Um livro aparentemente superficial, mas que carrega uma profundidade imensa e que nos faz refletir sobre nossas dualidades, imperfeições e medos além de render algumas lágrimas.
Foto site: saidaminhalente.com |
Nota: ★★★★★
A
eminência da perca de um ente querido é algo avassalador. Imaginar que, daqui a
pouco, aquele ser que tanta importância tem na nossa vida pode não estar mais
aqui é algo difícil de equacionar. Essa situação soa mais desesperadora ainda
quando quem passa por isso é uma criança: até que ponto ela consegue suportar?
O que será daqui em diante? Como equilibrar a miríade de sentimentos
possivelmente conflitantes? Como não sucumbir junto e se deixar levar por esse
rio de sofrimento e angústia? Mostrando isso, a perca e a dor pelos olhos de
uma criança, Patrick Ness consegue
nos brindar com um livro emocionante e belíssimo.
Logo
nas primeiras páginas do livro, você já nota que o tema abordado é pesado. Connor O’Maley,
um garoto que vive sozinho com sua mãe, Lilly, que está passando por uma fase
difícil pois está muito doente e talvez não consiga resistir. Seu pai mora em
outro país e sua avó não é das pessoas mais fáceis de conviver. De cara, o
autor já nos presenteia com toda essa gama de informações para nos inserir na
atmosfera que cerca Connor. Somado a tudo isso, Connor ainda é vítima de bullying na escola e vem sofrendo, já algum tempo, com
um pesadelo que lhe assusta e parece lhe consumir.
É
impossível não criar uma ligação automática com Connor. O momento pelo qual ele
está passando nos toca profundamente. Ter de equacionar tudo isso com a
iminência da perca da mãe requer um espírito de grandeza muito grande para não
sucumbir, principalmente se tratando de uma criança. Toda a fleuma aparente de
nosso pequenino, esconde um turbilhão de sentimentos fortes e reprimidos,
afinal, como reage ama criança com a possível morte da mãe? É neste ponto que
surge o “Monstro”.
Aqui
as coisas começam a tomar um rumo que, apesar de flertar com o fantástico finca
os pés em uma bela alegoria. O Monstro que surge para Connor, é uma
personificação da árvore de Teixo que ele avista de sua janela. Apesar da
opulência ele não assusta o nosso garoto. Surgindo sempre (QUASE SEMPRE) à meia
noite e sete, ele vem pra contar três histórias e ouvir uma quarta.
As
histórias narradas pelo Monstro são uma fonte magnifica de reflexão. Apesar de
apresentarem uma moral duvidosa aos olhos de Connor, os relatos transmitidos
pelo monstro visam mostrar que nem sempre as pessoas são uma coisa só. Como
disse Paulo Coelho, "bem e mal são
faces diferentes da mesma moeda". Tanto a rainha bruxa, o pároco santo
e o garoto invisível guardam lições profundas que tem um propósito bem
específico na vida de Connor. Todas as histórias contadas pelo monstro são uma
forma de inserir na mente dele que existe sempre uma dualidade na vida. Nem
tudo é uma estrada de uma única via, preto no branco. O fato de termos feito
algo positivo não implica necessariamente que sejamos bons e a máxima se aplica
ao inverso.
Tendo
contado sua história, o Montro exige que Connor lhe conte a quarta. Aí, notamos
o porquê das histórias do monstro e, principalmente, como é complicado viver em
situações extremas. Os sentimentos conflitantes e paradoxais de Connor são um
retrato daquilo que nós, seres humanos, somos: seres totalmente complicados. E
esta verdade, a verdade de Connor, mostra o quanto isso nos torna frágeis e
belos.
O
final do livro é algo de embargar a voz de qualquer um. É um sentimento que consegue
ser compartilhado mesmo por aqueles que não tenham passado pelo mesmo que nosso
garoto. É um momento forte, mas que foi passado ao papel de forma muito bela
pelo autor que conseguiu mesclar algo profundo e extremamente triste com uma
singeleza magnifica. E toda essa acurácia narrativa não se deve somente a Ness.
A
ideia do livro foi originalmente concebida por Siobhan Dowd, porém ela acabou sucumbindo de câncer aos 47 anos
antes de terminar a obra. Apesar da recusa inicial, Ness acabou aceitando o
desafio e entregou um trabalho que deixaria Dowd orgulhosa. Vale citar também
que o livro já se tornou filme e a adaptação conseguiu transpor para as telas
toda a carga emotiva do livro com um toque visual incrível. Tem na Netflix e vale à pena conferir.
Tendo como foco a dor da perda, Sete Minutos Depois da Meia Noite é um retrato das nossas contradições que nos impelem por caminhos que nem sempre entendemos, mas que cada qual à sua maneira, salientam aquilo que temos de mais imperfeitos: somos humanos.
Boa leitura.
Sete Minutos Depois da Meia-noite (A Monster Calls, 2011)
Páginas: 160
Autor: Patrick Ness
2 COMENTÁRIOS
Excelente resenha! Me inspirou para ver de novo. Acho que foi a melhor adaptação do gênero que eu vi até agora. Além a história é boa, é um livro que nos faz refletir sobre sentimentos humanos muito profundos. Para mim é uma das melhores obras de fantasia que foram escritas. É bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filmes de fantasia baseados em bons livros. Vi que J.A. Bayona foi o responsável e acho que o seu trabalho é bom, além de que o elenco é de primeira com Lewis MacDougall. Estou ansiosa para vê-lo de novo! A verdade é um filme que não devem deixar de ver.
Olá Andrea..., tdo certo?
A adaptação é muito boa mesmo. Conseguiu transpor toda carga emotiva do livro. E, para nossa sorte, nos últimos anos, várias adaptações de qualidade estão chegando às telonas...
Obrigado pela visita...
=)
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