[RESENHA- Mangá] O Enigma da Falha de Amigara, de Junji Ito


Ano de Lançamento: 2002
Páginas: 33
Desenho (Art.): Junji Ito
Nota: 5/5



"Eu me senti do mesmo jeito,

depois que vi na tv.

Finalmente encontrei o meu

É um fenômeno inacreditável.

Nos trouxe até aqui pela mesma razão" 


Recentemente li um artigo, acho que na revista Mundo Estranho, que classificava este Mangá como o mais assustador já feito. Claro, como bom amante de histórias que te tiram o sono, fui em busca de conferir. Apesar de não ter me assustado, a história é muito boa, bizarra e bem criativa. Mostra mais uma vez que Junji Ito faz jus a alcunha que lhe atribuem de ser o H.P. Lovecraft dos mangá. É uma leitura que vale a pena.

[RESENHA] Salem's Lot, de Stephen King

Ano de Lançamento: 1975
Editora: Suma de Letras
Páginas: 460
Nota: 5/5


"Você esqueceu a doutrina de sua igreja, [padre].

[...] Sem fé, a cruz é apenas madeira; o pão, 

trigo assado; o vinho, uvas amargas. 

Se tivesse abdicado da cruz, teria me derrotado.

[...] O menino da de dez em você" 


Nos últimos anos, os vampiros foram abordados de diversas formas. Muitos modificaram a imagem mítica dos seres que bebem sangue. Mas a ideia que realmente me fascina, é aquela idealizada por Bran Stocker; do vampiro mal, cheio de charme e poder; que possui um afã incontrolável por mais uma gota de sangue para aplacar sua sede insaciável. Stephen King, inspira-se na história de Drácula pra nos brindar com essa maravilha sobre seres noturnos que atormentam uma cidade. Depois de ler, você quererá ter um terço em volta do pescoço e uma bíblia em baixo do braço.

[RESENHA] O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman

Ano de Lançamento: 2013
Editora: Intrínseca
Páginas: 208
Nota: 5/5
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"As memórias da infância às vezes são 

encobertas e escurecidas pelo que vem depois,

como brinquedos antigos no fundo do armário [...],

mas nunca se perdem por completo"



Pra quem gosta de uma boa fantasia, é comum encontrar livros que apresentam mitologias semelhantes, o que não é nenhum espanto, haja vista a quantidade de livros sobre o assunto que já foram escritos. Neil Gaiman consegue a cada nova empreitada, usar de toda sua mente prodigiosa pra construir mitologias ímpares e, não bastasse isso, consegue ir além de criar algo novo: ele consegue sair do caminho fácil de aproveitar mitologias que ele mesmo criou em livros anteriores e apresentar algo completamente distinto dentro de sua própria bibliografia.

NEM ROUPA EU USAVA


Nascemos despidos de qualquer coisa. Nossa vivência no mundo que vai nos vestindo. Mas, fica pergunta: será mesmo esta roupa que eu gostaria de usar? Só saberemos com certeza, o dia que olharmos para o fundo de nós mesmos.


No inicio não havia nada. Nem roupa eu usava. E isso era lindo. Não havia obscenidades e ninguém escandalizava com a minha nudez. Conforme foi passando o tempo, já não era mais certo ficar assim. Aí me puseram uma roupa que ninguém sabia se era essa mesma que eu queria. Na verdade eu não queria nenhuma, gostava da minha nudez e gostaria de ficar assim por muito tempo. Mas uma vez percebi que não gostaram quando me recusai a me vestir então achei melhor obedecer...

Tão ruim quanto isso foi o fato de ter um nome. Sim, me deram um nome estranho que durante um tempo, eu não conseguia nem pronunciar. Eu não gostava daquele nome mas as pessoas falavam que era bonito e chique, aí, depois de um tempo me acostumei. Mas se tivessem me perguntado teria escolhido outro: um mais simples tipo João, Pedro ou José que tem em sua simplicidade uma beleza que as pessoas não enxergam...

