A Torre Negra - "longos dias e belas noites"



Longos dias e belas noites sai.

Stephen King é o escritor de terror mais conhecido e aclamado atualmente. Seus livros conseguiram alcançar toda esta projeção não apenas pelas noites insones que causou nos leitores corajosos que se aventuraram por suas páginas, mas também pela escrita soberba, bem arquitetada, detalhista e personagens envolventes. É difícil ler um livro de King e não criar antipatia, ódio, pena, amor, ou qualquer outro sentimento com relação aos personagens. Há uma veracidade na psique dos personagens que a qualquer momento eles podem saltar das páginas e materializar-se na sua frente.

E dentro deste universo vasto de personagens criados pela mente de King, eventualmente um ou outro personagem, ou situação, que foi apresentado em algum livro do autor, acaba por aparecer em outro. É o caso, por exemplo, de Randall Flagg, que aparece primeiro na fantasia "Os Olhos do Dragão" e posteriormente no drama apocalíptico "A Dança da Morte". Sempre houve aquela dúvida nos fãs de que talvez, todos os livros de King fizessem parte do mesmo universo. O próprio autor suspeitava disso e teve certeza quando escreveu o livro Insônia. Mas, tudo ficou extremamente claro quando o autor concluiu sua magnus obra: A Torre Negra.

King começou a escrever A Torre Negra quando tinha 19 anos. Do primeiro volume, até o último da série, foram muitos anos o que fica evidente na diferença da  narrativa do primeiro livro, O Pistoleiro,  para os demais livros da série. Como dito pelo autor no prólogo do primeiro livro da série, o que inspirou o autor foram os livros de J. R. R. Tolkien, os filmes de faroeste e o poema "Childe Roland à Torre Negra Chegou", de Robert Browning.

De forma resumida – pois falaremos mais sobre isso nos próximos posts – A Torre Negra é aquilo que une todos os livros de King em um único projeto. Todos os personagens e lugares criados pelo autor, servem a Torre Negra.

A série possui oito livros, contos e Hqs contabilizando uma quantidade faraônica de páginas. Toda a mitologia criada pelo autor é de uma grandiosidade avassaladora. Além disso, King soube aproveitar muita coisa que fizeram antes dele para inseri-las em sua história. Mas, o que seria esta Torre Negra? Qual o mote do livro? Vale a pena investir na história? Neste post, o que posso responder é apenas a última pergunta: sim, vale muito a pena ser lido. Se não pelos motivos já citados, a série de no mínimo oito posts que farei sobre a Torre, deixará bem claro porque você, sendo fã de King ou não, deve ler esta preciosidade.

E, se ao final você não se sentir atraído a seguir o caminho do Feixe de Luz, devemos respeitar a vontade do Ka. Afinal, há outros mundos além deste.

Até a próxima.

[CRÍTICA] filme, Ela


Mesmo com anos de mudanças em nossos hábitos e costumes, existem sentimentos que hão de perdurar, possivelmente, enquanto a espécie humana existir. Ainda que nem sempre nossos sentimentos sejam nossos melhores aliados, por vezes, somos tomados por essa força avassaladora que desafia a lógica. E dentre a gama ampla de sentimentos, talvez o amor seja o mais forte de todos. Mas, o que seria passível de amar? Amamos animais, carros, dinheiro, objetos. Porém, nada disso se compara ao amor que dispensamos a outras pessoas. A vontade de compartilhar a vida com mais alguém está entre um dos costumes e vontades mais latentes do ser humano. E se essa vontade de viver junto, esse amor, ao invés de ser por uma pessoa fosse por uma máquina. Mais especificamente, um programa de computador? Será que há um limite para aquilo que podemos amar?

É sobre essa premissa, amor e tecnologia, que o engenhoso diretor Spike Jonze dirigiu e escreveu o fantástico filme Ela (2014). Ambientado num futuro com novidades tecnológicas proeminentes, mas que não tem a soberba que muitos filmes do gênero têm, o longa mostra Theodoro Twombly (Joaquim Phoenix), um homem que trabalha escrevendo cartas sentimentais para outras pessoas e está passando por um processo de divórcio que acaba deixando-o abalado. Theodoro é um homem sensível e sentimental. Apesar de manter uma distância de seus pares, está longe de ser solitário. No momento, vive as angústias que um divórcio acarreta. Um dia, adquiri um programa de computador que seria um sistema de inteligência artificial. De início, o programa apenas o auxilia em suas organizações, posteriormente, o programa se auto-intitula Samantha (voz de Scarlett Johansson), e Theodoro acaba por se apaixonar por ela.

