"A introspecção é o espelho
mais valioso que existe"
(Nelio Urias)
São três e alguma coisa da madrugada e como morpheus ainda não veio me visitar, pensei em escrever alguma coisa. Mas, sobre o que escrever? Sim, sim. Tem muita coisa que pode ser dita, afinal, vivemos momentos conturbados na nossa politica e qualquer texto que cite Lula, Dilma, Cunha, Temer, Moro e afins, renderia algumas visualizações (e muitos xingamentos). Mas não, não estou com muito ânimo pra discorrer sobre esse tema - fica pra uma próxima. Por hora hei de me concentrar sobre a ideia que fazemos de nós.
Parece algo fácil, né? Escrever (pensar) sobre si. Vivemos à todo instante fazendo escolhas, trilhando caminhos e cremos que esta parte da nossa existência, por si só, já é algo que diz respeito sobre o que a gente é. Mas, às coisas não são tão simples assim quanto sonha nossa vá filosofia. Olhar para o reflexo no espelho e enxergar algo que está além da superfície não é fácil. No que concerne à mim, por ocasiões inumeráveis, me pego projetando um imagem completamente astigmática do meu eu. Às vezes supervalorizo minhas capacidades e minhas atitudes perante a vida enxergando um Ricardo muito melhor do que realmente é. Já, em outras ocasiões, aquela parte da mente que gosta de auto-sabotagem fica latente e tende a minimizar a verdadeira importância que realmente tenho.
Muitos foram os que passaram por este pálido ponto azul e salientaram a importância de conhecer o que realmente se é e o que se quer. Sócrates já dizia: "conhece-te a ti mesmo¹" a séculos atrás. Mas a abrangência da frase sitada vai além da sabedoria adquirida referente a si mesmo. Segundo os seguidores da filosofia socrática, a vivência desta prática navega por oceanos mais profundos. A referência vai além do auto-conhecimento pois conhecer a si mesmo é um passo na busca do conhecimento sobre o mundo.
Mas a busca por este auto-conhecimento é algo complicado. É muito mais fácil se debruçar sobre as ocorrências da vida alheia do que voltar-se pra dentro e ver o que realmente está acontecendo consigo. É mais simples olhar o erro do outro, a falha do outro, a culpa do outro, a corrupção do outro do que vasculhar os porões do nosso DOI/COD e ver que, bem, não somos tão bons quanto pensamos. Porém, é só depois de enxergar que somos inundados de fantasmas e demônios é que conseguiremos exorcizá-los.
Num mundo onde nos deparamos com situações que desafiam a lógica e o nível da sanidade da platéia que à tudo vê, é mais do que necessário uma pausa pra refletir sobre aquilo que estamos fazendo aqui e agora com nossas vidas. Será que o modo como andamos manejando o barco que é nossa efêmera existência nos trará algum orgulho num quando futuro? Trará orgulho à nossos filhos e netos? E não me refiro à coisas que podem se esvanecer como poeira. Me refiro a atitudes e ideias que persistem a oxidação e atravessam o tempo.
Quando olho pra mim, para o que fiz, para o que escolhi e para o que penso, afirmo, mas não sem medo de errar, que quase me orgulho de tudo que fiz. Sinceramente, não creio naquela ideia de que "não me arrependo de nada do que fiz". Como disse anteriormente, fazemos escolhas à todo momento de nossa existência e é difícil não haver nenhum tropeço crasso no percurso. Veja bem, não estou dizendo que esses passos mancos não tiveram algo de positivo. Muito do que somos e temos de bom é fruto direto das escolhas erradas que fizemos. Entretanto, poderíamos ter aprendido isso com a observação. E hoje, é através dessa observação - principalmente com o foco direcionado para o meu interior que tento enxergar o que há de bom e como é possível propagar isso. E é interessante pois, toda vez que foco minha lanterna para os recônditos do meu eu, vejo coisas muito boas que eu nem sabiam que existiam (ou como dizia uma pessoa que conheci, que esquecemos que existiam), e na outra margem, também vejo coisas que atestam o quanto falho sou e que a busca pra evolução pessoal nem sempre está em feitos grandiosos mas, outro sim, em pitadas e pitadas de atitudes que parece sem importância mas que somadas, tomam proporções faraônicas.
Mas, o principal desse passeio por mim, é ver que as coisas nem sempre são fáceis e que muitos obstáculos se interpõem entre aquilo que sou/estou daquilo que quero ser/estar e, muitas vezes não consigo chegar lá e, de propósito ou sem querer, pessoas acabam machucadas no caminho e assim como espero receber a indulgência daqueles que fiz mal, tenho que me esforçar ao máximo pra perdoar quando o machucado na história sou eu, afinal, estamos aqui pra aprender e o primeira lição dever ser nos descobrirmos.
Paz e Luz.
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