[RESENHA] A Letra Escarlate, de Nathaniel Howthorne


Ano de lançamento: 1850
Editora: Penguin Companhia
Páginas: 336
Nota: 5/5
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"Você vai ficar aqui amanhã conosco?

Vai segurar nossas mãos

como está fazendo agora?

'Sim. No dia do juízo final'"



Em A Letra Escarlate vemos como o pecado é visto por uma sociedade puritana do séc. XVIII, situada na Nova Inglaterra, que crê piamente que o pecado são os outros e que Deus está sempre espiando as obras malignas..., dos outros. Ainda nos presenteia com uma máxima muito forte no que tange a uma sociedade fechada: há sempre alguém que traz consigo o pecado maior que o nosso.

Dando seguimento à meta de leitura dos clássicos (para saber mais, clic AQUI  ), me aventurei nas páginas desta ótima obra. Sim, eu sei, não irei cumprir a meta prevista. Dos treze propostos, este é apenas o segundo livro que leio - o outro foi Crime e Castigo, de Dostoiéviski (para ver a resenha, clic AQUI ). Mas, quem sabe não chego perto da meta! Bom, chega de lenga-lenga e vamos lá.

Nathaniel Howthorne sonhava em ser escritor e conseguir manter-se apenas das letras. Quando escreveu A Letra Escarlate, já havia publicado outras histórias mas nada que o alçasse a fama ou que proporcionasse rendimentos suficientes para mantê-lo. Muito de suas visões da sociedade, religião e moral estão expostas no livro que nos trazem diversas reflexões.

O mote do livro é o seguinte: Hester Pryne tem uma relação adúltera que culmina com o nascimento de uma filha. Sendo julgada e condenada a usar para sempre uma letra "A" de adultera fixada no peito como penitência por sua vergonha. Negando-se a revelar o nome do pai da criança, ela acaba por ter de carregar todo o estigma sozinha. O decorrer do livro nos mostra como ficou a vida de Hester após o episódio, dos envolvidos diretamente com o fato - o marido traído,  a inocente criança, e o homem que "corrompeu-a".

O livro não nos guarda grandes mistérios a serem resolvidos. De inicio, já temos indícios de quem é o pai da filha de Hester, o que será confirmado no decorrer da narrativa. O que o autor faz aqui, é nos mostrar como foi a relação das pessoas ante o que Hester cometeu. Recordemos que, apesar do livro ter sido escrito em 1850,  a história se passa no séc XV. O puritanismo reinava na Nova Inglaterra e, lógico, uma mãe adúltera era um prato cheio para os julgadores de plantão. Uma mulher nestas condições deveria ser evitada à todo custo.

Hester, é uma pessoa ímpar. Decide carregar toda a dor sozinha. Suporta toda a humilhação sem se fazer de miserável. Mesmo após algum tempo, quando passa a ajudar os moradores locais que continuam a evita-la em público e até ofendê-la, ela se mantém firme e crê que deve manter-se firme em sua busca por redenção. Mesmo após sociedade tê-la "perdoado", Hester faz questão de seguir com a marca num gesto que evidencia a busca eterna por perdão de pessoas que não lhe são pares.

O que mais me inspirou indignação, foi a forma como o autor retratou o marido traído e pai da criança. Apesar de ser um homem nocivo, vingativo e calculista, Roger Chillingworth, tem seus motivos de ser o que é. Nos dias de hoje ele já seria estigmatizado, quem dirá naquela época e o autor faz questão como retratá-lo como um ser miserável e maligno.

Já o reverendo, pai da criança, é um ser extremamente covarde. O reverendo Dimmesdale deixa Hester passar por seu calvário sozinha, além d renegar a filha. Notamos, através de seus pensamentos que ele se martiriza pelo seu ato mas isso, porém, não o impele a mudar de atitude. Nem mesmo em sua "Hora da Estrela" ele faz questão de ser claro em relação aos seus pecados.

Já a criança Pearl é fantástica. Sua personalidade voluntariosa e enérgica, intriga as pessoas. Hester faz questão de enfeitá-la de vermelho, assim como a marca do pecado que traz ao peito. Talvez seja seu subconsciente mostrando que o ato que trouxe a marca da vergonha para sua vida, também foi o que trouxe seu bem mais precioso.       

Mas, acima de tudo, A Letra Escarlate, é um passeio sobre como uma sociedade fechada em suas certezas religiosas, trata os erros alheios com mão de ferro, fechando-se num calabouço de julgamentos não levando em conta o quanto o individuo pode estar sofrendo ante o ato. Mesmo que suas boas ações possam mostrar a sociedade que o pecado foi muito menor que suas virtudes, as pessoas fiam-se em detalhes de interpretações das escrituras não cabendo espaço para o bom senso. Como li certa vez, "não há bom senso que sobreponha os designíos divinos".  

Boa leitura.


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