Ultimamente
ando meio emotivo. E não me refiro a coisas da vida cotidiana que inundam nosso
peito de sensações tão fortes que dão a impressão que o ar parou de circular - para
o bem ou para o mal. Sempre fui um cara emotivo – apesar da dificuldade
Homérica em chorar. Mas, esses lapsos emotivos aos quais me refiro, são de
coisas que acontecem na minha mente e referem-se à primeira do singular. São
disparados por algum agente externo, fato, mas, em outros outonos, não teriam
repercutido tanto na mente esquisita deste que vos escreve. Poderia citar
alguns momentos nesses últimos dias onde um furacão de sentimentos causou tanto
alvoroço aqui dentro que foi quase impossível impedir que os ciscos nos olhos
fizessem seu trabalho. Mas, hei de citar dois. Não aleatoriamente – jamais aleatoriamente
meu jovem doutor. Mas, outrossim, duas situações que emocionaram-me de uma
forma nostálgica, bonita e feliz: amor (mais sobre isso adiante) e amizade(que fica para um próximo texto dada a extensão deste).
Amor
Isso me ocorreu quando estava lendo um livro. Quando
comecei a lê-lo, não achei que fosse um romance. Na verdade, creia que fosse
alguma ficção cientifica, dado o que a sinopse dava a entender. Nada disso, meu
bom rapaz. O livro usa de alguns fatos e circunstâncias como pano de fundo para
discorrer sobre uma história de amor.
Histórias de amor são sempre – ou quase sempre –
atrativas. Gostamos de imaginar que aquilo que vemos na TV, cinema e literatura
pode existir na vida real. Sim, sim. Sei que não coloco (depois desse episódio,
talvez devesse usar o verbo no pretérito!) muita fé nisso, mas o que seria de
nós, esse aglomerado de poeira cósmica se não fosse à fantasia de que coisas
extraordinárias podem acontecer a nossa volta. Mas, o que mais me tocou no
livro, e aí que está o grande insight, foi que a beleza daquelas páginas que
ecoaram tão profundamente no meu ser, não me fizeram desejar que algo tão
mágico ocorresse comigo. Não. No livro, o cara tem que evitar um monte de
catástrofes. Ele segue impávido nessa linha, até que se apaixona e pode ser que
deixe sua missão pra lá.
São vários os livros ou filmes que colocam esse dilema:
escolher entre a missão e a mocinha (o). Nada de novo nisso. E, eu, me
imaginando na pele desses caras, sempre escolhia a missão – missão dada é
missão cumprida, meu chapa. Mas, desta vez não. Teria escolhido a mocinha. E,
lembram que eu havia dito que não tive vontade de viver um momento mágico com
alguém? Então, eu disse isso porque eu já vivo isso. Sim, sei que soa piegas e
cafona. Mas, talvez o amor seja assim mesmo: meio antiquado e nascido em outra
época já extinta, mas que sempre consta na nossa ordem do dia. E, enquanto lia
o livro, tive certeza que não teria hesitado. Teria ido embora com a mocinha e
foda-se o mundo. Não a mocinha do mundo fictício. Mas a mocinha do meu mundo.
Dei uma pausa no livro e fiquei pensando em como as coisas se arranjam pra que
cruzemos com pessoas fantásticas. Não porque nos completam ou por que não
viveríamos sem ela. Nada disso. Mas porque, ainda assim, é escolha nossa ficar
junto. Olhei em retrospecto e vi o quanto sou grato por ter essa mocinha no meu
mundo; por termos atravessado um monte de degraus defeituosos e, com um segurando
o outro, ajustamos o passo e seguimos em frente; por saber que minhas piadas
sem graça que não fariam nem um bebê rir, nos ouvidos dela, se tornam melodias
animadas que terminam em longos sorrisos; que saber que o mundo sem você
continuaria existindo, mas que nunca mais teria a mesma cor e seria sempre uma
tarde de inverno chuvoso; que, às vezes, ficar junto sem fazer nada, é uma das
atividades mais gostosas que existem; que ter te encontrado nesse quando e
nesse onde me tornaram melhor do que eu poderia imaginar; e me mostrou a
verdade do ditado japonês: "quando há amor, marcas de varíola são lindas como covinhas".
Esse monte de coisas passou pela minha mente e senti uma
felicidade imensa que me senti grato por estar aqui e agora. Por viver, por
respirar, por ter pessoas mágicas ao meu redor (Hey garota, você saca seu homem!). Não sei se foi somente o livro (muito bem escrito por sinal) que
provocou todo esse tsunami de emoções ou, se a passagem doa anos é que andam
fazendo o seu trabalho. O que sei é que fiquei feliz por saber que dentro desse
composto químico que atende pela alcunha de Ricardo, há espaço pra coisas tão
belas e lindas. E, mais feliz ainda, por notar que a fantasia, por mais bela
que seja, nunca será tão bela quanto a nossa vida. Basta saber pra onde olhar.
obs.: a mocinha que habita meu
mundo atende pela alcunha de Jessica Biet À você, minha nobre donzela, longos dias e belas noites.
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