Então... (notas de uma mente inquieta, part.III)


Dependendo do tipo de indivíduo que você é, estes relatos sejam só “mimimi”. Dependendo do tipo de indivíduo que você é, seja um absurdo. Pra indivíduos, assim como eu, pretos, é o cotidiano...

CASO I: Faz uns dez anos. Estava eu sentado no Gramadão da vila A. Era um sábado. Havia ido de bicicleta até o banco sacar o "pagode" (sabe como é a vida do proletário: o dinheiro caiu é sacar logo, pagar as contas antes que gaste o que não tem e as dividas acumularem-se).

Devia ser umas duas da tarde, estava um calor típico de janeiro aqui em Foz. Encostei a bicicleta em uma árvore. Comprei uma coca cola e um cachorro quente. Sentei ao pé da árvore e fiquei ali, tranquilo sob a sombra desfrutando de meu cachorro quente.

Naquele dia não havia muitas pessoas no Gramadão. Talvez pelo calor ou sei lá. Além de mim, umas poucas pessoas e o que chamava atenção era que havia um grupo de três pessoas sentadas mais pro meio do Gramadão. Com eles uma bicicleta e algumas baforadas de cigarro

Uns 5 minutos depois de chegar ali, um grupo de policiais me abordou.

“Por favor, levante-se, coloque as mãos atrás da cabeça e abra as pernas.”

Não entendi o motivo da abordagem, mas obedeci. Só fiquei triste pq não tinha onde deixar meu cachorro quente e com movimento de colocar as mãos atrás da cabeça, ele caiu no chão.

Fui revistado, me pediram os documentos pra averiguar se eu tinha alguma "passagem". Confirmaram que não.. perguntaram o que eu fazia ali e o que fazia da vida. Expliquei que naquele exato momento tinha ido sacar meu pagamento e parei pra comer alguma coisa; que trabalho no CCZ e que fazia faculdade.

Se olharam, revistaram minha bolsa. Não encontraram nada que interessasse. Falaram que eu poderia sentar e que estavam ali me abordando pq tinham recebido uma denúncia de que havia alguém vendendo drogas, naquele momento no Gramadão e que este indivíduo estaria de bicicleta. Após isso foram embora.

Pensei então que iriam abordar aqueles três indivíduos já que lá tinha alguém de bicicleta. Mas não. Passaram direto por eles. O que diferenciava eu deles? Além de estarem em três e eu sozinho, os três eram brancos e eu preto.

CASO II: Corta pra uns 8 anos atrás. Estamos eu e mais três colegas de trabalho fazendo uma vistoria referente a morcegos no forro. Explicamos para o dono do imóvel que ele teria de vedar todas as entradas do beiral da casa dele que (era um de dois pisos) para que os morcegos não pudessem mais entrar. Como era uma casa de pé direito bem alto, orientamos ele a contratar alguém que entenda do serviço pra realiza-lo de forma adequada e porque, como era um local alto, alguém que  se atinasse para as questões de segurança. De pronto o dono do imóvel diz: “onde eu vou arrumar um “ NEGÃO” pra fazer isso”. Nos olhamos, aquele olhar de constrangimento no ar. Meu colega comenta: “então, tem que ser alguém com equipamentos de segurança (sinto, corda...) pra evitar um acidente. O cara replica: “pois é rapaz, por isso que tenho que arrumar um ‘NEGO’ porque, se cair, é negão. Aí não dá nada.

CASO III: Corta para o ano de 2019. Estamos eu e minha esposa fazendo compras em determinado mercado da cidade. Estou com o celular riscando os itens que estamos pegando. Reparamos que uma segurança fica nos acompanhando por entre as prateleiras do mercado aonde quer que vamos. Claro que olho em volta e vejo que o único objeto de preocupação da moça sou eu. Tento fingir que não tem nada acontecendo. Qdo se é muito tempo (no meu caso, há 34 anos) objeto de olhares desconfiados, ou você vive uma revolta continua ou tenta/finge não ligar. Escolhi o segundo (admito, erro crasso). Tempo depois, a moça não se contém, me aborda e pergunta se eu estava com algum problema ou se queria alguma coisa. Engraçado que neste dia estava de short, camiseta. Não carregava nada além do cell. Um colega do serviço tbm está ali fazendo o msm exercício que eu (riscando no cell  os itens já adquiridos) mas não foi objeto da “ajuda” da segurança. Com o detalhe que ele estava com uma bolsa nas costas. O que diferenciava eu dele: um branco e outro preto.

