[RESENHA] Joyland, de STEPHEN KING

Ano de lançamento: 2013
Editora: SUMA de Letras
Páginas: 240
Nota: 5/5
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"...alguns dias são preciosos. [...] Aquele

foi um dos meus, e, quando estou triste [...]

e tudo parece frio e sem graça, eu volto a ele

[...] ao menos pra lembrar que a vida

nem sempre arranca o nosso couro.

Às vezes, ele oferece verdadeiros prêmios."



Sempre que o nome Stephen King aparece como autor de algum livro, a primeira coisa que vem à mente é o terror, o sobrenatural que faz com que o leitor tenha medo de virar a próxima página e descobrir que aquilo que irá ler, tornará sua noite de sono um pouco difícil. Em Joyland, isso não acontece. O que vemos nesta obra é uma história de amadurecimento, de esperança, de amor perdido, de nostalgia e de sonhos renovados. É uma história que, apesar de curta e simples, traz em si a grandeza de entristecer e emocionar. Claro, se tratando de Stephen King, o sobrenatural está presente, mas apenas como um pano de fundo pra algo muito maior que é a vida de uma pessoa.

Devin Jones é um jovem que teve seu coração partido e decide se juntar há um circo antigo, Joyland, em outra cidade na tentativa de aplacar o coração em frangalhos. O que ele não imaginava é que sua vida iria mudar de forma faraônica por conta disso. Devin acaba descobrindo que, assim como muitos outros circos, Joyland também possui sua história mal assombrada. Há anos, um serial Killer matou uma menina que trabalhava no circo – cortou sua garganta – e a polícia nunca o encontrou mas o fantasma da mesma continua lá. É na tentativa de descobrir o que houve que Devin acaba se deparando com uma vida fascinante no circo, recheada com doses de mistérios, amizades, descobertas e crescimento.

Stephen King, não é tido como um dos maiores escritores contemporâneos à toa. Seus livros passeiam por muitos espectros e, independente do gênero, é quase impossível não ter algum sentimento balançado ao ler suas obras. No início de sua carreira, ele surfava na onda do terror sendo tido como o mestre do gênero. Mas, o autor amadureceu e, volta e meia, nos brinda com algo que vai além do terror. Exemplo disso são histórias como Novembro de 63 e "A Espera de Um Milagre" que, apesar de conter seu toque de mistério e fantasia, trilham caminhos muito longe da fronteira do terror. Este é o caso do excelente Joyland.

Narrado em primeira pessoa sobre o ponto de vista de Devin Jones, o livro conta toda a aventura vivida pelo protagonista no verão de 1973. Como acabou encontrando amigos para toda vida; como descobriu que crescer não é tão simples assim; que existem coisas muito mais tristes que um coração partido; e que o primeiro amor (e a primeira decepção amorosa) vaga conosco pelo resto da vida. Mas Devin não figura solo nesta narrativa. Além dos amigos no parque, Devin acaba conhecendo um garotinho doente que possui um dom especial, Mike, e sua mãe. É na companhia desses dois que Devin irá vivenciar os momentos mais marcantes de sua vida e, possivelmente, os mais tristes.

A vida no parque, apesar do início difícil, é cheia de emoções para Devin. Ali, ele acaba descobrindo que tem horas que a vida te mostra como fazer as coisas direito sem que seja necessário um roteiro pré-escrito. Descobre que fantasmas nem sempre são aterrorizantes. Que fazer o certo pode ser arriscado. Além disso, ele descobre como é salvar uma vida e que escolhas acarretam consequências – boas e más – e que uma vez feita, descanse a aceite a decisão.
Como a maioria dos livros em primeira pessoa, o ponto forte da narrativa são os pensamentos de Devin. É impossível não lembrar dos dessabores da vida de adolescentes, vendo como ele sofre ao lembrar do amor que o deixou ao som de Jim Morrison e The Dark Side of the Moon (recomendo que você tenha junto de seus ouvidos esta trilha sonora enquanto lê o livro). E que esquecer este amor pode ser difícil e é sempre doloroso.

