Editora: Suma de Letras
Páginas: 727
Nota: 5/5
(★) Top
"Certa vez li uma coisa [...] Era um provérbio japonês.
'Quando há amor, marcas de varíola,
são lindas como covinhas'.
Vou amar seu rosto, não importa como fique,
porque ele é seu"
Ah, Stephen King. O
senhor consegue nos surpreender de formas inimagináveis. Não seria novidade que
eu lhes dissesse que ele é o autor que mais gosto e, também, não seria nenhuma
novidade lhes dizer que Stephen King é um dos maiores – se não o maior – escritor
da atualidade. A mente que produziu obras primas do terror como Carrie, Christine, It a Coisa, O Cemitério dentre outros, também conseguiu
nos emocionar com histórias belas como A Espera de Um Milagre ou no livro de
contos As Quatro Estações. Ele em o dom de fazer rir, chorar, ficar com raiva e mais uma montanha russa de emoções. Mas, desta vez, Stephen King conseguiu me tocar de
um jeito muito profundo falando de algo não muito explorado em seus livros:
amor.
Apesar de ter namorado
o livro desde o momento de seu lançamento em terras tupiniquins, não estava em
meus planos lê-lo agora. Tenho o hábito de ler as primeiras páginas dos livros,
só pra ver um pouco do que o futuro me espera. Simplesmente não larguei mais.
Deixei de lado – por hora – Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski), e me perdi nas mais
de 700 páginas que compõem à obra. E foi fantástico.
O Mote do livro é o
seguinte. Um professor de inglês, Jake Epping, é apresentado por seu
amigo, Al, a uma portal misterioso no depósito de sua lanchonete, que o
leva direto para o passado no ano de 1958. As razões para Al mostrar o portal para o amigo não são somente para
maravilha-lo. Ele deseja que Jake faça algo que pode repercutir na
vida deles e, talvez, na vida de todos os terráqueos: impedir o assassinato de
J.F. Kennedy. Para muitos, caso Kennedy não tivesse morrido, muita coisa
poderia ter sido diferente. Principalmente o envolvimento dos EUA na Guerra do
Vietnã. Muitos soldados americanos morreram naquele conflito sem sentido e,
muitos estudiosos afirmam que Kennedy não teria deixado tantos morrerem caso fosse reeleito. Pensando nisso que Jake aceita a oferta, muda seu nome
para George Anderson e segue na tentativa de alterar a história do mundo. Mas isso
não é tão simples quanto aparenta. Apesar de saber onde e quando Lee Oswald (a
vida do atirador é bem dissecada no livro e acabamos vendo o quanto o cara era
perturbado) fará os disparos que acabaram com a vida do presidente, muitas
coisas acontecem com Jake nesse tempo pois, ele acaba descobrindo, que o
passado não quer ser mudado.
Voltar no tempo sempre
esteve presente na ficção e o tema sempre foi algo de difícil abordagem. Afinal,
mudanças no passado alterariam o futuro? Ou, talvez criassem uma realidade
paralela? Ou, ainda, tais mudanças não poderiam colapsar o tecido da
realidade? É um tema que, repito, é
difícil de ser abordado e King consegue fazer tudo de forma redondinha. A
ambientação dos EUA dos anos 50/60 é ótima. É tudo bem retratado que parece que estamos lá. Sentimos
os cheiros dos cigarros que na época, pareciam obrigatórios. Assim como aquela
aura nostalgico-saldosista de que no passado as coisas eram mais simples e, por
isso, melhores. King passeia por uma época onde o sonho americano pululava de
forma intensa. Onde os bailes com suas danças eram motivo de aplausos e vivas.
A situação politica dos
EUA e do mundo também é retratada. Temos certas pinceladas de uma Guerra Fria que
quase esquentou na crise de mísseis de
Cuba. A luta pelo direito civis e dos negros também está presente. Todo esse
pano de fundo é muito bem elaborado e retratado. Mas o que King realmente sabe
fazer de melhor é mexer com nossas emoções. E faz isso através de seus
personagens muito bem escritos. Poderia sitar muitos mas o destaque fica com Harry Dunning, faxineiro que emociona Jake com um texto retratando o massacre que seu pai, alcoólatra cometeu matando toda a família de Harry e o deixando com sequelas físicas e emocionais para o resto da vida. Em partes, é por conta dele que Jake aceita a proposta; e com Sadie - falaremos mais sobre ela adiante.
Após um tempo lendo, a
imagem que me vinha a cabeça quando
tentava visualizar um rosto para Jake/Amberson, era do próprio King: Professor,
alto, aspirante a escritor e a presença do álcool – apesar de ser com outra
pessoa. Jake, parece que no passado encontra um novo eu. Fica um cara mais divertido e maravilhado com a vida numa época de carrões que bebiam combustível e movidos a Elvis Présley. Ele ia firme na sua
missão, alterando o futuro aqui e ali (salvando uma família de ser chacinada e
uma moça de virar paraplégica) até que uma bibliotecária surge na vida dele. Sadie, uma mulher doce, divertida e atrapalhada. Esta foi a personagem mais legal de toda a trama. Mais até do que Amberson. O que ela passou com ex-noivo foi trágico mas isso não impediu de que ela e Amberson tivessem um relacionamento lindo.
King já foi muito
criticado por não abordar de forma mais profunda o romance entre seus
personagens. Em Novembro de 63, ele dá um show nesse quesito. O relacionamento
de George Amberson e Sadie é a melhor parte do livro. King faz com que o romance entre
eles pareça algo mágico que, em certo ponto, quando Amberson fica em
dúvida entre a missão e a mocinha, eu torci com todas as minha forças para que
ele escolhesse a mocinha. Foda-se Kennedy, foda-se Vietnã, foda-se tudo. O amor
entre eles era belo demais e não podia terminar.
Quem está acostumado
com os livros de King sabe que nem sempre a um final feliz para os
personagens. Apesar de neste até ter ocorrido, eu gostaria muito que fosse de
outra forma. Nada que prejudique o livro – talvez, justamente por isso o livro
me emocionou tanto – mas eu acalentei a esperança de que fosse diferente. King
conseguiu puxar nossas emoções de forma tão intensa que alguns ciscos caíram aqui
no olho.
Pra fechar a resenha –
que já está bem longa – vale lembrar que King costuma usar personagens de
outras histórias suas em seus livros parecendo que tudo ocorre num mesmo
universo. Então, imagine a minha felicidade ao ver um Pleymonth Fury 58 e uma
certa garota ruiva de Derry (Bevie-da-Neve) presente no livro. Uma funservice
perfeita.
Livro mais que
recomendado para os amantes de King, de viagens no tempo e de um bom romance.
Boa leitura.
2 COMENTÁRIOS
Novembro de 63 é meu livro preferido dentre uns 200 que li até agora, pois além da escrita magnífica do King, possui viagens no tempo que gosto muito !
Realmente é um livro fantástico. Indubitavelmente, consta dentre os melhores livros que já li.
EmoticonEmoticon