CASO IV: Corta para o início deste ano.   Estou parado no ponto de ônibus. Em uma mão, um café num copo plástico e na outra um livro (pra constar, “Os Irmãos Karamazov”). Uma viatura passa, da meia volta e encosta.

“Posso saber o que senhor faz aqui?” me pergunta o policial.  A despeito da pergunta ser meio óbvia, respondo, “Estou aguardando o ônibus”, ao que ele responde, “ahram, sei! Por favor, documentos!” Entrego meu RG. Ele pega, entrega pra um dos guardas que ficou na viatura e me pergunta o que eu faço da vida. Respondo que trabalho e faço pós graduação. Ele dá uma risada sonora, olha pra um colega dele e diz: “ah, sei. Olha, esse é pós graduado. Deve ser mais um comunista.”

Me revista. Ouve do colega que averiguou minha ficha que ela estava limpa. Devolve meus documentos e diz: “fica esperto piá. Estamos de olho...”

CASO V: Corta pra hoje, dia 20/11. Saí meio em cima da hora pra ir trabalhar. Uns 300 metros de casa, me dou conta que estou sem meus óculos. Dou meia volta pra casa pra busca-lo. Na esquina de casa, um carro branco vem em minha direção, me fecha. Subo na calçada (estou de bicicleta) e paro. Já vou dando um sorriso pensando se tratar de algum conhecido pregando alguma “piada”. Olho e vejo que não conheço o indivíduo. Ele olha pra mim e diz: “feliz dia da consciência negra macaco...”. Enfim, como disse lá no início do texto. É só mais um dia...

Aí, me pergunto: feliz dia da Consciência Negra!, ou feliz dia da Consciência Negra?

Vinte de Novembro. O que tenho a dizer sobre esse dia? Bem, alguns relatos breves, mas, antes, gostaria de dizer que pra mim, a despeito da escravidão ter sido abolida há 130 anos, alguns estigmas ainda permanecem e tenho a impressão de que continuarão por muito, muito tempo...

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obs 1: sobre os casos I, III E IV, existem muitos policiais e vigilantes de estabelecimentos (creio eu que a maioria) que procederiam de outra forma, mas...

Obs 2: sobre II E V, é só o ser humano...

obs 3: acreditem, esses não foram os piores casos...

(texto não revisado. Perdoem os erros gramaticais...)

[RESENHA] Malcolm X: Uma vida de reinvenções, de Manning Marable


"Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos..."


Malcolm X passou para a história como um defensor ferrenho do povo Afro-americano sendo um sujeito muito controverso por conta dos métodos que ele julgava válidos para essa defesa que, contrastavam muito com seu contemporâneo, Mathin Luther King Jr. Enquanto o segundo pregava uma revolução não violenta o primeiro via na violência um meio possível para alcançar um fim. Porém, colocar Malcolm apenas como um ativista violento é reduzir em demasia a vida deste cameleão que nos anos de 1950/60 foi um símbolo pela luta dos direitos da negritude e, mais para o final da vida, também dos direitos humanos.

Nascido em uma família pobre do meio oeste americano, Malcolm Little teve uma infância marcada pela pobreza. Seu pai faleceu quando ela tinha seis anos e, ao que tudo indica, fora assassinado por algum grupo de supremacistas brancos. Desde cedo, Malcolm ficou a par das questões da opressão dos negros norte americanos já que seus pais faziam parte de grupos que lutavam por igualdade entre os indivíduos. Porém, por muito tempo, Malcolm não se interessou de forma ativa pela causa e isso é uma das principais características dele: suas metamorfoses.

