[RESENHA] DOUTOR SONO, de STEPHEN KING

Ano de lançamento: 2014
Editora: Suma
Páginas: 475
Nota: 5/5*

Razoávelmente spoilerenta!

Quando fiquei sabendo que o ótimo livro “O Iluminado” teria uma continuação, sentimentos ambíguos manifestaram-se: sempre tive vontade de saber o que se passara com o futuro de Danny Torrence após escapar dos horrores no quarto 217 do Hotel Loverlock, mas, tinha um certo receio de que uma seqüência pudesse não ficar no mesmo patamar de O Iluminado e assim, manchar algo que estava perfeito. 

Digo pra vocês que o receio se dissipou logo nas primeiras páginas. “Doutor Sono” é um dos melhores livros que li de Stephen King. Não sei se por trazer junto toda a bagagem de seu predecessor narrativo mas o fato é que King, mais uma vez, me surpreendeu positivamente.

Meu maior receio com relação a narrativa residia no fato de que seria difícil transpor para o Danny atual, todo o carisma e encanto do Danny do passado. Outro alerta vermelho residia na ausência de Jack Torrence. Apesar de tudo o que o pai de Danny fizera (Here’s Jhonny, lembram?), ele fora algo essencial da narrativa e do horror de O Iluminado. Não entrarei na questão de Jack (pra não ser tão spoilerento) mas, quanto a Danny, é como se King tivesse visto o menino crescer e, apenas transpusesse para o papel, aquilo que acompanhara. 

Danny, agora Dan, um homem de meia idade que vive “sem eira nem beira”, nunca parando em lugar algum por muito tempo. Apesar de distante no tempo, os fatos ocorridos no Loverlock ainda permeiam a mente de nosso sobrevivente. Pra tentar encobrir as memórias – e manifestações – do Hotel (REDRUM, MURDER!) Dan acaba seguindo os passos do pai e encontra alento na bebida. Assim como o pai, Dan também muda (enlouquece?) quando a bebida domina suas atitudes. 

É difícil tecer qualquer juízo de valores quanto as escolhas de Dan quando pensamos o que não foi para ele crescer com os fantasmas do Loverlock lhe espreitando atrás da porta, no banheiro ou em qualquer outro lugar. 

Tudo ia caminhando para um fim trágico para Dan, não fosse o refúgio encontrado em uma cidadezinha. Lá, consegue um emprego como zelador num asilo e logo, passa a se tornar o Doutor Sono. Sempre com a ajuda de um gato – que prevê quem vai morrer – Dan usa o que sobrou de sua iluminação pra ajudar as pessoas a passarem para o outro plano ( “Basta que você durma!” ). 

As coisas iam bem, mas com King, nada é fácil assim, até que uma garotinha, Abbra Stone, que assim como Dan, também é iluminada - com um poder muito maior que o dele, pede ajuda pra conter o poder de um grupo denominado “O Verdadeiro Nó”, grupo de pessoas (na verdade, vampiros psíquicos) que viajam pelo país em trailers roubando a iluminação (chamado vapor) de outras crianças iluminadas e, pra conseguirem se apoderar deste poder, precisam lançar mão de práticas hediondas e cruéis. 

O horror claustrofóbico do Loverlock ficou pra trás, porém, em Doutor Sono, King consegue apresentar o terror na figura do Verdadeiro Nó. A arte do autor de contar algo inverossímil de uma forma tão real, quase sólida de tão palpável, talvez seja seu maior trunfo. Não me refiro somente ao tema a ser abordado pelo autor mas, outrossim, a forma que a escrita se dá. A riqueza de detalhes é algo que sempre admiro nos livros de King. 

Diferente de alguns livros antecessores, como “Sob a Redoma”, Doutor Sono tem somente 475 páginas. Claro que a escrita foi mais fluída, entretanto, em alguns momentos o prolixismo de King esteve presente. Pra mim, isso raramente é motivo de chateação nos livros de King – em verdade, sou fã desta faceta da escrita do autor – e essa mistura bem dosada de lentidão e fluidez faz com que seja difícil largar a leitura. Atrelado a tudo isso, temos uma trama complexa, com uma exploração perfeita da “psiquê” de cada personagem e um final que, bem, dispensa comentários.

Livro EXTREMAMENTE recomendado




EmoticonEmoticon