Apesar do desfecho com relação ao assassinato da garota no circo ser óbvio, o livro em nada perde de força uma vez que tudo que ocorre na narrativa são fios entrelaçados que aglutinam-se para formar uma grande narrativa de amor e nostalgia. O final, como muitos dos livros de King, pode arrancar lágrimas do leitor que não consegue deixar de emocionar-se pelo fato de, às vezes,  a vida ser injusta, mesmo que você tenha usado o vento pra levar sua pipa no ponto mais alto que pode chegar a felicidade de uma criança.

Boa leitura         




...porque você não aproveita? Não sei.


É difícil saber onde tudo deu errado.
A esperança sempre fora tão forte.
Aquela criança cresceu e viu seus sonhos virarem fumaça!
Tudo parecia estar ao alcance das mãos e, a qualquer instante, seria possível tocar o céu.
Mas alguma coisa aqui deu errado. Muito errado.
Uma conversa com alguém pra reconfortar já não é mais um opção.
Percebo que aquela criança que fui um dia, tão alegre e feliz, jaz num passado quase extinto.
Saber que as coisas podem melhorar pouco adianta.
Aqui e agora, a dor é muito forte que seria melhor que não existisse amanhã.
Aí, você pode pensar: mas você foi um fraco!
E talvez você tenha razão. Não te culpo.
Mas, cansei disso tudo, entende?
Aquela criança cresceu e viu seus sonhos virarem fumaça!
É notável como algumas pessoas livram-se de seus problemas.
Jogam tudo nas mãos de Deus e esperam por sua providência.
No meu caso, bro, deus é uma figura que há tempos desceu do Olimpo.
Vocês se alegram com seus cafés e suas músicas e perguntam-me:
"Porque não aproveita também?"  Não sei!
Aos meu olhos, se for pra viver nesta febre, prefiro antes, sem um Lobo da Estepe.
Quando penso que aquela rosa destruiu tudo e alguns ficaram felizes,
Vejo que estamos num abismo de escuridão e, ainda, damos graças a isso
Aquela kind teve seu ursinho dilacerado junto com sua inocência,
soube que neste instante, aqui já não era um local sadio pra pessoas como nós (eu?) ficar.
E, ainda tem o menino com água sobre a cabeça que só virou gente, depois que seu corpo "descansou" na beira da praia.  
Mas não chorem: pra vocês ainda existe esperança.
Pra mim, não mais!
Aquela criança cresceu e viu seus sonhos virarem fumaça!
Tem horas que tenho lampejos de esperanças.
São alguns sinais que me impelem a repensar.
Porém, logo tudo evapora no ar e sobra aquele mesmo vazio,
Sei lá, mas caso eu siga adiante, a dor irá desaparecer...
Esse navio loucamente à deriva não é mais pra mim. Não, meu chapa!
Deixo as coisas pra vocês.
Quem sabe se sairão melhor do que eu e, no futuro
Recordarão deste que passou por aqui e, cansado, resolveu dar tchau.
Até tenho um pouquinho de luz aqui dentro, sabe?
É meio opaca mas daria para, quem sabe, continuar. Mas...
...aquela criança cresceu e viu seus sonhos virarem fumaça.

[RESENHA] A Origem do Estado Islâmico, de PATRICK COCKBURN

Ano de lançamento: 2015
Editora: Autonomia Literária
Páginas: 208
Nota: 5/5




"Matai-os onde quer que os encontreis

e expulsai-os de onde vos expulsaram, porque

a perseguição é mais grave que o homicídio. E combatei

até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Alá"
(Trecho do Corão)


Logo após a morte do terrorista mais famoso dos últimos tempos em 2012, Osama Bin Laden, uma falsa ideia de que o terrorismo enfraquecia pairou sobre a cabeça de muitas pessoas que horrorizam-se com o atentado às torres gêmeas (World Trade Center) em setembro de 2001. O que poucos imaginavam é que os esforços para neutralizar e destruir a maior rede terrorista de então, Al Qaeda, seriam as sementes que germinaram algo muito maior e sombrio do que a organização do saudita: o O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS). A rede criada pelo iraquiano Abu Bakr al-Baghdadi deu uma mostra ao ocidente, através do ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, daquilo que vêm fazendo no oriente médio com muita destreza. Seu lema de morte à todos aqueles que não compartilham de seus valores, até mesmo outros muçulmanos de vertentes distintas, já mostrou que não há fronteiras para a vilania de seus membros. Entender como funciona e foi criada esta organização é essencial para neutralizar (TENTAR) a rede terrorista. E Patrick Cockburn fez muito bem.