Sua vida foi um looping intenso de mudanças que torna toda e qualquer análise retilínea dele um equivoco. Foi, desde um sujeito que só queria "se dar bem" neste mundo, lançando mão de práticas nada "católicas" - foi traficante, cafetão, ladrão..., nesta época era conhecido como Detroid Red - até trabalhou como vendedor ambulante em linhas de trem. Porém, sua vida muda mesmo quando é preso e, na cadeia conhece o culto muçulmano “Nação do Islã”. Como  ministro desta seita, Malcolm projetou uma imagem de um homem habilidoso verbalmente e implacável na busca pelos seus direitos e de seu povo. E para entender suas ideias é importante entender a seita. 

A Nação do Islã é um grupo religioso qfundado por Wallace D. Fard Muhammad em 1930. Sua teologia é, no mínimo, bizarra: Fard pregava que o homem branco surgiu através de técnicas de disgenia criadas pelo cientista Yacub. Este perdera o controle de sua criação pois os brancos, segundo a Nação, seriam os próprios demônios que passaram a escravizar os negros.

Malcolm teve contato com esta seita quando estava preso e logo se sentiu atraído pela ideia pregada por ela de separação total de raças diferentemente do que pregavam a maioria dos ativistas pelos direitos dos negros a época – mais notadamente o pastor batista Martin Luther King Jr. (esta “rivalidade” entre ambos seria usada para compor as características de dois personagens muito famosos de HQs: Magneto e Professor X). Quando sai da cadeia Malcolm Little passa a ser denominado de Malcolm X e se torna o grande porta voz da seita sendo o principal responsável por sua disseminação.

Muito eloquente, Malcolm costumava chamar atenção por seus discursos inflamados onde conclamava os negros a não se curvarem diante da opressão. Pelo contrário, se fosse preciso realizar uma resistência violenta, armada, que assim fosse (muito de suas ideias acabaram por inspirar m outro grupo, "Os Panteras Negras"). Essa defesa da violência como meio de conseguir seus espaço na sociedade, ecoou nos ouvidos e mentes de muitos negros, principalmente pobres, que estavam cansados do racismo e viram em Malcolm e na Nação um caminho a se seguir e uma valorização de seu povo. É até interessante notar que na defesa da separação das raças, Malcolm e a Nação chegaram a simpatizar com a Klu Klux Kan por ambos defenderem a não miscigenação.

Devido a problemas internos com  o líder da seita Elijah Muhammad e seus filhos, Malcolm acaba expulso da seita e nos anos que antecederam seu assassinato, passa a enxergar que é possível uma convivência harmônica entre indivíduos de cor de pele diferente. Porém, os desafetos que Malcolm já havia conseguido dentro da Nação do Islã (membros da nação atearam fogo na casa de Malcolm quando este fez denuncias sobre os casos extraconjugais de Elijah, por exemplo) o impediram de continuar sua caminhada em uma vivência mais harmônica com seres de todos os povos.

“Malcolm X: Uma vida de reinvenções” é um livro que aborda a vida de Malcolm como um todo. Desde seu casamento claudicante (com suspeitas de traição por ambas as partes); as investigações de seus passos pelo FBI e até suas contradições – como se aliar a Klu Klux Klan, entidade que lutou e muito para tornar pior a vida dos negros. Este é um livro que  lança luz sobre  vida de um homem que de forma torta porém implacável lutou para ter o sonho de ver a povo  negro não sendo mais discriminado e violentado por questão referente a sua cor.   



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Malcolm X: Uma vida de reinvenções. (Malcolm X: A life of reinvention, EUA, 2011)
Páginas: 648
Autor:  Manning Marable
Editora: Companhia das Letras
Comprar: AMAZON

[Top10] As Melhores Leituras de 2018



Pois é pessoal. 2018 foi-se embora e cá estamos nós. Inicio de ano é sempre aquele negócio de fazer planos e promessas (muitas a gente sabe que não vai conseguir mas mesmo assim... ahaha) sempre com a expectativa de um ano melhor. E como de praxe nos últimos dois anos, vos apresento aquelas que foram minhas leituras preferidas.

