[RESENHA] Novembro de 63, de Stephen King

Ano de lançamento: 2011
Editora: Suma de Letras
Páginas: 727
Nota: 5/5 
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"Certa vez  li uma coisa [...] Era um provérbio japonês.

'Quando há amor, marcas de varíola,

são lindas como covinhas'.

Vou amar seu rosto, não importa como fique,

porque ele é seu"


Ah, Stephen King. O senhor consegue nos surpreender de formas inimagináveis. Não seria novidade que eu lhes dissesse que ele é o autor que mais gosto e, também, não seria nenhuma novidade lhes dizer que Stephen King é um dos maiores – se não o maior – escritor da atualidade. A mente que produziu obras primas do terror como Carrie,  Christine, It a Coisa, O Cemitério dentre outros, também conseguiu nos emocionar com histórias belas como A Espera de Um Milagre ou no livro de contos As Quatro Estações. Ele em o dom de fazer rir, chorar, ficar com raiva e mais uma montanha russa de emoções. Mas, desta vez, Stephen King conseguiu me tocar de um jeito muito profundo falando de algo não muito explorado em seus livros: amor. 

Apesar de ter namorado o livro desde o momento de seu lançamento em terras tupiniquins, não estava em meus planos lê-lo agora. Tenho o hábito de ler as primeiras páginas dos livros, só pra ver um pouco do que o futuro me espera. Simplesmente não larguei mais. Deixei de lado – por hora – Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski), e me perdi nas mais de 700 páginas que compõem à obra. E foi fantástico.

O Mote do livro é o seguinte. Um professor de inglês, Jake Epping, é apresentado por seu amigo, Al, a uma portal misterioso no depósito de sua lanchonete, que o leva direto para o passado no ano de 1958. As razões para Al mostrar o portal para o amigo não são somente para maravilha-lo. Ele deseja que Jake faça algo que pode repercutir na vida deles e, talvez, na vida de todos os terráqueos: impedir o assassinato de J.F. Kennedy. Para muitos, caso Kennedy não tivesse morrido, muita coisa poderia ter sido diferente. Principalmente o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã. Muitos soldados americanos morreram naquele conflito sem sentido e, muitos estudiosos afirmam que Kennedy não teria deixado tantos morrerem caso fosse reeleito. Pensando nisso que Jake aceita a oferta, muda seu nome para George Anderson e segue na tentativa de alterar a história do mundo. Mas isso não é tão simples quanto aparenta. Apesar de saber onde e quando Lee Oswald (a vida do atirador é bem dissecada no livro e acabamos vendo o quanto o cara era perturbado) fará os disparos que acabaram com a vida do presidente, muitas coisas acontecem com Jake nesse tempo pois, ele acaba descobrindo, que o passado não quer ser mudado.

Voltar no tempo sempre esteve presente na ficção e o tema sempre foi algo de difícil abordagem. Afinal, mudanças no passado alterariam o futuro? Ou, talvez criassem uma realidade paralela? Ou, ainda, tais mudanças não poderiam colapsar o tecido da realidade?  É um tema que, repito, é difícil de ser abordado e King consegue fazer tudo de forma redondinha. A ambientação dos EUA dos anos 50/60 é ótima. É tudo bem  retratado que parece que estamos lá. Sentimos os cheiros dos cigarros que na época, pareciam obrigatórios. Assim como aquela aura nostalgico-saldosista de que no passado as coisas eram mais simples e, por isso, melhores. King passeia por uma época onde o sonho americano pululava de forma intensa. Onde os bailes com suas danças eram motivo de aplausos e vivas.

A situação politica dos EUA e do mundo também é retratada. Temos certas pinceladas de uma Guerra Fria que quase esquentou  na crise de mísseis de Cuba. A luta pelo direito civis e dos negros também está presente. Todo esse pano de fundo é muito bem elaborado e retratado. Mas o que King realmente sabe fazer de melhor é mexer com nossas emoções. E faz isso através de seus personagens muito bem escritos. Poderia sitar muitos mas o destaque fica com Harry Dunning, faxineiro que emociona Jake com um texto retratando o massacre que seu pai, alcoólatra cometeu matando toda a família de Harry e o deixando com sequelas físicas e emocionais para o resto da vida. Em partes, é por conta dele que Jake aceita a proposta; e com Sadie - falaremos mais sobre ela adiante.

Após um tempo lendo, a imagem que  me vinha a cabeça quando tentava visualizar um rosto para Jake/Amberson, era do próprio King: Professor, alto, aspirante a escritor e a presença do álcool – apesar de ser com outra pessoa. Jake, parece que no passado encontra um novo eu. Fica um cara mais divertido e maravilhado com a vida numa época de carrões que bebiam combustível e movidos a Elvis Présley. Ele ia firme na sua missão, alterando o futuro aqui e ali (salvando uma família de ser chacinada e uma moça de virar paraplégica) até que uma bibliotecária surge na vida dele. Sadie, uma mulher doce, divertida e atrapalhada. Esta foi a personagem mais legal de toda a trama. Mais até do que Amberson. O que ela passou com ex-noivo foi trágico mas isso não impediu de que ela e Amberson tivessem um relacionamento lindo. 

King já foi muito criticado por não abordar de forma mais profunda o romance entre seus personagens. Em Novembro de 63, ele dá um show nesse quesito. O relacionamento de George Amberson e Sadie é a melhor parte do livro. King faz com que o romance entre eles pareça algo mágico que, em certo ponto, quando Amberson fica em dúvida entre a missão e a mocinha, eu torci com todas as minha forças para que ele escolhesse a mocinha. Foda-se Kennedy, foda-se Vietnã, foda-se tudo. O amor entre eles era belo demais e não podia terminar. 

Quem está acostumado com os livros de King sabe que nem sempre a um final feliz para os personagens. Apesar de neste até ter ocorrido, eu gostaria muito que fosse de outra forma. Nada que prejudique o livro – talvez, justamente por isso o livro me emocionou tanto – mas eu acalentei a esperança de que fosse diferente. King conseguiu puxar nossas emoções de forma tão intensa que alguns ciscos caíram aqui no olho.

Pra fechar a resenha – que já está bem longa – vale lembrar que King costuma usar personagens de outras histórias suas em seus livros parecendo que tudo ocorre num mesmo universo. Então, imagine a minha felicidade ao ver um Pleymonth Fury 58 e uma certa garota ruiva de Derry (Bevie-da-Neve) presente no livro. Uma funservice perfeita.

Livro mais que recomendado para os amantes de King, de viagens no tempo e de um bom romance.


Boa leitura. 

2 COMENTÁRIOS

Novembro de 63 é meu livro preferido dentre uns 200 que li até agora, pois além da escrita magnífica do King, possui viagens no tempo que gosto muito !

Realmente é um livro fantástico. Indubitavelmente, consta dentre os melhores livros que já li.


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