... mãe, está tudo bem!



Você dá voltas e não sabe onde chegar.
Parece que não há ninguém lá.
É só mais um mundo vazio cheio de gente.
O reflexo no espelho parece confuso e estranho:
              será mesmo que há alguém do outro lado?
                               ou será só um amontoado de coisas oblíquas que parecem ter vida?
São muitas as trevas escondidas atrás de estrelas.
Vc consegue enxergà-las?
Ou só percebe aquilo que os olhos vêm?
Confuso e estranho é o  nosso mundo.
Sorriso, lágrimas, dor...
               ...vem tudo na mesma embalagem,
Não dá pra separar cada qual em sua órbita.
Então, o que saber o que é certo?
O limite pode ser traçado,
                mas é difícil achar o ponto entre a felicidade e a loucura;
                               entre a depressão e a reclusão.
Mas está tudo bem, obrigado por perguntar!
A cada primavera, mais e mais flores nascem
                e muitas outras morrem.
Como não ficar bem?
A mala que traz no braço a multidão que nem percebe
                  que nesse casamento, ela - a multidão - é que é o acessório,
                                virando um enfeite descartável como o final do feixe de luz vermelho.
Mas, assim, tudo bem: a luz continua acesa.
Qualquer coisa deixe que aquela velha e boa caricatura
                   - que é o reflexo no espelho - tome conta.
Só cuide para que você não vire o reflexo.

(mas mãe, está tudo bem. Obrigado)

[RESENHA] O Xangô de Baker Street, de Jô Soares

Ano de lançamento: 1995
Editora: Penguin Companhia
Páginas: 352
Nota: 4/5




"No meio de várias ilhas , a designação formosa

servia as mil maravilhas, pensava Paulo Barbosa.

E se o nome vem do grego, no fundo isso pouco importa.

O monarca tem apego, por essa língua já morta."
********                                 
                               
"Elementar, meu caro Watson"



Jô Soares construiu uma carreira sólida no teatro e na televisão por conta de seu conhecimento vasto sobre diversos assuntos e, principalmente, seu senso de humor apurado. Foram muitos os personagens criados por ele que divertiram e alegraram muitas pessoas num passado não muito distante. Natural que quando se aventurasse pela literatura, ele levasse toda essa gama de habilidades para as páginas. Mesclando enredo policial, humor, personagens fictícios e reais, e muito conhecimento sobre o Rio de Janeiro imperial, O Xangô de Baker Street, apesar de alguns excessos, é um livro que mostra o talento de Jô de forma bem pontual.

[RESENHA] Exorcismo, de Thomas B. Allen

Ano de lançamento2016
Editora: Darkside Books
Páginas: 254
Nota: 4/5

" O oculto é algo diferente.

Eu me mantive longe disso.

Acredito que mexer com ele pode ser perigoso.

E isso inclui mexer num tabuleiro Ouija"
(Livro "O Exorcista")


Não é nenhuma novidade que o filme O Exorcista, sucesso na década de setenta, foi baseado em um livro homônimo escrito por Willian Peter Blatty. Apesar de também não ser novidade, o livro de Blatty foi baseado em um caso real de exorcismo. Blatty ficou sabendo sobre este relato em um jornal, Washington Post. E, dali em diante deu razão a sua imaginação. No caso do livro de Thomas B. Allen, não há espaço para ficção. O que temos aqui é um trabalho de investigação, entrevista e extensa pesquisa que culminaram com este relato jornalístico sobre o que realmente ocorreu com o adolescente Robbie Manheim - nome alterado - no ano de 1949.

[CONTO] BRILHO DE AMOR

          


        Estava tudo escuro. O vento soprava, fazendo balançar com força os galhos das árvores, e ele via formas assustadoras se formando nos galhos: em alguns momentos parecia um dragão, em outros, algum monstro de alguma história macabra. Por mais que tentasse, não conseguia se mexer. Suas pernas insistiam em não obedecer o comando do cérebro de se locomover e tremiam tanto que parecia fazer vibrar o chão. Um demônio passou pelas suas costas e num ato instintivo ele se jogou no chão assumindo uma posição fetal e ficou aguardando o momento em que aquele vulto iria ataca-lo. Nada aconteceu, porém, o medo aumentou ainda mais.