Antes, devo confessar que este ano li  bem menos do que gostaria, porém mais do que achava que faria. Em alguns momentos fiquei com uma ressaca literária daquelas. Sendo assim, li vinte e três livros – três a menos que o ano anterior, =(. Mas, como  nem sempre quantidade é o que vale, tive leituras muito boas e algumas surpresas interessantes. 

Ok, chega de lero lero e vamos ao meu top 10. Vale ressaltar que não são livros lançados em 2018 esim aqueles que li este ano...


10 - O Medalhão de Ísis
C.S. Camargo
Brasil, 2016

Guerra, fé e magia. O Medalhão de Ísis é o primeiro livro de uma trilogia ambientada no Oriente Médio do século IV que narra a disputa de três reinos da Arábia por um antigo artefato divino. O leitor será levado a viver uma aventura fantástica através das belíssimas paisagens egípcias e a desvendar os mistérios de antigas criaturas do folclore árabe. Vale ressaltar que este livro é de uma autora tupiniquim. Merece o décimo lugar (RESENHA COMPLETA AQUI )


09 - O Colecionador
John Fowles
Reino Unido, 1963

O Colecionador” é o primeiro livro de John Fowles, escrito em 1963. O romance narra a história de Frederick Clegg, um funcionário público que coleciona borboletas e, subitamente, se torna dono de uma fortuna. Ele então passa a ter uma ambição: seqüestrar a bela Miranda, seu amor platônico. A trama se desenvolve com a disformidade da personalidade de Clegg, que tem a seu favor apenas a superioridade de força, contra a vitalidade e inteligência de Miranda que, contando com sua superioridade de caráter, confunde e ofusca o medíocre seqüestrador. RESENHA COMPLETA AQUI



08 - Belas Maldições: as belas e precisas profecias de Agnes Nutter
Neil Gaiman e Terry Pratchett
Reino Unido, 1990


Segundo as Belas e Precisas Profecias de Agnes Nutter, o mundo vai acabar num sábado. No próximo sábado, e ainda por cima antes do jantar. O que é um grande problema para Crowley, o demônio mais acessível do Inferno e ex-serpente, e sua contraparte e velho amigo Aziraphale, anjo genuíno e dono de uma livraria em Londres. Eles gostam daqui de baixo ou, no caso de Crowley, daqui de cima. Portanto, eles não têm outra alternativa senão encontrar e matar o Anticristo, a mais poderosa criatura do planeta. RESENHA COMPLETA AQUI



07 - O Tribunal das Almas
Donato Carrisi
Itália, 2011


Em O tribunal das almas, Donato Carrisi mostra novamente seu talento e o porquê do sucesso de seu thriller anterior, O aliciador. Conciliando um enredo repleto de reviravoltas e personagens complexos, Carrisi aborda os mais obscuros recônditos da psique humana. Markus, um investigador com amnésia, está a procura de uma garota desaparecida e conforme avança em suas investigações, descobre que pode estar atrás de um serial killer que há muito especulam se ele realmente existe. Um livro com um final que vai bugar sua mente... RESENHA COMPLETA AQUI

06 - Os Filhos de Anansi
Neil Gaiman
EUA, 2005

Charlie Nancy tem uma vida pacata e um emprego entediante em Londres. A pedido da noiva, ele concorda em convidar o pai para seu casamento e fazer uma tentativa de reaproximação, já que há vinte anos os dois não se falam. Enquanto isso, no palco de um karaokê na Flórida, o pai de Charlie tem um ataque cardíaco fulminante. A viagem de Charlie até os Estados Unidos para o funeral acaba se tornando a jornada de uma nova vida. Charlie não tinha ideia de que o pai era um deus. Menos ainda de que ele próprio tinha um irmão. Agora sua vida vai ficar mais interessante... e bem mais perigosa. Embrenhando-se no território de lendas e deuses pagãos, a poderosa narrativa de Neil Gaiman leva o leitor a mergulhar nessa história fantástica e bem-humorada sobre relações familiares, profecias terríveis, divindades vingativas e aves muito malignas. RESENHA COMPLETA AQUI     

