O RECOMEÇO
O Pistoleiro – livro um da série A Torre Negra começa com a seguinte frase:
“O homem de
preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás”
Nesta frase está condensada toda a trama do primeiro volume.
O
livro se passa num mundo pós-apocalíptico distinto do nosso. Como diz Roland, “o mundo seguiu adiante”. Nesta primeira obra temos poucas explicações. E as
poucas que são dadas levam a mais questionamentos.
Em
“O Pistoleiro”, ficamos sabendo que Roland de Gilead é um pistoleiro, o último
de seu clã. Um grupo de indivíduos que vivem num código de honra no maior
estilo de “Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda”, só que ao invés de espadas, machados e armas medievais, eles portam dois revólveres enormes com cabo de sândalo. King teve como inspiração
para o personagem, Clint Stewood e seus personagens de faroeste. Sendo assim, é
fácil imaginar um homem sério, determinado e focado em sua busca.
Alguma
coisa aconteceu com o planeta de Roland e o mundo seguiu adiante ficando em
ruínas. Roland não sabe o que se passou mas sabe que uma “tal” de Torre Negra é
o centro de tudo isso e este Homem de Preto – um personagem muito sinistro, uma
espécie de mago – que ele persegue, pode ter informações
referentes ao que aconteceu com o mundo. Mais importante ainda, o Homem de
Preto pode ter informações acerca da tal Torre Negra que Roland tanto persegue.
Assim
temos a busca do pistoleiro pelo Mago passando por cidades em ruínas, desertos
e mais desertos. Nessa trajetória temos alguns vislumbres do passado de Roland,
mas que são dados de forma solta, pouco coesas e King não faz questão nenhuma
de explicar. Sabemos pouca coisa dos costumes e mitologia do Mundo Médio
(alguém lembrou de Tolkien?).
A
escrita, como outras de King, é lenta. A narrativa surfa por vários gêneros:
terror, suspense, fantasia... Há alguns elementos bem interessantes como os
Oráculos que tem particularidades bem interessantes. A atmosfera de magia permeia todo o livro deixando sempre uma expectativa de que algo grandioso ocorra.
Com
relação aos personagens, além dos dois já citados, um outro merece todo o
destaque: Jake. Apesar de o livro focar-se em Roland, é Jake, um garoto que
morreu no nosso mundo e apareceu no Mundo Médio, o responsável pela maior
conexão do público com a história. Jake consegue transbordar aquele carisma
infantil visto em outras obras do autor, que evocam um sentimento de nostalgiaque é impossível não se apegar a ele. King já fez isso em seu conto "Conta Comigo", que virou um ótimo filme nas mão do diretor Rob Reiner, e mais recentemente no ótimo livro "Joyland".
E
é a história de Jake que trás um dos conceitos mais fascinantes da narrativa: pessoas
que morem em um mundo, podem renascer em outros. King já havia discorrido sobre
mundo paralelos ao nosso (como a física quântica postula em sua Teoria das
Cordas) em outras de suas obras como “O
Talismã” e “Rose Madder” por
exemplo. Mas aqui, a mitologia é expandida.
Roland
encontra Jake em um posto de paragem. O garoto não sabe como foi parar ali. Logo,
ambos acabam criando uma interação forte, porém, a busca obsessiva do
pistoleiro pela Torre fará com que ele tenha de escolher entre o garoto e a
Torre. Neste ponto, temos uma das frases mais impactantes e forte de toda a
saga, proferida por Jake:
“Vá então. Há outros mundos além
deste”
Este
primeiro volume da séria começou a ser escrito em 1977 e o último em 2012. Uma das bases para King escreve-lo, foi a Saga do Anel de
Tolkien e isso fica evidente quando lembramos de Frodo e Sam indo até Mordor
para destruir o Um Anel. Há uma atmosfera de desolação e desesperança a exemplo
da jornada dos Hobbits. Nos próximos livros da saga há uma diferença bem acentuada
nesta questão, na forma como o livro é escreito o que leva a muitos leitores que amaram este primeiro volume odiar
os outros e vice-versa.
Um
dos pontos fracos do livro é a ausência de respostas. Quando Roland, já no
final do livro, por fim alcança o Homem de Preto, temos apenas uma confabulação
entre ambos que apesar de ser relativamente explicativa, deixa muita coisa sem
informação, principalmente no que concerne o porquê deste empenho do pistoleiro
em alcançar a Torre. E para uma saga de sete livros mais um, é algo arriscado
pois pode criar uma relutância no leitor em acompanhar uma obra que mais
levanta dúvidas do que responde.
Independente
disso, O Pistoleiro consegue prender a atenção do leitor e deixa uma
expectativa muito grande para o segundo volume, “A Escolha dos Três”. A questão é: será que as tantas respostas
pairando no ar serão respondidas? Será que Roland conseguirá chegar a Torre
Negra ou ao menos saber sua direção? Porque esta obsessão de Roland com a
Torre? Isto são cenas para o próximo
capitulo.
(Longos dias e belas noites).
Boa
leitura!
Livro: O Pistoleiro (A Torre Negra #1)