Ano de Lançamento: 2013
Editora: Geração Editorial
Páginas: 255
Nota: 5/5
"Depois que perdi meu emprego, tudo se descontrolou. Da cadeia, me mandaram para o hospital, onde eu ficava pelado, embora houvesse muita roupa na lavanderia. Se existe inferno, o Colônia era esse lugar"
Imagine um local para onde eram enviados homossexuais, epiléticos, garotas grávidas antes do casamento, doentes mentais, mendigos, indigentes, militantes políticos, acoólatras, enfim, toda uma gama de pessoas indesejadas. Lá, elas eram despidas, dormiam em camas de palha, bebiam água do esgoto que corria a céu aberto entre um pavilhão e outro, mulheres incapazes eram estupradas, a agressão era comum, passavam fome, morriam de frio e, não bastando toda a sorte de vilania, os corpos do mortos ainda eram vendidos de forma ilegal a instituições de ensino.
O relato acima mais parece algo saído de uma ficção ou de algum campo de concentração Nazista. Mas não meus caros, este local foi bem real e aconteceu aqui em terras tupiniquins. Estamos falando do Hospital Colônia de Barbacena (MG).
Inaugurado em 1903, o hospício teve seu auge de funcionamento na década de 1960 quando 6000 pacientes ocupavam um local projetado para 200. Uma grande porcentagem das 60 mil mortes no local, ocorreram nessa década - uma média de 16 pessoas morriam por dia neste período, normalmente de frio ou fome. Os corpos que não eram vendidos ilegalmente para faculdades, eram derretidos com ácido no pátio da instituição na frente dos outros internos.
A jornalista Daniela Abex, teve conhecimento disso folheando um exemplar da antiga revista O Cruzeiro. Posteriormente a Ditadura tratou de silenciar qualquer tentativa de intervenção no Colônia.
Além de todos os horrores que cercam a história do hospício, o que mais me chama a atenção é o consentimento e participação dos funcionários com aquele pandemônio. Outro dia, li um livro sobre como foi a reação, relação e atitudes das pessoas na época do lançamento do livro Mein Kampf de Adolf Hitler e, posteriormente, o que elas pensavam das políticas racistas do chanceler.
Uma coisa que percebi, tanto na reação das pessoas a Hitler, quanto com relação aos funcionários do Colônia, é que toda ideia ou ação, por mais absurda que seja, se tem o respaldo da maioria e juntamente a isto, nos faz olharmos para nós mesmos como seres superiores, provavelmente será aceita como algo bom ou, no mínimo, necessário para um bem maior.
Poderia citar inúmeros exemplos das loucuras dos funcionários do Colônia sitados no livro, mas vou me ater a uma que pra mim, representa bem o desespero dos pacientes quanto e o anestesiamento empático dos funcionários.
Muitas mulheres foram estupradas lá e, os filhos nascido desse ato hediondo, eram simplesmente arrancados das mães e iam para algum lugar de adoção. Para livrarem-se das investidas do funcionários, as mulheres sujavam o próprio corpo com fezes e se banhavam no esgoto afim de repelir possíveis estupros.
Cerca de 70% dos internos não tinham diagnósticos de problemas mentais mas ainda assim acabavam lá. O intuito da autora ao escrever essa história era tornar pública uma passagem lamentável da história brasileira como também evitar que coisas semelhantes venham a acontecer. Creio que a primeira parte ela consegui com exito. É um livro reportagem muito bem escrito, detalhado e com um acervo de imagens fortes e chocantes. Não há como não sentir uma tristeza e indignação profunda a cada absurdo que ocorreu no Colônia.
Quanto a segunda, tenho lá minhas dúvidas. O mesmo ser humano que é capaz de se doar para outrem, também é capaz de coisas abomináveis.
Quanto a segunda, tenho lá minhas dúvidas. O mesmo ser humano que é capaz de se doar para outrem, também é capaz de coisas abomináveis.
Boa leitura.
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