05 - As Últimas Testemunhas
Svetlana Aleksiévitch
Rússia, 2016

A 22 de junho de 1941, a Alemanha nazi invade a União Soviética, quebrando o pacto de não-agressão celebrado entre as duas nações e dando início ao que ficaria conhecido do lado russo como a Grande Guerra Patriótica. No final do conflito, em 1945, tinham morrido cerca de três milhões de crianças e, só na Bielorrússia, vinte e sete mil viviam em orfanatos. Os relatos destes órfãos foram recolhidos, passados mais de quarenta anos, por Svetlana Alexievich. O resultado é uma visão única da guerra, testemunhada pelas crianças e não por soldados, políticos ou historiadores — os narradores mais sinceros e, simultaneamente, mais injustiçados. Uma obra importante, composta por relatos impressionantes, profundamente comovedores e autênticos, em que o conflito e a tragédia se transformam em acontecimento pessoal, em fascinante e pungente memorial vivo de guerra. RESENHA COMPLETA AQUI

04 - 2001: Uma Odisseia No Espaço 
Arthur C. Clarke
Reino Unido, 1968


No alvorecer da humanidade, a fome e os predadores já ameaçavam de extinção a incipiente espécie humana. Até que a chegada de um objeto impossível, além da compreensão das mentes limitadas do homem pré-histórico, prenunciasse o caminho da evolução. Milhões de anos depois, a descoberta de um enigmático monolito soterrado na Lua deixa os cientistas perplexos. Para investigar esse mistério, a Terra envia para o espaço uma nave tripulada por uma equipe altamente treinada, assistida por um computador autoconsciente. Do passado distante ao ano de 2001, da África a Júpiter, dos homens-macacos à inteligência artificial HAL 9000... RESENHA COMPLETA AQUI

03 - Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano
John Douglas e Mark Olshaker
EUA, 2017

Durante as mais de duas décadas em que atuou no FBI, o agente especial John Douglas tornou-se uma figura lendária. Em uma época em que a expressão serial killer, assassino em série, nem existia, Douglas foi um oficial exemplar na aplicação da lei e na perseguição aos mais conhecidos e sádicos homicidas de nosso tempo. Como Jack Crawford em O Silêncio dos Inocentes, Douglas confrontou, entrevistou e estudou dezenas de serial killers e assassinos, incluindo Charles Manson, Ted Bundy e Ed Gein. Com uma habilidade fantástica de se colocar no lugar tanto da vítima quando no do criminoso, Douglas analisa cada cena de crime, revivendo as ações de um e de outro, definindo seus perfis, descrevendo seus hábitos e, sobretudo, prevendo seus próximos passos. Com a força de um thriller, ainda que terrivelmente verdadeiro, Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano é um fascinante relato da vida de um agente especial do FBI e da mente dos mais perturbados assassinos em série que ele perseguiu. RESENHA COMPLETA AQUI

02 - Laranja Mecânica
Anthony Burgees
Reino Unido, 1962

Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma reposta igualmente agressiva de um governo totalitário. A estranha linguagem utilizada por Alex - soberbamente engendrada pelo autor - empresta uma dimensão quase lírica ao texto. Ao lado de "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, "Laranja Mecânica" é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX. Adaptado com maestria para o cinema em 1972 por Stanley Kubrick, é uma obra marcante: depois da sua leitura, você jamais será o mesmo. RESENHA COMPLETA AQUI

01 - A Revolução dos Bichos
George Orwell
Reino Unido, 1945

Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século 20, 'A Revolução dos Bichos' é uma fábula sobre o poder. Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stalin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética. Com o acirramento da Guerra Fria, a obra passou a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell repetiria o mesmo gesto anos mais tarde com seu outro romance 1984, finalizado-o às pressas à beira da morte para que o mesmo service de alerta ao ocidente sobre o horrores do totalitarismo comunista. RESENHA COMPLETA AQUI

Estes foram os melhores livros que li em 2018. Espero que 2019 traga boas leituras também. Até a próxima... 