O filme é de uma precisão cirúrgica e de uma beleza avassaladora. Dramático, engraçado, romântico, triste, lúdico, filosófico, belo; o longa consegue desfilar por todas essas nuances sem se perder em nenhuma delas sabendo dar espaço a cada uma explorando um roteiro bem feito e eficiente. A relação entre Theodoro e Samantha, por mais que pareça estranha num primeiro momento, acaba tornando-se plausível graças a eficiência do diretor e das interpretações de seus atores. A história deles, que é linda, sabe tirar do espectro das relações, uma poesia que toca aquele "eu latente" em todos nós, que ânsia por deixar a abstrusidade e emergir numa superfície lúdica e poética. algo belo assim,   Há um cuidado em não aproximar o longa dos romances clichês e quando há uma convergência para filmes simplistas do gênero, o autor trata logo de cambiar os rumos da narrativa aproveitando da liberdade que a ficção cientifica possibilita em certas ocasiões.

Os diálogos são incríveis e conseguem transmitir toda a carga emocional que um relacionamento traz consigo: felicidade, cumplicidade, companheirismo, dúvidas, ciúmes, sexo. Por falar em sexo, há uma cena com a personagem Isabella, vivida pela atriz Portia Boubleday, que mostra toda a dificuldade deste relacionamento. Chegando ao ponto de ser bizarra, não no sentido de destoar da narrativa, mas sendo bizarra em si, a cena acaba pontuando como certas barreiras são difíceis de serem vencidas.

A cinematografia é excelente. Toda filmada em tons pastéis, ela salienta o caráter lúdico do amor e do relacionamento de Theodoro e Samantha. Há uma espécie de magia na atmosfera que evoca um lirismo etéreo. O figurino é engenhoso. Apesar de passar numa Los Angeles do futuro, as roupas evocam uma época passada, dos anos 1960, 70 combinando perfeitamente com a fotografia. A trilha sonora é sútil e eficiente, dando a impressão de ser algo orgânico do filme.

Ainda assim, o que deixe tudo mais plausível é o elenco. Joaquim Phoenix está excelente no papel. Ele consegue transmitir toda a alegria, tristeza, amargura e dúvidas de Theodoro.  É impossível não sentir um pouco do que ele sente, e isso de forma quase osmótica. Poderia facilmente estar entre os indicados ao Óscar. Scarlett Johansson é outra que destrói. Apesar de não aparecer fisicamente, seu trabalho de voz insufla nos espectadores toda uma inquietação. Ora dúvidas sobre suas intenções, ora pena. Em outros momentos, sua sensualidade transborda. Aqui, ela mostra que mesmo sem seus atributos físicos que tanto chamam atenção, ela consegue manter um local entre os astros de seu tempo.

O resto do elenco, apesar de não ter o mesmo espaço da dupla, estão confortáveis em seus papéis. Amy Adams, faz o papel de Amy, amiga de Theodoro que passa por problemas semelhantes ao dele. Está longe de apresentar a intensidade que a atriz mostrou em A Chegada, porém, ainda assim, mostra que é uma atriz talentosa. Rooney Mara, que faz a ex-esposa de Theodoro, faz uma interpretação contida salientando as dificuldades de um relacionamento que aparenta dar mostras de querer continuar. Olivia Wild e Crhis Pratt também estão no elenco e estão ok em suas atuações.

Mais do que ser uma história de amor, o filme é sobre  o amor. É difícil passar os 130 min. indiferente ao que se vê na tela. Mesmo com a premissa hipotética de amor à máquina, o filme faz questão de trazer dramas que trazemos conosco e nem sempre temos a sabedoria de driblá-los com eficiência e apesar de uma certa amargura e pessimismo, Jonze sabe dosá-las para que não deixem um gosto de amargura ao final da trama.   

