Editora: Objetiva
Páginas: 395
Nota: 4/5
"O que Darwin foi educado demais
para dizer, meus amigos, é que dominamos a Terra
[...] porque sempre fomos os mais loucos,
os mais desgraçados homicidas da floresta."
Pensar que hoje seria possível uma vida sem celular é quase como pensar em viver sem contato social. O aparelho deixou de ser apenas um instrumento circunstancial de "contato" para ser uma ferramenta indispensável nas interações sociais - seja trabalho ou lazer. É quase como um novo apêndice de nosso corpo. Stephen King usa essa nossa dependência para ser o que possibilita a extinção da espécie humana - ao menos como nós à conhecemos.
Celular, um livro nem tão famoso de King, nos mostra um mundo onde alguma mensagem (chamada de Pulso), transmitida para todos os aparelhos celulares existentes, que faz com que as pessoas que ouviram a mensagem fiquem violentas e ataquem tudo à sua volta. Inclusive elas mesmas. Logo os meios de comunicação e toda forma de tecnologia acaba por ser afetada (???) ficando o mundo à beira de uma Era sem tecnologia.
Nesse cenário que Clay Ryddel, um autor de Hq, que não tinha celular precisa sair de Boston, onde se encontra, pra ir em busca do filho e da ex-esposa, que estão no Maine, pra saber se também não viraram zumbis e se não foram mortos pelos mesmos. No caminho acaba ganhando companhia de Tom McCourt, e da jovem Alice Maxwell que serão seus companheiros nesta empreitada. Mas nem tudo serão flores. Pra chegarem até lá, terão de enfrentar os zumbis numa guerra onde, aparentemente, não há espaço para que os dois grupos convivam.
Este não é o primeiro livro de King onde um evento acaba afetando toda a humanidade. Já presenciamos isso em "A Dança da Morte" (pra mim, um dos melhores livros do autor), e King sabe como retratar uma sociedade na limiar de sucumbir. Apesar de em Celular faltar alguma coisa pra tornar o livro tão fascinante quanto outros do autor.
Apesar de parecer doida a ideia - pessoas virando zumbis enlouquecidamente violentos por conta do celular, King consegue tornar as coisas palatáveis a ponto de questionarmos se não seria possível (hehe, exagerei...). O que ocorre com os zumbis - chamados de phooners - num segundo momento é algo bem interessante: eles passam a manifestar uma espécie de consciência coletiva.
Não podemos esquecer que o livro data da época de expansão do Facebook como ferramenta de interação social. Talvez King tenha olhado para essa nova sociedade se formando com base nisso e imaginou como seria se seres tivessem a capacidade de viver em completa conexão. De certa forma, vemos que muitos vivem como "zumbis", escravos de aplicativos e redes sociais, fazendo com que a vida real parece ser aquela, reproduzida por bits e gráficos - mas isso fica pra uma outra conversa.
As nuances dos personagens principais são bem aproveitadas: desde as angústias de Clay a serenidade e, por vezes, descrença de Tom. Mas, o personagem que mais chama atenção é Alice. Nela, King consegue mostrar como a loucura pode ficar a apenas milímetros de explodir sendo necessário algo pra se agarrar pra manter a sanidade. Nem que sejam calçados surrados de crianças. King faz um ótimo trabalho de exploração da psique da personagem sendo, ao menos pra mim, a única que consegui criar uma empatia mais acentuada.
O ponto fraco do livro foi a lentidão das coisas. Sim, sim, eu sei que o autor é assim, na maioria das vezes seus livros no início são lentos, mas que servem pra algum propósito na narrativa. Dessa vez não consegui captar esse porquê, o que tornou um pouco cansativa a leitura.
O final também não foi dos melhores. Não o enredo final, mas o final em si. Gosto dos livros do autor, dentre outros fatores, por não poupar os leitores de finais que são totalmente diferente daquilo que desejaríamos para os personagens. Apesar de ter ficado relativamente aberto, me incomodou um pouco o final.
Independente disso, o livro é muito, vale uma reflexão sobre nossos tempos e como em outros livros do King, um determinado evento não esperado por nossos protagonistas vem em auxílio dos mesmos pra ajudá-los em seus obstáculos.
Boa leitura.
obs.: agora em 2016 terá estréia um filme baseado no romance. Com John Cusack no papel principal, tendo ainda no elenco Samuel L. Jackson, Stacy Keach e Isabela Funhram. Segue o trailer.
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