Quanto Vale? | ou, O Rio A Barragem e A Lama II



Quanto a vida vale?
Pra muitos tudo
Pra outros nada...
Mas, pra Vale, quanto vale?

Dois mil e quinze, Mariana!
Será que a Vale nota
Que não é ela que clama
Pra ter sua vida de volta?

Quanto vale A Vale?
Vale de lucros, vale de lágrimas
Isso a gente sabe!
Será essa nossa sina, nossa chaga?

Ahh Vale, acidente?
O povo de Ferteco
Pensa diferente.
Vivendo agora em total disperco.

Nossa terra de gente forte e sofrida
Acreditou no mito: Marina nunca mais
Mas, Vale, não sei se você acredita
Que Fundão foi a 3 anos atrás

Quanto vale a vida pra Vale?
Na Bolsa, ações, a Vale,vale milhares.
Vale de absurdo, Vale de catástrofe
Quando irá destruir outros lugares?

Ferro, exportação:
Riqueza é garantia.
A vida do povão
Essa, vira só estatística.

No Japão a bomba
Trouxe a paz
No Brasil, Mariana,
Tanto faz!

Brumadinho só repetiu
Aquilo que a gente já viu
Pois, pra Vale, aqui no Brasil
O povo que vá pra puta que o pariu.

Se lá em Mariana, o cãozinho assustado
Atacava quando resgatado
Aqui, foi o gato quase soterrado
Teve de ser sacrificado

Quanto vale a vida?
Sim, já vimos isso antes
E esperar diferente
E pura fantasia.

Agora nos resta aguardar
Que a vida se recupere
Pois não espere
Que a Vale vá mudar.

Por isso, pergunto?
Será que alguém sabe
Se nesse vale imundo, pra Vale
A vida alguma coisa vale?

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Para ler "O Rio a Barragem e A Lama I", é só clicar aqui 

[RESENHA] Mein Kampf, de Adolf Hitler | ou, pra que ler isto?

 "Acabei de ler o livro de Hitler com um entusiasmo cada vez maior. Quem é este homem? Um meio-plebeu, um semideus? Cristo ou apenas João [Baptista]? - Goebells, Ministro da Propaganda Nazista"



Escrito enquanto Adolf Hitler estava na prisão de Landsberg  pelo seu fracassado golpe de estado, Mein Kampf é um livro que gera repulsa imediata em muitas pessoas e uma certa idolatria em algumas outras.  Como o próprio führer admitiria mais tarde, era pouco provável que o livro fosse  – e seja! – esse sucesso editorial. Nesta autobiografia, Hitler mescla passagens de sua vida com fatos históricos e destila um sem fim de corolários racistas, antissemitas e delírios de grandeza de uma raça superior. Se fosse só mais um livro, provavelmente, os poucos exemplares vendidos estariam jogados em poucas prateleiras empoeiradas. Porém, tal obra foi o modelo a ser seguido por um governo que aterrorizou  o mundo sendo responsável por mais de 6 milhões de mortes...  

Aí, você que leu o parágrafo acima se pergunta: se o livro traz, a primeira vista, somente aspectos negativos, porque lê-lo?  Antes de entrarmos neste ponto vamos falar sobre o livro em si...

Podemos dividir o livro em duas partes. Na primeira, Adolf Hitler narra sua trajetória de vida até ali e vai nos informando como foi que se tornou, dentre outras coisas, um nacionalista ferrenho e um antissemita em tempo integral. Nascido na Áustria, o menino Adolf sonhava em ser pintor contrariando a vontade do pai que desejava ver o filho como funcionário público. Quando seu pai morre, Hitler da asas a imaginação e se joga de cabeça na ideia de ser artista. Não dá certo, infelizmente. Nesta primeira parte, o autor já vai deixando latente suas ideias de superioridade de raça e antissemitismo. Na segunda parte, Hitler discorre sobre como vê o mundo e elenca os passos para, segundo ele, a Alemanha voltar ao pódio do palco mundial. É principalmente nesta parte que Adolf diz, clara e objetivamente, tudo o que viria a fazer no futuro. Holocausto, tirania, guerra, raça superior.., estava tudo lá...