Aí um belo dia, quando eu ainda não usava roupa e nem sabia pronunciar meu nome, me envolveram num negócio branco e um senhor jogou uma água na minha cabeça. Diziam que eu fui batizado. Eu não entendia nada daquilo. Não sabia porque aquela água era tão importante já que eu tomava banho várias vezes e ninguém ficava tão feliz. Mas com aquela água, com aquele monte de gente vendo e aquele homem vestido de branco, foi diferente. Todos ficaram felizes. Apesar de não entender nada, fiquei feliz. Todos estavam contentes então devia ser uma coisa boa. Mas depois de um tempo, quando eu já usava roupa e sabia pronunciar meu nome, eu tinha que ir no mesmo lugar que me jogaram água na cabeça e aquele mesmo senhor com aquela roupa branca ficava falando umas coisas que eu não entendia. Eu não queria estar lá. Eu queria brincar, mas ficavam bravos se me recusasse, então eu ia. Às vezes, eu dormia, mas depois achei legal. Todos iam. E se está todo mundo indo, só podia ser bom...

Um tempo se passou e eu comecei a gostar de um negócio que ficava na sala de casa em cima de uma estante. Era uma caixa brilhante que um monte de gente aparecia nela. De vez em quando aparecia alguém falando que era pra eu comprar isso e aquilo pois estava numa tal de moda. Quando saia na rua, via as pessoas usando exatamente o que aquele cara falou que era legal. Resolvi comprar as coisas que as pessoas da caixa falavam, mas tive que comprar em outro lugar. Nunca achei essa tal de moda. O pior é que eu nem sabia quem fez esse negócio chamado moda, mas todos diziam que estava nela. Algumas coisas eram feias mas como estavam na moda eu comprei...

Depois de um tempo estudei. Até que era legal essa época mas algumas coisas eram chatas. Eu queria namorar uma menina mas meus amigos diziam que ela era feia e chata. Eu não achava isso, achava ela a mais bela e a mais legal de todas as garotas que eu já havia conhecido. Mas, já que todos diziam o contrário, eu deveria estar errado. Além dessa parte ruim, tinha um pessoal que usava um negócio chamado preconceito. Eu não sei direito mas parece que é um negócio que você não gosta de alguém por alguma coisa, mesmo que você não conheça a pessoa. Mesmo que a pessoa seja legal, por conta daquilo que a pessoa tem/é, você não pode gostar dela. Eu não queria comprar esse tal de preconceito mas eu fazia que nem meus amigos faziam. Sem saber, acho que estava usando esse negócio. Mas deve ser algo bom pois tem um monte de gente usando...

Continuei estudando e fiz faculdade e arrumei um trabalho que me dava muito dinheiro. Eu não era muito feliz apesar de todo aquele dinheiro. Não tinha tempo  de ficar com meus filhos e vivia sempre estressado. Mas era muito dinheiro. E sempre me falaram que se eu não tivesse dinheiro, carro, casa, essas coisas, as pessoas iam desconfiar que eu fosse um fracassado. E quando eu achava que ia ficar louco, falava com um cara que pedia pra que fosse num outro cara que vende uns negócios que tem uma tarja preta na caixa. Depois que eu tomava aquilo ficava tranquilo e pensava comigo “um dia eu largo tudo isso e passo a viver mais tempo com minha família.” Faz tempo desde a primeira vez que falei isso. Meus filhos cresceram, foram embora assim como minha esposa e ainda não consegui arrumar um negócio que me deixa feliz. Mas um dia eu vou conseguir: tenho muito dinheiro e não tenho certeza que hora ou outra, encontro um local onde vendem felicidade...

Por fim, olho para um homem que já foi eu deitado numa espécie de caixa grande. Estou usando paletó (apesar do calor) e tem um monte de flor em volta de mim. Algumas pessoas estão chorando. Não sei o que aconteceu, mas deve ser algo ruim pois tem um monte de gente que faz tempo (muito tempo) que eu não vejo e estão todas lá, em volta do meu corpo. Pra elas estarem aqui, tem algo de muito errado acontecendo. Fiquei com medo. Acho melhor voltar pra dentro de mim e ver o que deu errado. Pensando assim, percebo que nunca me voltei pra dentro de mim. Sempre olhei pra fora pra resolver meus problemas. Na maioria das vezes eu queria fazer diferente, ser diferente mas os de fora falavam que era assim que eu devia ser ao passo que eu nunca olhei pra mim mesmo pra saber o que eu realmente queria. Nossa, estou tão feliz que acho que hoje, pelo menos hoje, não vou precisar tomar aquele negócio que vem na caixa com a tarja preta. Voltei pra dentro de mim e percebi que tem um montão de coisas que eu nem sabia que eu gostava (ou será que esqueci?), que eu nem sabia que existiam dentro de mim  mas que estavam ali, só esperando uma oportunidade de se mostrar mas eu nunca deixei...

