de manter presos de diversos níveis de periculosidade na mesma cadeia – Abu Ghraib – acabou proporcionando que presos menos perigosos convivessem com extremistas da maior extirpe. É o caso do líder do ISIS, o califa Abu Bakr al-Baghdad. Considerado moderado, foi preso, cumpriu pena em Abu Ghraib com vários extremistas e saiu de lá transforma e se tornou o que é hoje.

Para o autor, enquanto nós, ocidentais não enxergarmos de forma séria e real o que é o oriente médio, pouca coisa realmente irá acontecer de positivo. O local é muito heterogêneo e soluções simples pouco surtem efeito. Além do fato de que forçar uma democracia pouco êxito pode ter. E, enquanto as coisas não mudarem, é possível que outros episódio como o do Charlie Hebdo e do Bataclan, venham a acontecer nos mostrando que ainda estamos muito longe de ver este terror virar história.
Boa leitura.


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