Desde minha tenra infância sou um aficionado por filmes de terror. E não sei com você, mas comigo, a medida que o tempo vai passando, vou ficando mais exigente com os sustos provenientes da telinha e quando consigo encontrar algo que consegue fazer isso com maestria, sou obrigado a aplaudir. E The Babadook é um filme sensacional.
Amelia (Essie Davis) vive uma mulher atormentada pela perda do marido. Vemos que apesar de abalada psicologicamente, ela tenta colocar a vida nos eixos, porém falha absurdamente. E ainda por cima não consegue esconder o paradoxismo sentimental em relação ao filho. Seu filho, Samuel (Noah Wiseman), é uma criança problemática, difícil de lidar – talvez refletindo um comportamento da mãe – que passa a sonhar (PESADELOS), após Amelia ler pra ele a história de um livro infantil: Mr. Babadook.
O garoto, que já era perturbado, passa a levar seu comportamento irracional a um nível absurdo (agora, Samuel confecciona armas pra deter o monstro) pra desespero de uma abalada Amelia que não sabe lidar com a situação. Além dessa convivência difícil que segue naturalmente para um antagonismo a convivência de ambos também é cercada de amor mútuo. O que torna tudo mais difícil.
Na minha insignificante opinião, o filme é, tecnicamente, impecável. Uma fotografia soturna, com tons monocromáticos, dá a dimensão daquela atmosfera opressora, quase sufocante. A trilha sonora forte, porém sutil, é perfeita na medida que consegue salientar aquele ambiente insano mas, outrossim, sem ser usada como artifício pra causar sustos desnecessários. Os efeitos, apesar de poucos, são muito bem elaborados. Tudo isso mesclado com um roteiro muito bem arquitetado.
Ainda que esbanje qualidade técnica, a diretora australiana Jennifer Kent, contou com atuações perfeitas. Essie Davis consegue transmitir toda a apatia inicial de Amelia, progredindo pra loucura culminando com o horror e a redenção. Noah Wiseman, apesar da pouca idade, consegue imprimir uma irritabilidade tão grande no personagem Samuel, que a vontade que dá é de por um sapato na boca no moleque e amarrá-lo pra que fique quieto. Mas consegue também, nos momentos de amor e ternura, transmitir todo um realismo tornando tudo absurdamente crível.
Outra coisa muito bacana, é o tal do livro Mr. Babadook. Feito em estilo gótico pelo ilustrador Alex Juasz. Com páginas que se abrem em pop-ups, com puxadores de movimentos. As ilustrações fortes e cheias de tensão, dão um ar de desespero (o que é aquela parte da mãe enforcando o filho?). Fiquei me perguntando como alguém pode ler aquilo para o filho.
Porém, o que mais me chamou atenção neste filme, não foram os sustos, o terror, ou o suspense mas sim, a mensagem escondida.
Antes mesmo da aparição de Mr. Babadook entrar em cena, Amelia já é uma pessoa atormentada. Totalmente compreensível: não bastasse a morte do marido, a data ainda é motivo de comemoração. O monstro não é mostrado de forma direta, o que faz questionar se é realmente real ou apenas um delírio dos personagens.
Quando Mr. Babadook passa a fazer parte do sonho de mãe e filho, vemos que a diretora faz uma alegoria muito importante e forte sobre traumas e depressão.
Quando Mr. Babadook passa a fazer parte do sonho de mãe e filho, vemos que a diretora faz uma alegoria muito importante e forte sobre traumas e depressão.
Por mais que tentamos esquecer, não é fácil lidar com acontecimentos traumáticos. Fato este muito bem traduzido num dos sonhos de Amélia:
“Quanto mais negar, mais forte eu fico. Você começa a mudar quando eu entro. O Babadook cresce sobre sua pele.”
Não é negando a existência de algo ou fingindo que não nos importamos que acontecimentos tristes deixarão de existir.
“O Babadook nunca sai de você”.
Só depois de entender que Babadook sempre estará com ela, que por mais que se esforce ele sempre estará lá é que Amelia pode finalmente enfrentá-lo. Não tentando destruí-lo ou o expulsando pra sempre, mas colocando ele num cantinho, sempre o expiando, lidando com ele, sabendo que por mais assustador que ele seja, é possível impor um limite e que, acima de tudo, o Babadook só poderá lhe assustar se você permitir.
Obs.: não sei se a autora quis fazer uma reflexão acerca da depressão. Na minha ótica foi isso o que ela fez, mas pode ser apenas minha tentando ver um sentido oculto em tudo. Afinal, as vezes um charuto é só um charuto.
obs 2.: antes do longa, a diretora já fizera um curta, de nome Monster, que deu origem ao longa. Segue em baixo o vídeo.
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