Uma felicidade me invadiu. Foi tão forte que eu precisei levantar. Essa caixa cheia de flores está me deixando meio agoniado. Depois de um esforço eu estiquei os braços e me sentei.  Algumas pessoas que estavam em volta do meu corpo se assustaram, outras ficaram felizes e algumas pareceram que não gostaram. Vieram até mim me abraçando. Eu estava feliz, queria abraçar todo mundo e queria que todos sentissem essa felicidade. Depois de um tempo abraçando as pessoas, levantei e saí andando. Tive a impressão que as coisas seriam diferentes doravante. As coisas seriam mais fáceis desde que eu me voltasse pra mim mesmo...


Saí correndo, tirei o terno e assim como no inicio, voltei a ficar nu. Sinceramente, não sei se realmente importa mas acho que os caras daquele lugar chamado moda (se alguém souber onde ela mora, me avisem) nunca me deixaram tão feliz. Andei mais um pouco e tinha certeza que as coisas seriam diferentes, muito diferentes.



[RESENHA] A Batalha de Moscou, de Andrew Nagorski

Ano de Lançamento: 2013
Editora: Contexto
Páginas: 352
Nota: 5/5


"...vou arrasar aquela cidade maldita [...].

O nome Moscou vai desaparecer pra sempre"
(Adolf Hitler)

"Todos os locais habitados [ao redor de Moscou]...

devem ser destruídos e reduzidos as cinzas"
(Josef Stalin)


Apesar de não muito conhecida, a Batalha de Moscou foi a batalha mais sangrenta da Segunda Grande Guerra. Colocando de lados opostos dois dos tiranos mais sombrios da história, o conflito mostrou que Hitler e Stalin, tinham um apreço mínimo pela vida e, acima de tudo, como megalomaníacos e estúpidos que eram,  tinham uma dificuldade faraônica de ouvir quem quer que seja – incluindo seus generais – além de seus próprios desejos. O jornalista Andrew Nagorski consegue mostrar os horrores e erros desta batalha de forma simples, instrutiva e direta.


Para quem acompanhava as alianças militares no inicio do conflito, era difícil imaginar que Alemanha e URSS entrariam em conflito. Ao menos naquela faze inicial da Guerra. Além de serem tiranos muitos semelhantes, após o tratado Ribbentrop-Molotov, as duas nações eram, na prática, parceiros no conflito. Invadiram em parceria a Polônia, já tinham feito um acordo que redefiniria as fronteiras da Europa ficando cada um com uma área de influência. Inclusive, Stalin, passando sobre os protestos de seus generais e secretários do partido, enviava insumos vitais para que a Alemanha assombrasse a Europa Ocidental  - mantimentos estes que ironicamente, seriam usados depois por Hitler para invadir os territórios soviéticos.

Catador de sonhos

No meio de PETs, papelão, e garrafas vazias, ele procurava sonhos perdidos


Entre lixos, papelão e garrafas vazias, ele procurava.

Mas não procurava materiais reaproveitáveis que tivessem algum valor de venda. Acima de tudo, ele procurava sonhos. Sonhos perdidos, abandonados, deixados de lado. E sonhos assim, são mais comuns que se pode imaginar. Sonhos são mais descartáveis que copinhos de plástico. São muitos os porquês e predicados: falta de tempo, família, idade... Tudo isso é sempre um bom motivo. Claro, por vezes, é somente um subterfúgio, quase axiomático.

Mas, ainda assim, entre lixos, papelão e garrafas vazias, ele procurava algum sonho que no meio de toda basura pudesse ser reciclado.