Numa época em que mais e mais, temos a tecnologia como ferramenta de interação social, o filme vem para nos questionar até que ponta ela é real ou não. Se nossa mente está realmente preparada para este tipo de inovação. E o diretor tem o cuidado de não se prender a essas questões de forma distópica. Ele vislumbra um futuro onde esta possibilidade está presente mas que não é boa ou má intrinsecamente: apenas existe e são nossas atitudes que mostraram os aspectos de sua qualidade. Assim como quase todas as interações humanas. Mais que isso, ele deixa claro que nossas fraquezas e qualidades, não ficam em um segundo plano ante as tecnologias: elas se acentuam.

Em um mundo onde as rodas de amigos, cada um conversa com um olho e um dedo no teclado, este filme é mais que um relato de amor. É sobre os sinais dos nossos tempos. 

Ela (Her, EUA, 2013)
Gênero: Romance, ficção cinetífica, drama
Roteiro: Spike Jonze
Direção: Spike Jonze
Duração: 130 min.

[RESENHA] História da Sua Vida e outros contos, de Ted Chiang


Alguns livros conseguem cativar, não apenas por uma boa história, mas também pela forma como a história é contada. O livro de contos de Ted Chiang é daqueles achados ímpares. Alçado ao estrelato por conta do filme “A Chegada”, de Denis Villeneuve, que tem como base um dos contos do autor, o livro é daqueles que exigem algum empenho do leitor.

São 8 contos nesta coletânea que desfilam por linguística, matemática, física, neurociência, humanismo, enfim, quase nenhuma área do conhecimento é esquecida pelo autor que sabe usá-las de forma magnifica. Claro, apesar de todas essas áreas do conhecimento exploradas, a ficção cientifica se sobressai. Mesmo aqueles que flertam com fantasia, tem em si um olhar cientifico.

O conto de abertura, A Torre da Babilônia, conta a história dos mineradores que foram contratados para erigir a Torre de Babel. Apesar do fundo religioso, tudo é narrado com um rigor cientifico e cheio de lirismo. O final do conto é realmente surpreendente.  

Já na sequência, temos o conto Entenda. Apesar de ser a história mais difícil de entender, é o conto mais comum do autor. Nele, o autor debate a questão da superinteligência em seres humanos e uso que possivelmente faríamos dela. Como é narrado em primeira pessoa – e por um ser superinteligente, é mais complexo que a maioria.

Depois, passamos por dois contos que apesar de distintos, discorrem sobre como as pessoas encaram a vida em situações inevitáveis. São histórias mais humanistas. O primeiro dos dois, Divisão por zero, conta sobre uma pesquisadora que descobre uma equação que comprovaria que toda a matemática está errada. Paralelo a isso, vemos como a vida dela vai perdendo o sentido. Há uma beleza na forma que a matemática é tratada servindo de homenagem do autor a esta área do conhecimento. O outro conto é História da Sua Vida (resenha do conto aqui) . Baseado na Hipótese de Sapir-Whorf – de que a linguagem pode determinar como pensamos e vemos o mundo, o chamado “relativismo linguístico” – o conto narra como alienígenas surgem na Terra e uma linguista é convocada para decifrar sua linguagem e descobrir suas reais intenções. Escrito numa narrativa cíclica, o conto é mais sobre o que seria livre arbítrio do que ficção cientifica (e diga de passagem, o filme consegue abordar a ficção científica melhor que o conto). É um dos mais emocionantes contos da coletânea.

Setenta e duas letras, um conto que flerta com fantasia, é sobre como pessoas podem animar golens para que estes executem tarefas. É uma metáfora sobre máquinas suplantando homens. Tudo isso acontece numa Inglaterra vitoriana cheia de conspirações religiosas.

Outro conto a discorrer sobre superinteligência, A Evolução da Ciência Humana, é um periódico cientifico narrado num futuro distópico, onde a superinteligência saiu do controle.