"A serenidade no olhar de quem matará milhões..." 

Confesso que tive imensa dificuldade para terminar este livro. E não foi pelo seu conteúdo em si. Já tive a oportunidade de ler e assistir bastante coisa sobre este período sombrio da humanidade, então, seu conteúdo, apesar de asqueroso, não  me era estranho. O que tornaram as horas em frente ao livro verdadeiros exercícios de paciência foi sua escrita. O livro é confuso, por vezes contraditório, atolado de deduções pseudocientíficas a fatos pseudohistóricos. Apesar de não ser nenhum idiota, ou justamente por isso, Hitler sabia que o momento da Alemanha era frágil e por isso, receptivo a ideias malucas. E, para entendermos isso, precisamos voltar um pouco na história.

Ao final da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha saiu derrotada. Teve de pagar uma multa pesada aos países vencedores, perdera extensões territoriais, e ainda ficara praticamente impedida de recriar suas forças armadas. Somado a isso,  a dificuldade de reconstrução deixou a Alemanha enterrada em uma inflação que passava dos 1000%. Pra muitos estudiosos, uma economia em frangalhos que ocasiona o sofrimento do povo é terreno fértil para que ideias insanas tomem forma e dominem as cabeças das pessoas. E se grande parte da culpa for atribuída a alguém - de preferência, a um inimigo imaginário - melhor ainda. Foi neste cenário que Hitler escrevia seus apontamentos... 

(E Hitler soube como poucos explorar este conceito. Dono de uma retórica incrível, ele sabia que para convencer as massas, tinha que tocar o coração. Não precisava usar termos técnicos e números para justificar isso ou aquilo. Era preciso criar sensações. Trazer aquele sentimento de pertencimento a causa mostrando que só há um caminho correto...) 

Quando ele começa a restabelecer a economia e, principalmente o moral do povo alemão, muitos o viam como alguém quase divino. Um mito. Talvez até a reencarnação do próprio Otto Von Bismarck. Pra explicar o que Hitler conseguiu fazer com a nação alemã antes da guerra , deixo você com um comercial feito pelo publicitário brasileiro Washington Olivietto a pedido do jornal A Folha de São Paulo:


Alguns pesquisadores retrocedem ainda mais para tentar explicar porque Hitler fez o que fez. Richard Evans, autor da "Trilogia História do Terceiro Reich", argumenta que esse nacionalismo assoberbado recheado com racismo vem desde a época posterior ao que seria conhecido como Segundo Reich. Termos famosos usados pelo nazismo como a Supremacia Ariana, a saudação Heil e Antissemitismo foram cunhados nesta época - aliás, a suástica também passa a ser usada como símbolo da supremacia da raça ariana por esses tempos...

No livro, Hitler usa deturpações das teorias de Darwin para justificar o extermínio dos que ele considera menos aptos através de um darwinismo racial evitando assim a "contaminação" do sangue alemão. Esta ideia, também vem de antes da Primeira Guerra. Vale ressaltar que a Alemanha não estava sozinha nesta ideologia. Muitos países como Estados Unidos, tiveram seus exemplos de defensores desta loucura. Até Winston Churcill defendia algo parecido. Claro, nenhum foi tão longe como O Terceiro Reich...

Hitler se mostra particularmente contra o socialismo marxista, liberalismo e democracia. Acreditava que uma nação que dependesse da imensa maioria para escolher os caminhos a serem seguidos sucumbiria. O ideal seria um líder corajoso e forte o suficiente para livrar o país do "câncer" da miscigenação fazendo o que fosse preciso. Incluindo aí expansão territorial que ele acreditava ser fundamental para a manutenção do império alemão. E como conseguiriam isso: através da "boa e velha guerra"...

