DIREÇÃO: Babak Anvari
LANÇAMENTO: 22/01/2016
ANÁLISE FAST FOOD:
Evidentemente que nós aqui, desta parte do globo, não estamos habituados a
assistir filmes de origem iraniana. Principalmente, filmes de terror. Nesta
produção feita em parceria de diversos países (Irã, Jordânia, Qatar, Reino
Unido), vemos um retrato do cotidiano do Irã na guerra contra o Iraque na
década de 1980 e uma alegoria que um evento deste tamanho pode causar na vida
de gente comum.
Focado basicamente nas
vidas de Shideh (Narges Rashidi) uma ex-estudante de medicina que durante a
revolução cultural iraniana apoiou o lado errado, ou seja, o perdedor, e que
agora fica impossibilitada pelo governo de voltar a estudar, e sua filha, Dorsa
(Avin Mashandi), o filme vai mostrando o cotidiano delas ante a dificuldade,
para o lado feminino de viver em uma teocracia, e o perigo da guerra em ação. A
vida de ambas é mesclada em fazer as atividades que lhe são rotineiras e fugir
para o porão quando do aviso de bombas inimigas.
A vida delas piora quando
o marido de Shideh, Iraj (Bobby Naderi) é mandando para o front de batalha.
Deste ponto em diante, a narrativa que se focava no aspecto real do conflito
Irã/Iraque, começa a mudar para um escopo sobrenatural numa alegoria sobre as
mazelas que a guerra trás.
Narrado de forma lenta, o
longe imprime um tom sufocante de agonia ante o destino de nossas personagens.
Desde a primeira cena quando Shiden tem seu "enésimo" pedido de
voltar a estudar medicina negado pelo reitor da universidade, ou quando se
apressa a esconder o aparelho de vídeo cassete que tem em casa, o filme trata
de fazer um retrato do que foi (e talvez seja) viver no irã daqueles tempos.
Apesar de não usar de nenhum discurso incisivo pra imprimir seu ponto de vista,
o diretor deixa claro a injustiça e o equívoco de tais atitudes por parte do
governo. E seguimos assim por grande parte do longa neste clima – o que pode
deixar o telespectador que foi fisgado pelo trailer, um pouco decepcionado pelo
ritmo narrativo.
Aos poucos, porém, quando
o elemento sobrenatural é inserido, este tom claustrofóbico dá espaço para um
gênero de terror numa tentativa de usar os mitos islâmicos dos Djinns, como
simbolismo para as consequências e calamidades que uma guerra causa. Apesar de,
neste ponto em diante, o filme perder um pouco do seu impacto, ele consegue,
metaforicamente, apresentar um lado mais maligno e sombrio da guerra e isso, de
usar alegorias para falar de um mal real, o cinema de terror consegue fazer
como poucos gêneros, tornando assim mais palatável um enredo que seria
indigesto para muitos de nós.
Tendo como ponto forte do
longa a apresentação de um cotidiano difícil após a revolução cultural iraniana
e a piora desta situação em tempos de guerra, o longa usa de alegoria de terror
para reforçar a ideia do mal que a guerra trás na vida das pessoas que não
pediram para que ela acontecesse. Pessoas que sem entenderem por que tem suas
vidas reviradas e destruídas por entidades que não estão nem um pouco
preocupadas com suas vidas, mas sim, em causar dano e tornar pior o que já era
difícil. Assim como o mal causado pelos Djinns.
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