Num dos contos mais surpreendentes, O Inferno é a Ausência de Deus, estamos num mundo onde não se discute se Deus existe ou não. Conceitos como inferno, céu, anjos, milagres são todos fatos. Num enredo que explora o debate cientifico sobre o poder da fé na salvação pessoal, faz uma abordagem cheia de indagações filosóficas. Qual o poder da fé? Deus é um ser justo? Se ele é justo, como pode ser um Deus de amor? Porque nem todos são agraciados com milagres? Tendo como base a história bíblica de Jó, acompanhamos três personagens que tentam entender esses conceitos e vemos como a caminhada de cada um deles, poder ser um reflexo de todos que já se questionaram sobre isso.

Gostando do Que Vê: um documentário, é o conto que mais debate pode gerar. O conto é sobre um procedimento cirúrgico que consegue extirpar das pessoas a capacidade de enxergar beleza em rostos, ou fazer com que pessoas que não conseguem ver beleza, possam ver.. Aqui, a beleza é quase uma droga viciante. O embate começa quando uma universidade quer tona a Cali – como se chama o procedimento – obrigatória, já que ela permite que todos tratem as pessoas iguais, independentes da beleza.  Entrevistas são concedidas por estudantes sobre o que pesam sobre a Cali, e vemos como publicidade, noticiários, mídias e “personalidades” influenciam nossas decisões. Um destaque para uma jovem que desde cedo conviveu com esta “deficiência” e agora fez o procedimento para “enxergar” beleza e como isso afetou sua conduta. Em uma época em que vivemos conectados e somos bombardeados por propagandas e pessoas nos dizendo o que usar o fazer, o conto levanta questões muito pertinentes sobre nossas ações e o quanto somos manipuláveis.

Ted Chiang é um autor que pouco escreveu, ainda assim já foi agraciado com os maiores prêmios do mundo da fantasia e ficção – Nébula e Hugo. Talvez por seus contos serem muito reflexivos e cheio de temas complexos, isso explique sua baixa produção. Mas, tendo em vista a qualidade dos mesmos, compensa e muito.

Boa leitura.
Nota:
Livro: História da Sua Vida e outros contos
Páginas: 368
Autor: Ted Chiang
Editora: Intrínseca
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Balanço do mês de janeiro


Normalmente no mês de janeiro costumo ler mais que no restante dos outros meses. Sei lá, talvez aquela ideia de recomeçar tudo após os fogos de virada de ano me contagie e me instigue um afã de fazer tudo o que sempre quis, mas que por algum motivo pífio não havia feito. E isso inclui ler todos os livros do universo. Claro, a medida que vou virando as páginas do calendário, esse ímpeto vai arrefecendo e meus projetos de vida vão indo junto – será só comigo isto? – e cada vez mais vou deixando tudo de lado por novos e novos projetos que vem surgindo ao longo dos dias.

Entretanto, confesso que este janeiro de 2017 não fui muito promissor em minhas leituras – queira Ganesha que fique só no campo da literatura. Li apenas cinco livros. Se vale como defesa ou, como fator atenuante, não havia me proposto muitas leituras este ano. Minha programação era ficar algo em torno de vinte cinco trinta livros, sendo assim, até que li bastante.

O primeiro foi o fantástico “Drácula”, de Bram Stocker (resenha AQUI ). Um livro que faz jus ao ser nomeado como um dos clássicos dos gênero pois, popularizou toda uma mitologia sobre vampiros. Depois fomos para um dos autores mais proeminentes e importantes dentro da ficção cientifica, Philip K. Dick, com o livro que deu origem ao filme Blade Runner, um dos melhores filmes do gênero:  Androides sonham com ovelhas elétricas?(resenha AQUI ).

Os outros três livros que li, e que por conta da minha velha amiga protelação ainda não resenhei foram Missoula, de Jon Krakauer que aborda de forma muito intensa e reflexiva a questão do estupro em universidades americanas e como as pessoas enxergam isso; O Rei de Amarelo, de Jack Chambers, um livro de contos que foi redescoberto esses dias por conta do seriado True Detective; e por último, um dos livros que mais nós deu na minha cabeça me impelindo a pensar e me concentrar naquilo que euestava lendo, A história da sua vida e outros contos, de Ted Chiang. O autor ficou famoso por conta da adaptação de um dos seus contos para o cinema, a Chegada (resenha do conto AQUI ), mas ouso dizer que este, apesar de ótimo, talvez nem seja seu melhor conto.

