Outro
dia filmei algumas formigas fazendo seu trabalho habitual. Elas caminhavam em
fila, cada qual levando seu fardinho
de folhas com seu propósito bem delimitado por sua programação biológica. Não sei
o que se passa na cabeça de uma formiga; se ela para e pensa: bem, hoje não vou
trabalhar! Vou ir pro baile anual das formigas natalinas pois a vida é muito
curta, ou coisa assim. O fato é, ao que tudo indica, o propósito da formiga é
este: nascer, crescer, carregar folhas – reproduzir, quando pertencente a esta
casta- e morrer, mesmo que elas não saibam disso...
Daquele
dia em diante, e cada vez com mais frequência, me pergunto qual o sentido da
vida. Para o religioso a resposta e bem simples: isso aqui é só um laboratório
onde você será testado no decorrer da sua vida. Cada escolha sua determinará
qual será seu destino em uma outra vida. Agora, para pessoas que não são assim,
tão atadas a princípios místicos, as coisas podem não ser tão simples assim...
Claro,
há aqueles que creem que não há propósito algum sendo a vida uma simples
manifestação de processos químicos e biológicos e que um dia, de acordo a
Termodinâmica e sua Entropia, tudo resultará em uma estagnação total de energia
levando ao que chamamos de morte. Mas, infelizmente, não me sinto pertencente a
nenhum desses dois grande grupos...
Sendo
assim o que me resta? Qual seria o sentido de tudo isso? E, acima de tudo: será
que há algum sentido em tudo isso?
Sim,
eu sei que muitas pessoas melhores e mais inteligentes que eu se debruçaram
sobre estas questão e muitos, provavelmente a maioria, falhou em chegarem
alguma conclusão que sanasse seus questionamentos. Mesmo assim, é complicado não
pensar nisso. De uns tempos pra cá muitos que me são próximos estão partindo
deste plano e toda vez que isso ocorreu – alguns inclusive novos demais – perguto-me:
e agora? Será que há algo além da luz branca no fim do túnel? Será que há o tal
túnel? E a luz?
Por
vezes vejo tanta maldade no mundo, tanta gente boa padecendo que me forço a
acreditar que tende haver algo. Não pode ser justo que haja tanto sofrimento
direcionado a pessoas boas ou inocentes sem que exista alguma coisa atrás da
cortina que dê a verdadeira felicidade a essas pessoas. Não pode ser justo
acabar tudo assim, eternamente para aquela criança que morreu porque uma bomba
jogada por alguém em um banker
acertou o alvo errado; ou que aquele jovem tenha morrido porque suas células
simplesmente começaram a se reproduzir de forma desenfreada...
E
tem momentos que chego a uma espécie de esboço de conclusão que, enfim, é só
isso mesmo. As asas indiferentes do azar estão aí roçando em qualquer um e é
impossível determinar quem será o próximo acariciado pelo seu abraço. E tanto
uma conclusão quanto a outra me assustam!
Havendo
um outro Onde, quem define quem vai para o lugar bom e o lugar ruim? Não, não
compactuo com a ideia de um ser divino, misericordioso e de amor que deixaria
seus filhos arderem eternamente no fogo da perdição. Dona Lú, senhora minha
mãe, com todas as suas loucuras e contradições não deixaria que isso ocorresse
com este que vos escreve. Imagina em ser de amor! E, no outro espectro, viver
assim, sabendo que após isso não há nada, o que sobra para esses que foram tão
cedo e não puderam desfrutar daquilo de bom que nosso mundo doido e inconstante
tem para oferecer?
Claro
que não cheguei à conclusão alguma. Ideias assim são abstrusas demais para uma
mente tão pequenina que nem a minha. Quem sabe algum dia chegue a
alguma conclusão. Ou talvez a ciência evolua e possa provar a totalidade dessas
coisas. Ou eu possa ser tocado pela chama de algum espectro divino e me
encontre em alguma forma de fé onde as respostas serão todas respondidas. Enquanto
isso, tento ser que nem as formiguinhas com seu caminho, tentando viver com
algum propósito, mesmo sem saber qual propósito seria...
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