[RESENHA] Rose Madder, de STEPHEN KING

Ano de lançamento: 1995
Editora: SUMA de Letras
Páginas: 478
Nota: 5/5


"Rosie teve tempo de se perguntar [...]

por que tantos homens eram maus.

O que havia de errado com eles? 
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"Sou realmente Rosie, e Rosie muito real"


Sinopse:
No dia que em saiu de casa, dando fim a um casamento de 14 anos, Rosie Daniels sabia que não seria nada fácil escapar do marido, o violento Norman Daniels. Mas, depois de 14 anos de torturas diárias e violências sexuais, Rose sabia que não teria mais nada a perder. Ao fugir, levando apenas o cartão de banco do marido, Rose tem certeza de que está entrando numa guerra sangrenta - cujo final pode ser fatal


Resenhando:
As primeiras páginas de Rose Madder, já são suficientes para que o leitor desavisado tenha ganas de arremessar o livro pela janela na tentativa de esquecer o que acabara de ler: uma mulher apanha do marido a ponto de abortar, e o mesmo não se preocupa com isso. Sua preocupação está em limpar todos os vestígios da agressão que realizara a pouco e forrar o estomago com um bom e suculento sanduíche.

Rosie Daniels já está acostumada a este tipo de coisa. Desde o primeiro dia do casamento a ilusão de ter encontrado o príncipe encantado se esvaneceu feito fumaça e vem convivendo com surras dignas de lutadores de MMA. Apesar de tudo, acredita - como muitas mulheres fora da ficção na mesma situação que ela  - que isso um dia irá acabar. Mas assim como é impossível conter a força de um tsunami, nada é capaz de aplacar a insanidade do policial Norman e, depois de um tempo - e  muitas surras físicas e psicológicas - Rosie percebe que o conto de fadas nunca irá acontecer e decide abandonar tudo. Sai apenas com a roupa do corpo e o cartão de crédito.

Os primeiros momentos de Rosie em busca de liberdade são claustrofóbicos. A qualquer momento Norman - o policial exemplo da cidade - pode aparecer e findar com todo o sonho de uma vida longe do medo, da angústia e da dor. É como se Norman estivesse espreitando em cada esquina como um demônio de encruzilhada só a espera da presa indefesa para desferir o bote final. Mas nada acontece e Rosie consegue, ao menos por hora, ver-se livre de Norman. Mas o policial não deixará isso pra lá e já planeja vingar aquela traição da esposa que fora sempre tão bem tratada.

De todas as personagens femininas de King, talvez esta seja uma das mais corajosas. De inicio, ela não luta contra demônios e Lobos como Suzannah. Sua luta é contra uma vida a dois, totalmente despida de amor recíproco. Luta contra barreiras psicológicas dolorosamente erguidas durante catorze anos de casamento onde a felicidade consistia, não em terminar um dia abraçadinho vendo um filme de Woody Allen, e sim, em conseguir dormir sem ter que se preocupar em qual posição deitar pra evitar a piora de uma costela quebrada ou uma gota de sangue no lençol. Sua busca pra sair dessa vida é de uma coragem faraônica, e mesmo depois de conseguir um breve hiato de sofrimento e até uma dose de alegria, terá de lutar mais um pouco pra finalmente se livrar do demônio que é Norman.

E por falar em Norman, que vilão mais bem construído. A repulsa ante ele e quase visceral. Os capítulos focados nele, nos mostram como é insano. É como se sua mente vibrasse em uma dimensão onde a dor e o sofrimento alheio, são os combustíveis pra sua felicidade. O olhar perturbado que pode destruir como raios quem atravessa seu caminho, parecem se transformar ante o resto da sociedade. É um policial condecorado e respeitado na cidade. Mas, por baixo dessa fachada, vive um dos monstros mais insanos criados por King.  

Rosie precisará de muita sorte pra ver-se finalmente livre de Norman. Talvez o antiquário onde comprou um quadro de traços medianos e teve um possível vislumbre de felicidade, possa ser o marco de início de uma nova vida.

O livro segue o ritmo característico de King. Lento, detalhista  que vai te preparando para um fim apoteótico. Pode-se dividi-lo em três partes: a do suspense psicológico referente ao drama familiar de violência contra mulher; o Hiato de felicidade onde Rosie consegue, enfim ter um vislumbre de alegria (a parte que mais me encheu os olhos); e a parte final onde o sobrenatural se revela. E este terceiro ponto foi o que deixou muitos leitores decepcionados. Para muitos foi como tirar a narrativa inicial de contexto trazendo o surreal para dentro de uma narrativa não que necessitava disso. No que tange a mim, não me incomodou. A bem da verdade, após acabar com a leitura, fiquei pensando que para todos os Normans da vida, devia haver um componente de mesmo calibre do presente no livro.  

E, é claro, assim como em muitas outras obras de King onde universos se entrelaçam, há menções  a outros livros do autor, mais notadamente a Torre Negra e seu ká - o ká é uma roda.
  
Antes de ser uma obra sobre o fictício mundo surreal, Rose Madder trata de um drama muito presente: a violência contra a mulher e como isso pode, aos poucos, ir escoando toda a esperança de alegria e felicidade de quem sofre, pelo ralo do medo e da escuridão. Mais do que apenas entreter, este livro nos mostra que os verdadeiros monstros são feitos de carne e osso, assim como eu e você e, que por trás da fachada de individuo honrado e idôneo, pode habitar o que há de mais vil na psique humana.

Talvez, para você que ainda não leu nada do autor, seja uma leitura um pouco difícil pra entrar em seu universo - para os fãs de longa data, leitura obrigatória - mas, é claro, se você não é de se angustiar fácil, aventure-se por essas páginas. Garanto que vale à pena.
Boa leitura.


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