Enfim, essas foram minhas leituras. Provavelmente o ritmo caia por dois fatores: primeiro pelo  motivo queexpliquei ao inicio do texto e segundo, por em breve começo a ler alguns calhamaços então, esperem menos livros para os próximos dias, rs.


Falous. 

[CRÍTICA] filme, Nascido Para Matar


Stanley Kubrick conseguiu o posto de um dos melhores diretores do cinema fazendo poucos filmes e, apesar da cinebiografia curta, o diretor conseguiu deixar sua marca de forma muito intensa na história do cinema e da arte. Em tudo que se aventurou, ele conseguiu realizar obras grandiosas, impactantes, visionárias e, por vezes, incomodas. Em seu penúltimo filme, Nascido para matar (1987), sobre a guerra do Vietnã mas que não tem o conflito em si como nuance principal. O foco aqui são os seres humanos e como um evento deste porte pode  afetar a vida das pessoas.

Suas obras eram cercadas por um clima pessimista e, neste longa, a desumanização do ser humano é a chave da mensagem que o autor tenta transmitir: que uma guerra estúpida e sem sentido pode ser encarado como um retrato fiel daquilo que nós, seres humanos somos: seres que muitas vezes somos levados por ideias idiotas que acabam por infligir sofrimentos a outrem em uma causa sem sentido.

O filme  é dividido em dois atos quase distintos. No primeiro vemos o treinamento dos soldados e no segundo, acompanhamos um soldado jornalista encarregado de cobrir os eventos do conflito.

A primeira parte é simplesmente fantástica. Os soldados sobre o comando do sargento Hartman (R. Lee Ermey), passam a ter suas vidas reduzidas a quase nada. O importante é criar indivíduos onde a humanização já não exista sendo simplesmente máquinas prontas a apertar o gatilho. A narrativa é claustrofóbica, suja, quase chegando ao ponto de ser obscena, o que faz o telespectador sentir-se incomodado. Toda humilhação, a total falta de empatia ao qual os soldados são submetidos os leva ao limiar da sanidade fazendo o telespectador achar normal e esperado a trágica atitude do soldado Pyle (Vincent D'Onofrio).

No segundo ato, que apesar de não ter a mesma força do primeiro, o ambiente de loucura permanece, porém, o território é o front de batalha. Não há heróis ou mocinhos aqui. Todos estão ali pura e simplesmente como animais a serviço da nação. As tiradas irônicas do soldado Joker (Matthew Modine), dão total dimensão de que ali, já não são mais pessoas conscientes, e sim, coisas sem um propósito nobre. O que importa é só o apertar do gatilho.

A câmera de Kubrick é sempre muito eficiente. Os enquadramentos são pontuais. Desde a câmera focalizando de baixo pra cima pra salientar a postura de força e comando do sargento Hartman, até a fotografia do último ato onde as chamas imprimem uma luminosidade mórbida e cancerígena. A trilha sonora não é usada como artífice para gerar momentos de tensão ou sentimentalismo desnecessário. Ela entra como um elemento a mais do filme.

As atuações são excelentes, principalmente os papéis do sargento Hartman e do soldado Pyle. Ambos conseguem retratar de forma clara a psique de seus personagens cada qual mostrando um lado da loucura daquela atmosfera.

Na época do lançamento, o público ficou dividido com relação ao filme. Muitos não gostaram da forma cruel e realista que o diretor imprimiu sobre a Guerra do Vietnã e torceram o nariz. Entendam, até os dias de hoje há uma discussão sobre o conflito sendo um tema delicado para os americanos. Acabou sendo indicado a melhor roteiro adaptado, perdendo para o premiadíssimo O último Imperador.


Nascido para matar é um tiro de AR-15 no meio do estômago. Kubrick não faz questão de suavizar as coisas pra tornar a obra mais palatável e apesar disso – ou por isso – merece um lugar na estante de qualquer cinéfilo.  


Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, EUA, 1987)
Roteiro: Stanley Kubrick, e Michael Herr, baseado em romance de Gustav Hasford

Direção: Stanley Kubrick