Antes
de ler, saiba que esta resenha estará recheada de Spoliers. Leia por sua conta e risco...
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Este
que vos escreve confessa que gosta muito de biografias. Sim, sou daqueles
futriqueiros que gosta de saber a vida dos artistas. Nesta levada, já li a
biografia Charles Manson, Kurt Coubain, Paulo Coelho, Olga Benário, do Pink
Floyd, só pra citar algumas. Mas, confesso, que o que mais me impulsiona ao ler
biografias é descobrir como é o individuo por trás do astro. Quais são seus
paradigmas, ideias, enfim, tudo que ocasionalmente reflete no processo criativo
do biografado em questão. E, parece-me até, lendo a história de vida de muitos
artistas, que há uma correlação direta entre genialidade – melhor, criatividade
– e loucura. Porém, nem nas minhas melhores conjecturas poderia imaginar o que
iria ler na história de vida deste individuo chamado Philip K. Dick.
Philip
K. Dick, se você não sabe quem é, foi um escritor de ficção cientifica responsável
por escrever livros que viraram filmes marcantes: Blade Runner, Minority
Report, Vingador do Futuro, dentre outros. Sim,
aqui no Brasil o autor não é muito conhecido apesar de suas obras serem
fantásticas, ricas e, talvez, terem um pé na realidade – mais sobre isso
adiante. E isso também se refletiu em sua carreira pois, o autor só conseguiu
viver tranquilo com os ganhos de suas obras já perto do final da vida apesar de
ter escrito muita coisa.
Mas
calma aí, estou atropelando tudo. Vamos para o inicio.
“E Estou Vivo e Vocês Estão Mortos”,
biografia escrita pelo francês Emmanuel Carrère, trata desde o nascimento de Dick, que logo
em seus primeiros dias já foi abatido por uma tragédia, a morte de sua gêmea Jane, que terá um impressão acachapante no futuro de Dick, até seu
derradeiro momento. É interessante notar como Carrère pesquisou fontes, conversou
com pessoas e em muitos momentos meio que romanceou sua biografia. Pode parecer
meio confuso já que estamos tratando de uma biografia, mas não é. O trabalho de
Carrère é muito bem feito e escrito de tal forma que te impede de largar a
leitura. Vale ressaltar que este magnetismo ante ao livro não se deve somente a
escrita do autor, mas também e principalmente a vida de Dick.
Gênio,
louco ou iluminado? Está pergunta que ficará batendo em sua mente ao final
desta biografia. Que Philip K. Dick era doidaço não há dúvidas, mas muitos
naquela época eram. Estamos falando de meados do séc. passado onde o consumo de
LSD e outros alucinógenos que visavam expandir a consciência, eram vistos como
parte da rebeldia da juventude. Lembrem-se da icônica música dos Beatles: “Lucy in the skys with diamonds...”. porém
Dick foi mais além.
"...pessoas dizem se lembrar de vidas passadas.
Eu digo que recordo de uma diferente,
muito diferente vida presente. "
A
grande maioria dos seus livros lidam com seres que vivem em mundos que não são
reais, espécies de simulacros ou realidades inventadas. São prisioneiros dessas
falsas realidades e precisam descobrir uma forma de se libertar. Pois bem. Em determinado
momento de sua vida, Dick começou a crer piamente que as bases de seus livros –
a ideia de um mundo simulado – era na verdade real, que ele era um profeta tal
qual João Batista e que seus livros nem eram de fato criações suas e sim, eram
ditados por um ser divino. Louco, não?
De
forma resumida: Philip K. Dick acreditava que vivíamos em uma Matrix gerada por realidade virtual tal
qual o filme das Wachowski fez com Neo e seu bando no filme de 1999.
Não
bastasse isso, Philip vivia com manias de conspiração de que estava sendo
vigiado pela CIA e o FBI. Lógico que as pessoas à sua volta o tratavam por
louco, porém, as coisas começam a adquirir uma tonalidade cinza quando muitas
das ideias loucas de Dick começam a se concretizar. Só pra citar uma que talvez
seja a mais intrigante:
ZONA DE EXPOILER ULTIMATE
Dick, através de uma visão, descobre qual a doença que seu filho tem –
que os médicos não conseguiam diagnosticar – e salva seu descendente. Isto eleva
as certeza de Dick e, até seu último suspiro, estava crente em tudo isso que
declarava.
“ao ouvir um música dos beatles, "living is easy with yous eyes closed" uma luz branca o ofuscou e soube que seu filho estava com a hérnia inguinal direita encarcerado e precisava ser operado já...”
Bem,
mas não pense você que o Carrère foque somente nesta parte de Philip. Ele também
aborda outros tópicos como o abuso de drogas, os vários relacionamentos e uma
infinidade de coisas. Inclusive os livros do autor e aí esteja, talvez, o ponto
fraco da obra. Na ânsia de discorrer o processo de criação dos livros de
Dick, o autor acaba soltando vários spoilesr
sem alertar previamente o leitor. Quem se incomoda com isso terá várias surpresas
negativas.
Eu
Estou Vivo e Vocês Estão Mortos, frase extraída de um dos romances de Dick e
proferida por ele em uma conferência de ficção cientifica na França em 1977, é um belo
retrato de um homem que viveu de forma ímpar seus dias aqui neste plano, foi
taxado de maluco e deixou uma extensa obra. Quem sabe não o encontramos por aí,
em outras realidades...
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Eu estou vivo e vocês estão mortos (Je suis vivan et vous êtes morts, 1993)
Páginas: 360
Autor: Emmanuel Carrère
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