Filme "Extraordinário" é uma manual prático de como emocionar o espectador...


A única razão de eu não ser comum é que ninguém além de mim me olha dessa forma
(August Pullman)
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Um dos grandes desafios de adaptar uma obra literária para as telonas é conseguir captar a essência da obra original e reproduzi-lá em outra mídia. São muitos os casos de livros de sucesso que solaparam violentamente quando foram para às telonas. Quando o livro em questão tem seu ponto forte em emocionar o leitor, fazer emergir esta mesma emoção no telespectador, sem se tornar uma coisa pedinte e melosa, é mais difícil ainda. Graças ao lado luminoso da Força, não é o caso da obra em questão, pois o diretor Stephen Chbosky conseguiu fazer algo Extraordinário (hahah, perdoem-me, não deu pra segurar o trocadilho...)

Adaptado do livro homônimo de 2013 da autora R.J. Palácio (resenha AQUI), Extraordinário conta a história de Ausgust Pullman, um garoto que nasceu com problemas genéticos graves o que determinou que ele apresentasse uma aparência diferente. Educado por sua mãe em casa, Auggie foi meio que criado dentro de uma redoma de amor e proteção dos males externos por sua família. Porém, seus dias de tranquilidade são abalados quando seus pais decidem matricula-lo em uma escola regular para cursar a quinta série...

O filme é dirigido por Stephen Chbosky. Ele já dirigiu outra adaptação muito carinhosa e querida pelos fans, As Vantagens de Ser Invisível. Aqui, ele soube mesclar o emocional com humor de forma precisa levantando questões relevantes para nossa convivência como ser social: o diferente é ruim?  por quais motivos vale à pena lutar? O quanto deixamos de enxergar quando nos focamos demais em  um ponto só? Crianças são sempre inocentes? É tão difícil assim ser gentil? Será que minha vida é realmente tão pior que a sua? São perguntas que vão sendo feitas no decorrer da trama e aparecem sempre nos momentos certos de cada cena. Muitas delas mexem com nossos sentimentos nos fazendo reavaliar muitas coisas sobre os outros e principalmente, sobre nós mesmos. Mas o autor sabe dosar o apelo emocional do filme com cenas engraçadas o que suaviza a narrativa. Li o livro e tinha receio que fizessem um negócio sentimentalóide com o objetivo de trazer emoções de forma gratuita. Não foi o caso. E tudo isso funciona, também, pela escalação do elenco...

Olwen Wilson faz o pai de Auggie, um cara engraçado que sabe que o mundo lá fora tem tudo pra dizimar o filho mas tenta levar tudo com muito bom humor; Isabel Pullman ( Julia Roberts)  a mãe de Auggie, que basicamente parou sua vida pra “viver” a do filho. Abnegada, não mede esforços pra tornar o mundo de Auggie melhor o que acaba deixando-á míope para outra coisas como a filha mais velha, Via Pullman (Izabel Vidovic), que aprendeu a viver à sombra do irmão de forma até compreensiva, Porém, como qualquer um de nós precisa de atenção e sente que é deixada de lado...

A vida na escola não é fácil para Auggie. Acostumado com os olhares assustados das pessoas, ele não está preparado para uma das faces abstrusas da psiquê humana: bulliyng. Apesar dos cuidados que o diretor da escola toma, é complicado controlar crianças quando estas decidem serem más e há um deles,  que é particularmente terrível. Mas o autor faz uma pergunta sobre o porque deste garoto ser ruim e a resposta pode estar externa à ele: há uma cena com os pais dele conversando com o diretor mostrando o quanto podemos incutir em nossas crianças comportamentos negativos e execráveis pautado num manto de que temos o direito para tal...

E, claro, um bom filme com crianças no elenco não pode faltar amizade. Will (Noah Jupe) acaba se aproximando de Auggie a pedido do diretor mas acaba realmente gostando dele. Mas, nem todos os outros alunos gostam do novo aluno e ir contra o comportamento dos outros à sua volta requer muita presença de espirito e foco naquilo que ser quer. Por isso, em uma determinada cena da festa de Halloween, Will faz algo que acho "compreensível" e evidencia o quanto às vezes, trabalhamos para manter perto pessoas ou algo que nem queremos de fato. Fazemos somente para pertencer, pra não ser o diferente...

Reparem que não falei muito de Auggie. Pois bem, é de proposito. Se fosse falar aqui sobre ele, este texto ficaria do tamanho de uma monografia tão amplo os ensinamentos que este garotinho nos traz. Vivido de forma ótima por Jacob Tremblay, Auggie sabe que é diferente mas não quer nada melhor nem pior que os outros: só quer ser comum. E o desenrolar da sua vida com aprendizados e percas é de encher os olhos de tão emocionante. Há uma cena no final do filme, num acampamento de verão em que Auggie e Will tem um determinado problema mas que graças a alguns fatores (pessoas?) que eles não imaginavam, conseguem se safar que é phoda. O diretor conseguiu transmitir tudo o que aquilo representou para Auggie sem dizer nada. Só mostrou. Foi foda pá caráleo (fiz um esforço “daqueles” pra não chorar... =) e aquilo toca a gente de forma tão profunda e me lembra que em alguns momentos, gestos tão simples podem significar uma vida inteira...

Belo, engraçado, emocionante e cheio de aprendizagens, Extraordinário faz jus ao material fonte entregando um filme bonito que deve ser apreciado por todos aqueles que tencionam tornar-se algo melhor do que são agora. São lições pra se levar pra vida toda pois como disse o diretor Buzanfa: “se forem apenas um pouco mais gentis que o necessário, alguém, em algum lugar, algum dia, poderá reconhecer em vocês, em cada um de vocês, a face de Deus...”  


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Extraordinário (Wonder, EUA 2017)
Roteiro: Jack Thorne, Steve Conrad, Stephen Chbosky (baseado em romance de R.J. Palacio)
Direção: Stephen Chbosky
Elenco: Jacob Tremblay, Julia Roberts, Owen Wilson, Izabela Vidovic, Danielle Rose Russel, Noah Jupe, Millie Davis, Bryce Gheisar, Mandy Patinkin, Daveed Diggs, Nadji Jeter, Ali Liebert, Elle McKinnon, James Hughes, Ty Consiglio, Crystal Lowe, Kyle Harrison Breitkopf, Sonia Braga 
Duração: 113 min.


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