E não pense que o ódio de Hitler era destinado somente aos Judeus - apesar de estes forem o que mais sofreram. Todo e qualquer povo que não fosse "ariano" era considerado inferior. Dando destaque para dois grupos específicos: os Eslavos, que compreende os países do leste europeu sobretudo a Russia; e os Franceses que Hitler odiava pela ideia de igualdade, liberdade e fraternidade. E lógico, ser controlada por judeus (na cabeça dele, claro). Apesar disso, o livro fez relativo sucesso na França. Como bem conta no livro Mein Kampf: A História do Livro, de Vitkine Antoine - que narra a trajetória de sucesso, ostracismo e sucesso novamente, bem como a repercussão que a autobiografia do fürher teve ao redor do mundo. Sabendo que os franceses não ficariam muito felizes com o conteúdo do livro, a editora que publicou a primeira versão da obra pelas terras de Napoleão omitiu as passagens que mencionavam o ódio que Hitler sentia da frança... (aliás, caso se aventure a ler Mein Kampf, sugiro que leia logo em seguida a obra de Vitkine Antoine...)
"Hitler ensaiando poses para seus famosos discursos" FOTO: Heinrich Hoffmann  
Ta ok! O livro é um aglomerado de bobagens cruéis/hediondas e seu autor promete, caso chegue ao poder, dobrar o mundo aos seus pés. Como as outras nações ficaram sentadas esperando que isso acontecesse? Pois bem, é complicado. O mundo havia saído de uma guerra que havia sido muito cruel e a maioria das nações não queria um novo conflito. Além disso, muitos (MUITOS) não acreditavam que Hitler faria mesmo o que fez. Acreditavam que quando chegasse ao poder isso ficaria só na conversa (ti lembra alguma coisa???). Um dos poucos a notar o verdadeiro perigo que Hitler representava era Winston Churchill (sim, ele mesmo). Mas quando realmente foram prestar atenção ao que ele falava/fazia, já era um pouco tarde e o resto, bem, você sabe no que deu: Auschwitz, Dachau, Treblinka... 
"O novo alcorão do fanatismo e da guerra, enfático, palavroso, grosseiro, mas com uma mensagem pujante. - Winston Churchill"
Um livro difícil de ler, confuso, atolado de mentiras, meias verdades, racismo, xenofobia e toda sorte de crueldade que você lembrar ou puder imaginar. Mas também revela um homem inteligente que soube como poucos o valor da propaganda para dominar as massas, de como um inimigo comum juntamente com um sentimento de superioridade são o elixir pra deixar um povo embasbacado e cego para todo o resto.

Ler Mein Kampf hoje, mais de cem anos após sua publicação trouxe controvérsia. Em 2015 quando o livro cai em domínio público, muito se debateu se as editoras deveriam ou não publicá-lo. Para muitos seria um manual que poderia induzir muitos há um pensamento perigoso. Para outros, ler deveria ser um dever de todos pois não há melhor propaganda contra este tipo de ideia do que o próprio livro. Eu fico com o segundo grupo. 

Este emaranhado de bobagens que não passa pelo crivo de uma mente mediana só convence quem já esta propenso a acreditar. Qualquer uma que raciocine um pouco percebe que os devaneios de um louco nunca serão um meio aceitável de conseguir qualquer coisa. Ao ter acesso a esta obra, você percebe que é preciso estar sempre vigilante. Não podemos nos deixar levar por um carisma fácil e respostas simples. Demonizar o outro não mostra que somos melhores, pelo contrário! Aí está MeinKampf como exemplo máximo disso...    


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Mein Kampf ( Mein Kampf, Alemanha, 1925)
Páginas: 510
Autor:  Adolf Hitler
Editora: Centauro
Comprar: Estante Virtual, Mercado Livre.

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Fontes:
Churchill. Uma Vida - Vol. 1

Mein Kampf: A História do Livro

A Chegada do Terceiro Reich